Quaresma de São Miguel Arcanjo 2023 - Meditações Diárias


Oferta penitencial de um texto, ou um podcast, ou um vídeo por dia - durante a Quaresma de São Miguel Arcanjo de 2023 - para um momento de meditação a ser realizado após as orações próprias do período.  Material não autoral. 



"São Miguel Arcanjo, combatei e rogai por nós"
 Pela Igreja Militante

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40º. dia, 29 de Setembro - Festa dos Santos Anjos
Rosário de São Miguel 


"Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
Apressai-vos em me socorrer.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Assim como era no princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. 
Amém."

Primeira saudação
"Saudamos o primeiro coro dos Anjos, pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro celeste dos Serafins, para que o Senhor nos torne dignos de sermos abrasados de uma perfeita caridade. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Segunda saudação
"Saudamos o segundo coro dos Anjos, pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro celeste dos Querubins para que o Senhor nos conceda a graça de fugirmos do pecado e procurarmos a perfeição cristã. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Terceira saudação
"Saudamos o terceiro coro dos Anjos, pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro celeste dos Tronos, para que Deus derrame em nosso coração o espírito de verdadeira e sincera humildade. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Quarta saudação
"Saudamos o quarto coro dos Anjos, pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro celeste das Dominações, para que o Senhor nos conceda a graça de dominar nossos sentidos e de nos corrigir das nossas más paixões. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Quinta saudação
"Saudamos o quinto coro dos Anjos pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro celeste das Potestades, para que o Senhor se digne proteger nossa alma contra as ciladas e as tentações do demônio. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Sexta saudação
"Saudamos o sexto coro dos Anjos pedindo pela intercessão de São Miguel e do coro admirável das Virtudes, para que o Senhor não nos deixe cair em tentação, mas nos livre de todo mal. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Sétima saudação
"Saudamos o sétimo coro dos Anjos, pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro dos Principados, para que o Senhor encha nossa alma do espírito de uma verdadeira e sincera obediência. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Oitava saudação
"Saudamos o oitavo coro dos Anjos, pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro celeste dos Arcanjos, para que o Senhor nos conceda o dom da perseverança na fé e nas boas obras, a fim de que possamos chegar a possuir a glória eterna do paraíso. Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Nona saudação
"Saudamos o nono coro dos Anjos pedindo pela intercessão de São Miguel Arcanjo e do coro celeste de todos os Anjos, para que sejamos guardados por eles nesta vida mortal, para sermos conduzidos por eles à glória eterna do céu. 
Amém."

Um Pai-Nosso, três Ave-Marias e um Glória.

Quatro Pai-Nossos, em honra de cada um dos Arcanjos e do Anjo da Guarda.


Antífona

"Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável guia depois de Cristo, vós cuja excelência e virtude são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei, pela vossa incomparável proteção, que adiantemos cada dia mais na fidelidade e perseverança em servir a Deus.

Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo.
Para que sejamos dignos de suas promessas."

Oremos: Deus todo-poderoso e eterno, que, por um prodígio de bondade e misericórdia, para a salvação dos homens escolhestes como príncipe de vossa Igreja o gloriosíssimo São Miguel Arcanjo, tornai-nos dignos, nós Vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que, na hora de nossa morte, nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado sermos introduzidos por ele na presença da vossa poderosa e augusta majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor. Amém."



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39º. dia, 28 de Setembro - Tríduo de São Miguel Arcanjo
3º. Dia

"Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
Como era no princípio, agora e sempre.
Amém."

"São Miguel, compadecei-vos de nós em meio a tantos perigos e ajudai-nos nos combates desta vida. Livrai-nos do inferno e dai que possamos viver a bem-aventurança eterna no céu."

Pai Nosso; Ave Maria; Glória.

Ladainha de São Miguel

"Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, ouvi-nos.
Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do Mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Trindade Santa, que sois um único Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, rogai por nós.
São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.
São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino, rogai por nós.
São Miguel, coroado de honra e de glória, rogai por nós.
São Miguel, poderosíssimo príncipe dos exércitos do Senhor, rogai por nós.
São Miguel, porta-estandarte da Santíssima Trindade, rogai por nós.
São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.
São Miguel, guia e consolador do povo israelita, rogai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, rogai por nós.
São Miguel, luz dos anjos, rogai por nós.
São Miguel, baluarte dos cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo estandarte da cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.
São Miguel, nosso auxílio em todas as adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna, rogai por nós.
São Miguel, consolador das almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber as almas depois da morte, rogai por nós.
São Miguel, nosso príncipe, rogai por nós.
São Miguel, nosso advogado, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, atendei-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.

V. Rogai por nós, ó glorioso São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo,
R. Para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oremos
Senhor Jesus, santificai-nos, por uma bênção sempre nova e concedei-nos, pela intercessão de São Miguel, esta sabedoria que nos ensina a ajuntar riquezas do céu e a trocar os bens do tempo pelos da eternidade. Vós que viveis e reinais em todos os séculos dos séculos.
R. Amém."

"Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável guia depois de Cristo; vós, cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção, que adiantemos cada dia mais na fidelidade em servir a Deus.

V. Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo.
R. Para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oremos
Deus, todo poderoso e eterno, que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens, escolhestes para príncipe de Vossa Igreja o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da Vossa poderosa e augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
R. Amém."


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38º. dia, 27 de Setembro - Tríduo de São Miguel Arcanjo
2º. Dia

"Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
Como era no princípio, agora e sempre.
Amém."

"São Miguel, vós a quem o Senhor confiou a guarda da Igreja, dignai-vos ouvir nossas preces em seu favor. Guardai-a do espírito de soberba de seus filhos, das falsas doutrinas, do desamor ao seu chefe visível. Reuni as ovelhas desgarradas e apressai a hora da unidade de todos os seus filhos."

Pai Nosso; Ave Maria; Glória.

Ladainha de São Miguel

"Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, ouvi-nos.
Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do Mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Trindade Santa, que sois um único Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, rogai por nós.
São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.
São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino, rogai por nós.
São Miguel, coroado de honra e de glória, rogai por nós.
São Miguel, poderosíssimo príncipe dos exércitos do Senhor, rogai por nós.
São Miguel, porta-estandarte da Santíssima Trindade, rogai por nós.
São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.
São Miguel, guia e consolador do povo israelita, rogai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, rogai por nós.
São Miguel, luz dos anjos, rogai por nós.
São Miguel, baluarte dos cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo estandarte da cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.
São Miguel, nosso auxílio em todas as adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna, rogai por nós.
São Miguel, consolador das almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber as almas depois da morte, rogai por nós.
São Miguel, nosso príncipe, rogai por nós.
São Miguel, nosso advogado, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, atendei-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.

V. Rogai por nós, ó glorioso São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo,
R. Para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oremos
Senhor Jesus, santificai-nos, por uma bênção sempre nova e concedei-nos, pela intercessão de São Miguel, esta sabedoria que nos ensina a ajuntar riquezas do céu e a trocar os bens do tempo pelos da eternidade. Vós que viveis e reinais em todos os séculos dos séculos.
R. Amém."

"Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável guia depois de Cristo; vós, cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção, que adiantemos cada dia mais na fidelidade em servir a Deus.

V. Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo.
R. Para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oremos
Deus, todo poderoso e eterno, que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens, escolhestes para príncipe de Vossa Igreja o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da Vossa poderosa e augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
R. Amém."
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37º. dia, 25 de Setembro - Tríduo de São Miguel Arcanjo
1º. Dia

"Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo
Como era no princípio, agora e sempre.
Amém."

"São Miguel, vós que defendestes a honra do Senhor empunhando o estandarte divino e exclamando: "Quem é como Deus?", alcançai-nos zelo ardente, fé inabalável para que saibamos como vós combater todos os males e conquistar a salvação."

Pai Nosso; Ave Maria; Glória.

Ladainha de São Miguel

"Senhor, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.

Cristo, ouvi-nos.
Cristo, atendei-nos.
Pai Celeste, que sois Deus, tende piedade de nós.
Filho, Redentor do Mundo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Espírito Santo, que sois Deus, tende piedade de nós.
Trindade Santa, que sois um único Deus, tende piedade de nós.
Santa Maria, Rainha dos Anjos, rogai por nós.
São Miguel, rogai por nós.
São Miguel, cheio da graça de Deus, rogai por nós.
São Miguel, perfeito adorador do Verbo Divino, rogai por nós.
São Miguel, coroado de honra e de glória, rogai por nós.
São Miguel, poderosíssimo príncipe dos exércitos do Senhor, rogai por nós.
São Miguel, porta-estandarte da Santíssima Trindade, rogai por nós.
São Miguel, guardião do Paraíso, rogai por nós.
São Miguel, guia e consolador do povo israelita, rogai por nós.
São Miguel, esplendor e fortaleza da Igreja militante, rogai por nós.
São Miguel, honra e alegria da Igreja triunfante, rogai por nós.
São Miguel, luz dos anjos, rogai por nós.
São Miguel, baluarte dos cristãos, rogai por nós.
São Miguel, força daqueles que combatem pelo estandarte da cruz, rogai por nós.
São Miguel, luz e confiança das almas no último momento da vida, rogai por nós.
São Miguel, socorro muito certo, rogai por nós.
São Miguel, nosso auxílio em todas as adversidades, rogai por nós.
São Miguel, arauto da sentença eterna, rogai por nós.
São Miguel, consolador das almas que estão no Purgatório, rogai por nós.
São Miguel, a quem o Senhor incumbiu de receber as almas depois da morte, rogai por nós.
São Miguel, nosso príncipe, rogai por nós.
São Miguel, nosso advogado, rogai por nós.

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, atendei-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós.

V. Rogai por nós, ó glorioso São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo,
R. Para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oremos
Senhor Jesus, santificai-nos, por uma bênção sempre nova e concedei-nos, pela intercessão de São Miguel, esta sabedoria que nos ensina a ajuntar riquezas do céu e a trocar os bens do tempo pelos da eternidade. Vós que viveis e reinais em todos os séculos dos séculos.
R. Amém."

"Gloriosíssimo São Miguel, chefe e príncipe dos exércitos celestes, fiel guardião das almas, vencedor dos espíritos rebeldes, amado da casa de Deus, nosso admirável guia depois de Cristo; vós, cuja excelência e virtudes são eminentíssimas, dignai-vos livrar-nos de todos os males, nós todos que recorremos a vós com confiança, e fazei pela vossa incomparável proteção, que adiantemos cada dia mais na fidelidade em servir a Deus.

V. Rogai por nós, ó bem-aventurado São Miguel, príncipe da Igreja de Cristo.
R. Para que sejamos dignos de Suas promessas.

Oremos
Deus, todo poderoso e eterno, que por um prodígio de bondade e misericórdia para a salvação dos homens, escolhestes para príncipe de Vossa Igreja o gloriosíssimo Arcanjo São Miguel, tornai-nos dignos, nós vo-lo pedimos, de sermos preservados de todos os nossos inimigos, a fim de que na hora da nossa morte nenhum deles nos possa inquietar, mas que nos seja dado de sermos introduzidos por ele na presença da Vossa poderosa e augusta Majestade, pelos merecimentos de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
R. Amém."

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36º. dia, 24 de Setembro - Meditações sobre a arte de sofrer com fé, 
amor e paciência - 2ª. Parte
por Pe. Francisco Faus


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35º. dia, 23 de Setembro - Meditações sobre a arte de sofrer com fé, 
amor e paciência - 1ª. Parte
por Pe. Francisco Faus


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34º. dia, 22 de Setembro - Remédio espiritual e corporal,
por Dom Eugênio Araújo Sales


Toda criatura humana, pressionada pelo sofrimento, procura espontaneamente um alívio, um remédio na doença, a cura. Essa reação natural não exime do dever de avaliar, à luz da Fé, a natureza dos recursos empregados. Igualmente alguém diante do martírio não pode, para salvar a sua vida, abjurar sua crença. Isso porque os valores que servem de base ao nosso julgamento são transcendentais à existência atual, que é transitória. Para nós, o Bem Supremo é outro e a Ele se deve submeter tudo mais.

Buscamos – e temos o direito de fazê-lo – tudo que for válido, moralmente bom ou indiferente, para a preservação de nossa saúde. Entretanto, temos o dever de não privar um irmão do bem espiritual por conta de um risco secundário que possa suceder.

Em caso de enfermidades recorremos a todos os meios eficazes e não contrários a nossos princípios. Assim o fazemos normalmente, levados pelo instinto de conservação.

Dentro dessas considerações, não se compreende a relutância em apelar para a Unção dos Enfermos, deixando-a, talvez, para os últimos momentos. Diante dos que sofrem, brotam no coração do homem sentimentos de compaixão, impulsos para ajudá-lo. Da parte da Igreja, há recomendações especiais, feitas aos pastores.

O sofrimento é a identificação com a fecundidade que promana do Sacrifício da Cruz. Completa em nós o que falta à Paixão de Jesus, na expressão de S. Paulo, na Carta aos Colossenses (1,24): “Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo, na minha carne, o que faltar das tribulações de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja”. Além dessa perspectiva, mantém-se a luta contra a dor e, ao mesmo tempo, compreende-se sua função de alerta para as causas, pois é efeito de algo que não caminha bem

Ela se enriquece sobrenaturalmente pela maior união a Cristo padecente. Quando indica a aproximação da morte, torna-se um vestíbulo de onde nos preparamos para sermos recebidos pelo Pai. Na visão cristã, a existência não nos é tirada, mas transformada na verdadeira vida.

O Senhor nos acompanha com a sua graça em todos os dias de nosso peregrinar. Os Sacramentos são sinal dessa benevolência para conosco. Ao nascer, o Batismo; ao crescer, a Confirmação, e quando doentes, precisamos da ajuda material e espiritual, o bálsamo da Santa Unção.

Quanto a este último, que era chamado de Extrema Unção, foi identificado, na mentalidade de muitos, como sinônimo da morte inevitável ou iminente. O Concílio Vaticano II, na Constituição “Sacrossantum Concilium” (nº 73) propõe nova perspectiva. Afirma que “também e melhor pode ser chamada Unção dos Enfermos”. E logo adiante: “o tempo oportuno para receber a Unção dos Enfermos é certamente o momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo de doença ou de idade avançada”. 

Infelizmente, esse instrumento da bondade divina ainda se relaciona com a proximidade do falecimento, na concepção de muitos cristãos. Esquecem-se que até a idade avançada já é credora da administração desse Sacramento.

Outro lado, talvez desconhecido para os menos versados nesse assunto, é o seu caráter nitidamente medicinal. Muitos o julgam como uma preparação ao chamado de Deus, uma ante-sala da Casa do Pai. Certamente o é. Há, todavia, outro objetivo. Diz o Concílio na Constituição “Lumen Gentium” (nº 11): “pela Sagrada Unção dos Enfermos e pelas orações dos presbíteros, a Igreja toda entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado para que os alivie e salve”.

A justa e intensa busca dos meios humanos para curar, faz esquecer essa oportunidade que o Senhor nos oferece. Nesse momento, poderá também surgir como um valioso remédio para o corpo, cujo benéfico efeito muitos já constataram. A bênção do óleo com essa finalidade suplica “para todos que com ele foram ungidos, proteção do corpo, da alma e do espírito, libertando-os de toda dor, toda fraqueza e enfermidades”.

A fórmula sacramental inclui: “Ele te salve e te alivie os teus sofrimentos” e, na prece que se segue, pede-se plena saúde, a fim de que restabelecido “possa retomar as suas atividades”. Eis o verdadeiro sentido e o extraordinário poder curador da Unção dos Enfermos.

Procura-se freneticamente a medicina e até outros recursos; luta-se com sacrifício para proporcionar alívio e recuperação da saúde, mas nem sempre se utiliza esse veículo da misericórdia divina. Caminha-se ao largo, quando ao alcance da mão está a força do Onipotente. Teme-se afligir os parentes ou angustiar o enfermo, e, assim, perde-se um remédio salutar, que deve ser ministrado em tempo oportuno. 

Peca-se por não se cumprir um dever. Outras vezes, espera-se pelos últimos momentos, quando a consciência do paciente já desapareceu. Com isso, registra-se uma dupla perda: o efeito sobre o corpo só poderá advir por milagre, foge da ordem habitual da Providência; a recepção frutuosa desse Sacramento, sua principal e primária finalidade, ficou, em parte, esvaziada.

A vida temporal passa, mas a verdadeira é eterna. Devemos empregar os meios a nosso dispor para uma adequada preparação à existência definitiva. Assim, cantaremos vitória sobre a morte que se transforma em sinônimo de um lugar na Casa do Pai.


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33º. dia, 21 de Setembro - Excerto da Spe Salvi sobre Santa Bakhita,
por Bento XVI


"[...] Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança. A nós, que desde sempre convivemos com o conceito cristão de Deus e a ele nos habituamos, a posse duma tal esperança que provém do encontro real com este Deus quase nos passa despercebida. 

O exemplo de uma santa da nossa época pode, de certo modo, ajudar-nos a entender o que significa encontrar pela primeira vez e realmente este Deus. Refiro-me a Josefina Bakhita, uma africana canonizada pelo Papa João Paulo II. Nascera por volta de 1869 – ela mesma não sabia a data precisa – no Darfur, Sudão. Aos nove anos de idade foi raptada pelos traficantes de escravos, espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos mercados do Sudão. Por último, acabou escrava ao serviço da mãe e da esposa de um general, onde era diariamente seviciada até ao sangue; resultado disso mesmo foram as 144 cicatrizes que lhe ficaram para toda a vida. 

Finalmente, em 1882, foi comprada por um comerciante italiano para o cônsul Callisto Legnani que, ante a avançada dos mahdistas, voltou para a Itália. Aqui, depois de «patrões» tão terríveis que a tiveram como sua propriedade até agora, Bakhita acabou por conhecer um «patrão» totalmente diferente – no dialeto veneziano que agora tinha aprendido, chamava «paron» ao Deus vivo, ao Deus de Jesus Cristo. 

Até então só tinha conhecido patrões que a desprezavam e maltratavam ou, na melhor das hipóteses, a consideravam uma escrava útil. Mas agora ouvia dizer que existe um «paron» acima de todos os patrões, o Senhor de todos os senhores, e que este Senhor é bom, a bondade em pessoa. Soube que este Senhor também a conhecia, tinha-a criado; mais ainda, amava-a. 

Também ela era amada, e precisamente pelo «Paron» supremo, diante do qual todos os outros patrões não passam de miseráveis servos. Ela era conhecida, amada e esperada; mais ainda, este Patrão tinha enfrentado pessoalmente o destino de ser flagelado e agora estava à espera dela «à direita de Deus Pai». Agora ela tinha «esperança»; já não aquela pequena esperança de achar patrões menos cruéis, mas a grande esperança: "Eu sou definitivamente amada e aconteça o que acontecer, eu sou esperada por este Amor. Assim a minha vida é boa"

Mediante o conhecimento desta esperança, ela estava «redimida», já não se sentia escrava, mas uma livre filha de Deus. Entendia aquilo que Paulo queria dizer quando lembrava aos Efésios que, antes, estavam sem esperança e sem Deus no mundo: sem esperança porque sem Deus. Por isso, quando quiseram levá-la de novo para o Sudão, Bakhita negou-se; não estava disposta a deixar-se separar novamente do seu «Paron». 

A 9 de Janeiro de 1890, foi batizada e crismada e recebeu a Sagrada Comunhão das mãos do Patriarca de Veneza. A 8 de Dezembro de 1896, em Verona, pronunciou os votos na Congregação das Irmãs Canossianas e desde então, a par dos serviços na sacristia e na portaria do convento, em várias viagens pela Itália procurou sobretudo incitar à missão: a libertação recebida através do encontro com o Deus de Jesus Cristo, sentia que devia estendê-la, tinha de ser dada também a outros, ao maior número possível de pessoas. A esperança, que nascera para ela e a «redimira», não podia guardá-la para si; esta esperança devia chegar a muitos, chegar a todos [...]".


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32º. dia, 20 de Setembro - As medidas do coração,
por Pe. Antônio José,

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será colocada no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”. (Lc 6, 36-38) 

Que medidas você tem usado para com seus semelhantes? São medidas generosas, largas, ou ninguém jamais consegue preencher seus padrões e, por isso, as críticas têm sido constantes em seus lábios? Jesus é claro: com a mesma medida com que medirmos, seremos medidos. Não faça de tudo motivo para julgamentos precipitados ou palavras amargas. 

Espere; alargue as medidas do seu coração; aprenda a olhar para o outro com aceitação e, ao mesmo tempo, com esperança. Abrir mão de julgar (e muitas vezes abrir mão de querer “consertar” a outra pessoa, para que ela fique “do nosso jeito”) pode ser uma maneira de dar tempo para que as coisas mudem. Quando condenamos alguém, ainda que por coisas pequenas, estamos dando por encerrado algo que talvez Deus ainda queira transformar. 

Se desejarmos contar com a paciência de Deus a nosso favor, precisamos primeiro exercitá-la em benefício dos irmãos (D-I-F-Í-C-I-L). Peça a Jesus hoje uma graça toda especial: medidas largas para perdoar; para desculpar as fraquezas dos demais; para crer com toda confiança. Talvez os sofrimentos da vida tenham tornado seu coração um coração apertado, que se amargura com as mínimas coisas. 

Saiba que você é capaz de alargar o seu coração, pois o Espírito Santo, que é amor, pode ajudá-lo a amar mais, além do que você mesmo é capaz de imaginar. Quando seu coração apertar, ferido por decepções e injustiças, clame pelo socorro do Espírito do Senhor. Ele vai ajudá-lo a perdoar, orar e vencer os limites da mágoa. 

Essa medida renovada será então o campo onde se derramará a bênção de Deus em sua vida. Peçamos o auxílio do Espírito Santo para que nosso coração não seja sufocado pelas mágoas e condenações: 

"Espírito Santo, vem sobre o meu coração nesse dia. 
Em Nome de Jesus, enche-me com o amor que vem do Pai 
e ajuda-me a ter medidas largas de tolerância e compreensão com meus irmãos. 
Afasta dos meus lábios toda palavra precipitada de condenação e acusação. 
Faz-me acreditar na Tua obra no coração daqueles 
que eu mesmo(a) não consigo modificar. 
Faz que eu aceite os seus passos, o seu ritmo, as suas limitações, 
assim como o Senhor aceita e respeita o meu caminhar. 
Ajuda-me, Espírito Santo, a ter medidas largas de perdão, 
para que meu coração não se feche 
sobre lembranças doídas e ressentimentos antigos. 
Quero medir meus irmãos com uma boa medida 
e vê-los grandes, sem jamais diminuí-los com minhas palavras ou atitudes. 
Que eu saiba valorizar aqueles que o Senhor colocou em minha vida
e que eles encontrem, em mim, 
palavras e gestos de perdão e encorajamento. 
Vem, Espírito Santo, em Nome de Jesus. 
Amém."



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31º. dia, 18 de Setembro - Ideias sobre o corpo,
por Johannes B. Torelló


A chamada “onda sexual” que, com todas as suas exibições do corpo humano, exaspera a nossa vida cotidiana, pode dar a impressão de vivermos numa época em que se cultua o corpo. No entanto, ressoa ainda no ar o grito angustiado de Camus: “Salvem os corpos!”. Efetivamente, talvez nunca como no nosso tempo o corpo humano foi tão maltratado. 

[…] 

E, embora uma multidão de contemporâneos nossos se preocupe neuroticamente com a saúde, desprezam de fato a dignidade e o valor do corpo: saciam as suas exigências comprando prazeres mesquinhos e eliminam as suas dolências com os calmante e drogas que a indústria põe ao alcance de qualquer mão. De duas uma: ou se submetem ao corpo, afundando-se na luxúria mais grosseira, ou o consideram inimigo e odioso na hora da dor.

[…]

O corpo não é objeto, nem uma coisa, nem uma máquina. É também “essencialmente diferente de um organismo animal” (Heidegger). O corpo também não é qualquer coisa que uma pessoa “possui”. O homem é corpo, como é espírito. A corporalidade pertence à essência do ser humano: estamos aí (“Da-sein”) em virtude do nosso corpo, assim como em virtude do nosso corpo tocamos o mundo e o mundo nos toca. É graças à minha corporalidade que sou quem sou, que me posso exprimir e atualizar, que posso fazer o bem e o mal.

[…]

A mulher que contempla o rosto no espelho exclama quase sempre: “Eu sou bonita”, e não: “Eu tenho um belo rosto”. Com efeito, falamos do corpo como se corpo e eu fossem idênticos. Quando uma mãe acaricia o filho, não toca a materialidade estrita do ser querido; o que faz é acariciar a própria criança, isto é, realiza – torna real – um contato entre dois seres humanos, a comunhão de duas pessoas.

Por esse mesmo motivo, as “experiências sexuais” fora do âmbito do amor interpessoal não são “experiências humanas” e deixam os que as realizam, não só totalmente “inexperientes”, mas também carregados de falsas imagens e ainda de verdadeiras aberrações a respeito do amor, a respeito do sentimento, do sexo e da realidade corporal. 

[…]

Mas também é mister precavermo-nos contra certa “mística do corpo” que, na nossa época, levou alguns retardatários descobridores da dignidade do corpo a exaltar, não sem empolada retórica, o instinto sexual, como se este fosse o centro da personalidade e vínculo exclusivo com o mundo.

Essa concepção exorbitante de certa “metafísica do sexo” traz consigo velis nolis, quer queiras, quer não, um separatismo do corpo, e ameaça por outro flanco a unidade da pessoa, que se reduz a corpo, transformando-se o corpo em fetiche. O chamado instinto sexual só se satisfaz, ativamente, na integridade do amor interpessoal; e a virgindade e o celibato cristãos só têm sentido como realização do amor nupcial do homem à pessoa humano-divina de Cristo.

A Encarnação, no seu sentido mais estrito, constituirá sempre a pedra de toque – e de escândalo – para idealistas e materialistas, pondo em relevo o seu diverso, mas igualmente palmar afastamento da realidade (...)"




Antes que me chamem de esotérica, devido a origem da ilustração (Alex Hang), 
quero dizer que a vejo com os olhos da Doutrina Católica 
como uma prévia aqui da eternidade - Homem, Mulher, Criação e o nosso Deus Trino.

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30º. dia, 17 de Setembro - A oração traz a luz 
que precisamos para as nossas escolhas,
por Pe. Roger Araújo

“Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus” (Lucas 6,12).

Hoje, queremos olhar para Jesus, o mestre da vida. O Mestre é aquele que nos ensina como devemos viver a nossa vida. Somos todos os dias convocados pela vida a tomarmos decisões, a fazemos escolhas. E como nós precisamos cuidar, porque, muitas ou tantas vezes, fazemos escolhas erradas, precipitadas, muitas vezes somos movidos por sentimentos que não são os melhores sentimentos, tomamos decisões a partir de rancor, da raiva, da ira, do ressentimento, mas, sobretudo, pela precipitação do momento.

Como precisamos aprender com o Mestre Jesus que a luz vem da oração; e a oração é que traz a luz que precisamos para as escolhas da vida. Jesus tinha um grupo grande de discípulos, mas, dentre os Seus discípulos, Ele precisava escolher os Seus apóstolos. O Senhor da vida, Jesus, precisava da luz do Pai, a comunhão com o Pai, para que Ele pudesse, na serenidade e na sobriedade da alma, escolher aqueles que o Pai designava.

A luz de Deus vai sempre nos ajudar, mesmo nos erros que nós, muitas vezes, tropeçamos na vida, isso se soubermos nos voltar verdadeiramente para Deus e deixar que Ele ilumine o nosso coração pela força da oração. Não podemos ignorar a oração em nossa vida, não podemos negligenciar a oração de forma alguma.

Estamos cometendo erros, atropelos em escolhas fundamentais da vida, por falta da sobriedade e da oração. Jesus passou a noite inteira em oração para que, na luz do Espírito, pudesse fazer a escolha necessária. Ali, inclusive, entre os doze escolhidos, estava Judas, o traidor. Não é que Judas não devia ser escolhido, ele recebeu a chance e a graça; se ele não correspondeu à graça, que dor para o coração do Senhor, mas que dó para ele que perdeu a oportunidade.

Mesmo, muitas vezes, querendo acertar, podemos errar; e a graça de Deus vai nos iluminar até para corrigirmos os erros que cometemos. Mas não escolha primeiro o erro, escolha a luz e a graça. E a graça de Deus vai nos acompanhar quanto mais nos dedicarmos à oração; a alma se debruçar sobre ela, para que nada seja feito sob o impulso das trevas, sob o impulso do sentimento do coração que não está purificado e iluminado. Por isso, nos refugiemos na oração, porque é lá que recebemos a graça da iluminação interior.

Deus abençoe você!

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29º. dia, 16 de Setembro - A caridade,
por Papa João Paulo I
(27.08.1978)


"Meu Deus, com todo o coração e acima de todas as coisas Vos amo, bem infinito e nossa eterna felicidade, e por vosso amor amo o meu próximo como a mim mesmo e perdôo as ofensas recebidas. Ó Senhor, ame-vos eu cada vez mais". É oração conhecidíssima, com expressões bíblicas embutidas. Foi minha mãe que ma ensinou. Rezo-a várias vezes por dia, mesmo agora, e procuro explicar-vo-la, palavra por palavra, como faria um catequista de paróquia. Estamos na "terceira lâmpada de santificação" do Papa João: a caridade.

Amo. Na aula de filosofia dizia-me o professor: — Tu conheces a torre de São Marcos? — Conheço. — Isso significa que ela entrou dalgum modo na tua mente: fisicamente ficou onde estava, mas no teu íntimo ela imprimiu quase um retrato seu, intelectual. Mas tu, por tua vez, amas a torre de São Marcos? Significa isto que aquele retrato te impele de dentro e te inclina, quase te leva e te faz ir, com o espírito, até à torre que está fora.

Numa palavra: amar significa viajar, correr com o coração para o objeto amado. Diz a Imitação de Cristo: quem ama "currit, volat, laetatur": corre, voa e alegra-se (Imitação de Cristo, 1. III, c. V, n. 4). Amar a Deus é portanto um viajar com o coração para Deus. Viagem belíssima, embora comporte por vezes sacrifícios. Mas estes não nos devem fazer parar. Jesus está na cruz: queres beijá-l'O? Não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor (Cfr. Sales, Oeuvres, Annecy, t. XXI. p. 153). 

Não podes fazer a figura do bom São Pedro, que foi valente em gritar "Viva Jesus" no monte Tabor, onde havia alegria, mas não deixou sequer que o vissem ao lado de Jesus no monte Calvário, onde havia risco e dor (Ibidem:. t. XV, p. 140). O amor a Deus é também viagem misteriosa: isto é, eu não parto se Deus não toma primeiro a iniciativa. Ninguém — disse Jesus — pode vir a mim, se o Pai... o não atrair (Jo. 6, 44). 

Perguntava Santo Agostinho a si mesmo: "Mas, então, a liberdade humana? Deus, que decidiu que ela existisse e construiu essa liberdade, sabe muito bem como respeitá-la, levando embora os corações ao ponto que tinha em vista: "parum est voluntate, etiam voluptate traheris"; Deus atrai-te não só de modo que tu mesmo venhas a querer, mas até de modo que tu gostes de ser atraído" (Augustinus, In Io. Evang. Tr. 26, 4).

Com todo o coração. Faço notar, aqui, o adjetivo "todo". O totalitarismo, em política, é feio. Na religião, pelo contrário, um totalitarismo nosso, quanto a Deus, está muitíssimo bem. Foi escrito: Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. Estes mandamentos, que hoje te imponho, serão gravados no teu coração. Ensiná-los-ás aos teus filhos e meditá-los-ás quer em tua casa, quer em viagem, quer ao deitar-te ou ao levantar-te. Atá-los-ás, como símbolo, no teu braço, e usá-los-ás como um frontal entre os teus olhos. Escrevê-los-ás sobre os pilares da tua casa e sobre as tuas portas (Deut. 6, 5-9).

Aquele "todo", repetido e levado à prática com tanta insistência, é com toda a verdade a bandeira do maximalismo cristão. E é justo: Deus é demasiado grande, demasiado merece de nós, para que baste deitar-lhe, como a um pobre Lázaro, unicamente algumas migalhas do nosso tempo e do nosso coração. Bem infinito e será a nossa felicidade eterna: dinheiro, prazeres e felicidades deste mundo, em comparação com Ele, são apenas fragmentos de bem e momentos fugidios de felicidade. Não seria acertado dar muito de nós a estas coisas e dar pouco a Jesus.

Acima de todas as coisas. Agora entra-se numa comparação direta entre Deus e o homem, entre Deus e o mundo. Não seria justo dizer: "Ou Deus ou o homem". Deve-se amar "não só a Deus mas também o homem"; este último, porém, nunca mais do que Deus ou contra Deus ou tanto como Deus. Por outras palavras: O amor de Deus é certamente dominador, mas não exclusivo

A Bíblia declara Jacó santo (Dan. 3, 35) e amado por Deus (Mal. 1, 2; Rom. 9, 13), mostra-o comprometido a sete anos de trabalho para conquistar Raquel como esposa; e pareceram-lhe poucos dias aqueles anos, tão grande era o amor que por ela sentia (Gén. 29, 20). Francisco de Sales tece sobre estas palavras um comentariozinho: "Jacó — escreve — ama Raquel com todas as suas forças, e, com todas as suas forças ama a Deus; mas nem por isso ama Raquel como a Deus, nem a Deus como a Raquel. Ama a Deus como seu Deus sobre todas as coisas e mais que a si mesmo; ama Raquel como sua esposa acima de todas as outras mulheres e como a si mesmo. Ama a Deus com amor absolutamente e soberanamente sumo, e Raquel com sumo amor marital; um amor não é contrário ao outro, porque o de Raquel não inutiliza as vantagens supremas do amor de Deus" (Sales, Oeuvres, t. V, p. 175).

E por vosso amor amo o meu próximo. Estamos aqui diante de dois amores que são "irmãos gêmeos" e inseparáveis. Algumas pessoas é fácil amá-las. Outras, é difícil: não nos são simpáticas, ofenderam-nos e fizeram-nos mal. Só se amo Deus a sério, chego a amá-las a elas, como filhas de Deus e porque Deus mo pede. Jesus fixou também como há-de o próximo ser amado: quer dizer, não só com o sentimento, mas com obras

Este é o modo, disse: Perguntar-vos-ei: "Tinha fome, e vós destes-me de comer quando assim estava faminto? Visitastes-me quando estava doente?"(Cfr. Mt. 25, 34 ss.). O catecismo traduz estas e outras palavras da Bíblia no duplo catálogo das sete obras de misericórdia corporais e sete espirituais. O catálogo não é completo e convinha atualizá-lo. Entre os famintos, por exemplo, hoje não se trata só deste ou aquele indivíduo; são povos inteiros

Todos nos lembramos das notáveis palavras do Papa Paulo VI: "Os povos da fome dirigem-se hoje de modo dramático aos povos da opulência. A Igreja estremece perante este grito de angústia e convida cada um a responder com amor ao apelo do seu irmão" (Populorum Progressio, 3). Neste ponto, à caridade junta-se a justiça, porque — diz ainda Paulo VI — "a propriedade privada não constitui para ninguém um direito incondicional e absoluto. Ninguém tem direito de reservar para seu uso exclusivo aquilo que é supérfluo, quando a outros falta o necessário" (Ibid., 23). Por conseguinte, "torna-se escândalo intolerável... qualquer recurso exagerado aos armamentos" (Ibid., 53).

À luz destas vigorosas expressões vê-se quanto indivíduos e povos estão ainda longe de amar os outros "como a si mesmos", que é mandamento de Jesus.

Outro mandamento: perdôo as ofensas recebidas. A este perdão quase parece que o Senhor dá precedência sobre o culto: "Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta" (Mt. 5, 23-24).

As últimas palavras da oração são estas: "Ó Senhor, ame-vos eu cada vez mais." Também aqui há obediência a um mandamento de Deus, que estabeleceu no nosso coração a sede do progresso. Das palafitas, das cavernas e das primeiras cabanas passamos às casas, aos palácios e aos arranha-céus; das viagens a pé, e sobre o dorso de mula ou de camelo, aos carros, aos comboios e aos aviões. 

E deseja-se progredir ainda com meios cada vez mais rápidos, atingindo metas mais e mais altas: "Mas amar a Deus — já o vimos - é também uma viagem: Deus quer que ela seja cada vez mais decidida e perfeita". Disse a todos os seus: "Vós sois a luz do mundo, o sal da terra"(Ibid.. v. 8); sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito" (Ibid. v. 48). Isto significa: amar a Deus não pouco, mas muito; não parar no ponto a que se chegou, mas, com o Seu auxílio, progredir no amor."

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28º. dia, 15 de Setembro - Sobre o estudar,
por Papa João Paulo I
(17. 09. 1978)


"(...) Mas vós, caros jovens que estudais, vós sois verdadeiramente jovens, vós tempo tendes, e tendes juventude, saúde, memória e inteligência. Esforçai-vos por fazer render tudo isto

Das vossas escolas há-de sair a classe dirigente de amanhã. Alguns de vós chegarão a ministros, deputados, senadores, presidentes de câmaras, vereadores ou então engenheiros, directores clínicos..., ocupareis lugares na sociedade. E hoje, quem desempenha um lugar, deve ter a competência necessária, deve preparar-se

O general Wellington, o que venceu Napoleão, quis voltar à Inglaterra visitar o colégio militar onde estudara, onde se preparara; e aos alunos oficiais disse: "Olhai, aqui se venceu a batalha de Waterloo". 

O mesmo vos digo a vós, caros jovens: tereis batalhas na vida aos 30, 40 e 50 anos, mas, se quereis vencê-las, é agora que precisais de começar, de vos preparar, de ser assíduos no estudo e na escola.

Peçamos ao Senhor que ajude os professores, os estudantes e também as famílias que olham para a escola com o mesmo afeto e a mesma preocupação que o Papa."



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27º. dia, 14 de Setembro - Gálatas insensatos,
por Papa Francisco
(01.09.2021)


Irmãos e irmãs, bom dia!

Continuaremos a explicação da Carta de São Paulo aos Gálatas. Isto não é uma coisa nova, esta explicação, uma coisa minha: o que estamos a estudar é o que diz São Paulo, num conflito muito sério, aos Gálatas. E é também Palavra de Deus, porque entrou na Bíblia. Não é algo que alguém inventou, não. Aconteceu naquele tempo e pode repetir-se. E, de fato, vimos que na história isto repetiu-se. 

Esta é simplesmente uma catequese sobre a Palavra de Deus, expressa na Carta de Paulo aos Gálatas, nada mais. Devemos ter sempre isto em mente. Nas catequeses anteriores vimos que o Apóstolo Paulo mostrou aos primeiros cristãos da Galácia como era perigoso deixar o caminho que tinham iniciado a percorrer ao aceitar o Evangelho. 

Com efeito, o risco é cair no formalismo, que é uma das tentações que nos leva à hipocrisia, da qual falámos na semana passada. Cair no formalismo e negar a nova dignidade que receberam: a dignidade de remidos por Cristo. O trecho que acabamos de ouvir dá início à segunda parte da Carta. 

Até este ponto, Paulo falou da sua vida e da sua vocação: de como a graça de Deus transformou a sua existência, colocando-a completamente ao serviço da evangelização. Neste ponto, interpela diretamente os Gálatas: põe-nos diante das escolhas que fizeram e da sua condição atual, o que poderia anular a experiência de graça que viveram.

E os termos com os quais o Apóstolo se dirige aos Gálatas certamente não são gentis: ouvimo-los. Nas outras Cartas é fácil encontrar a expressão “irmãos” ou “caríssimos”, aqui não. Pois está zangado. Diz genericamente “Gálatas” e duas vezes lhes chama “insensatos”, que não é um termo gentil. Estultos, insensatos e pode dizer muitas coisas... Não o faz porque não são inteligentes, mas porque, quase sem se aperceberem, correm o risco de perder a fé em Cristo que aceitaram com tanto entusiasmo

Insensatos porque não se apercebem de que o perigo é o de perder o tesouro precioso, a beleza da novidade de Cristo. A desilusão e a tristeza do Apóstolo são evidentes. Não sem amargura, ele provoca esses cristãos a lembrarem-se do primeiro anúncio feito por ele, através do qual lhes ofereceu a possibilidade de obter uma liberdade até então inesperada.

O Apóstolo faz perguntas aos Gálatas a fim de despertar as suas consciências: por isso é tão forte. Trata-se de questões retóricas, pois os Gálatas sabem muito bem que a sua chegada à fé em Cristo é fruto da graça recebida através da pregação do Evangelho. Leva-os ao início da vocação cristã. A palavra que ouviram de Paulo centrou-se no amor de Deus, plenamente manifestado na morte e ressurreição de Jesus

Paulo não conseguiu encontrar uma expressão mais convincente do que aquela que provavelmente lhes tinha repetido várias vezes na sua pregação: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a si mesmo por mim» (Gl 2, 20). Paulo mais não queria saber do que de Cristo crucificado (cf. 1 Cor 2, 2). Os Gálatas devem olhar para este evento, sem se deixarem distrair por outros anúncios... 

Em suma, a intenção de Paulo é colocar os cristãos em condições para que se apercebam do que está em jogo e não se deixem encantar pela voz das sereias que os querem conduzir a uma religiosidade baseada unicamente na observância escrupulosa dos preceitos. Pois eles, os pregadores novos que chegaram à Galácia, convenceram-nos que deviam voltar atrás e observar também os preceitos que levam à perfeição antes da vinda de Cristo, que é a gratuidade da salvação.

Por outro lado, os Gálatas compreendiam muito bem ao que o Apóstolo se referia. Tinham certamente experimentado a ação do Espírito Santo nas comunidades: como nas outras Igrejas, também a caridade e vários outros carismas se tinham manifestado entre eles. Ao serem postos à prova, tiveram de responder que quanto tinham vivido era fruto da novidade do Espírito

Portanto no início da sua chegada à fé, estava a iniciativa de Deus e não a dos homens. O Espírito Santo tinha sido o protagonista da sua experiência; colocá-lo agora em segundo plano a fim de dar primazia às próprias obras – isto é ao cumprimento dos preceitos da Lei – seria uma insensatez. A santidade vem do Espírito Santo e é a gratuidade da redenção de Jesus: isto justifica-nos.

Deste modo, São Paulo convida também a nós a refletir: como vivemos a fé? Será que o amor de Cristo crucificado e ressuscitado permanece no centro da nossa vida quotidiana como fonte de salvação, ou será que nos contentamos com algumas formalidades religiosas para estar em paz com a nossa consciência? Como vivemos nós a fé? Estamos apegados ao tesouro precioso, à beleza da novidade de Cristo, ou preferimos algo que neste momento nos atrai, mas que depois nos deixa vazios por dentro?  

O efêmero bate muitas vezes à porta dos nossos dias, mas é uma triste ilusão, que nos faz cair na superficialidade e nos impede de discernir aquilo por que realmente vale a pena viver. 

Irmãos e irmãs, no entanto, mantenhamos a certeza de que, mesmo quando somos tentados a afastar-nos, Deus continua a conceder os seus dons. Ao longo da história, e ainda hoje, se verificam coisas que se assemelham ao que aconteceu aos Gálatas. Também hoje algumas pessoas nos fazer arder as orelhas dizendo: “Não, a santidade está nestes preceitos, nestas coisas, é preciso fazer isto e aquilo”, e propõem-nos uma religiosidade rígida, a rigidez que nos tira aquela liberdade no Espírito que a redenção de Cristo nos dá

Estai atentos perante a rigidez que vos propõem: estai atentos. Pois por detrás de cada rigidez há algo negativo, não existe o Espírito de Deus. É por isso que esta Carta nos ajudará a não ouvir estas propostas meio fundamentalistas que nos fazem retroceder na nossa vida espiritual, e nos ajudará a avançar na vocação pascal de Jesus. É isto que o Apóstolo reitera aos Gálatas quando lhes recorda que o Pai «doa o Espírito abundantemente, e realiza obras maravilhosas entre vós» (3, 5). 

Ele fala no presente, não diz “o Pai doou o Espírito em abundância”, capítulo 3, versículo 5, não: diz “doa”; não diz “realizou”, não, “realiza”. Pois, apesar de todas as dificuldades que possamos colocar à sua ação, inclusive não obstante os nossos pecados, Deus não nos abandona, mas permanece conosco com o seu amor misericordioso

Deus está sempre próximo de nós com a sua bondade. É como aquele pai que todos os dias subia ao terraço para ver se o filho voltava: o amor do Pai não se cansa de nós. Peçamos a sabedoria de nos apercebermos sempre desta realidade e de afastar os fundamentalistas que nos propõem uma vida de ascese artificial, afastada da ressurreição de Cristo

A ascese é necessária, mas a ascese sábia, não artificial.



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26º. dia, 13 de Setembro - Pavor e Paz,
por Pe. Antônio José

“Prestai ouvidos, ó Deus, à minha oração, não vos furteis à minha súplica; escutai-me e atendei-me. Na minha angústia agitome num vaivém, perturbo-me à voz do inimigo. Palpita-me no peito o coração, invade-me um pavor de morte. Apoderam-se de mim o terror e o medo, e o pavor me assalta.(...) Se o inimigo viesse insultar-me, poderia aceitar certamente; se contra mim investisse o inimigo, poderia, talvez, esconder-me. Mas és tu, companheiro e amigo, tu, meu íntimo e meu familiar, com quem tive agradável convívio com o povo, indo à casa de Deus! (...) Depõe no Senhor os teus cuidados, porque Ele será teu sustentáculo; não permitirá jamais que vacile o justo” (Sl 54, 2–5;13-15.2)


O autor do salmo 54 usa algumas expressões que nos são muito familiares para descrever o estado de sua alma: angústia, agitação, palpitação, pavor, medo. Se ele vivesse nos dias de hoje, certamente diríamos que a depressão e o pânico tomaram conta de seu coração.

Se as palavras acima também servem para descrever o seu estado de espírito, talvez você entenda um pouco a aflição desse homem ao pedir a Deus que não deixasse de responder às suas súplicas. Quando a solidão e a angústia parecem dominar, é difícil até mesmo orar e acreditar que nossos clamores são ouvidos no céu. Você já viveu dias assim?

Além de partilhar conosco o seu estado de ânimo, o salmista ainda nos permite compreender o porquê de toda a sua aflição: a traição de um amigo. Alguém muito querido, confidente, que professava a mesma fé e servia ao mesmo Deus, tornou-se motivo de decepção e ressentimento por uma traição inesperada. Alguém bastante familiar passou a agredir e perseguir o autor do salmo, ao ponto de esse nem poder ouvir a sua voz sem perturbar-se no íntimo.

E você, já se sentiu traído e perseguido por alguma pessoa de quem esperava justamente consolo e companheirismo? Já teve por perto uma pessoa de quem só a voz era motivo de calafrios e nervosismo? Por fim, o salmista termina sua oração dizendo bonitas palavras de confiança e coragem ao seu próprio coração:Lança sobre o Senhor os teus cuidados! O Senhor é o teu sustento! Ele jamais permitirá que o justo vacile!”.

É como se, depois de apresentar a Deus os sintomas da doença de sua alma, o próprio salmista reconhecesse que sua cura dependia da entrega de suas preocupações a Deus. Remoer mágoas no coração não seria remédio para a dor da traição.

Ao contrário, só se refugiando no Deus fiel é que o coração solitário poderia recobrar a paz para se reerguer e, certamente, perdoar. Querido(a) irmão(ã), é comum que em nossos momentos íntimos com Deus lamentemos nossas fraquezas interiores. É comum também apresentarmos a Deus os nossos problemas, as decepções com os que amamos e as injustiças cometidas contra nós.

Contudo, nosso momento de oração não pode se limitar a uma lista de desventuras. Se podemos começar com palavras de dor e desalento, certamente não devemos terminar assim. É necessário repetir ao próprio coração aquilo que disse um dia o salmista: “Deus é meu sustentáculo! Deponho sobre Ele os meus cuidados e preocupações!”.

O remédio para nossos males não é simplesmente falar deles, mas apresentá-los ao Senhor e permitir que suas mãos poderosas toquem aquilo que está ferido. As mãos de Deus levam perdão onde antes só havia ressentimento, aceitação onde só havia decepção e paz onde só havia medo e depressão.

Deixe o Pai alcançar o seu íntimo com amor e repita ao seu próprio coração: “Meu Pai sempre escuta minha oração. Ele será hoje meu sustento e minha fortaleza. Não vacilarei jamais”. Deus tem palavras de consolo e encorajamento para você nesse dia e quer dizê-las ao mais íntimo do seu coração. Basta que você esteja disposto a ouvir.

Vamos orar, entregando a Deus nossas preocupações:

“Pai Amado, tenho falado tanto de meus problemas, 
de minhas fraquezas e de tudo aquilo que não tem dado certo, 
que acabo me esquecendo de proclamar a Tua vitória em minha vida. 
Obrigado(a), Pai, porque, em Jesus, eu já sou vencedor(a) contigo. 
O Senhor bem conhece o meu estado de espírito. 
Tu sabes, Pai, que tenho enfrentado um verdadeiro combate contra a depressão, 
o pânico, a angústia, e que hoje, mais uma vez, entro nessa batalha.
Em Teu poder, Senhor, declaro que és meu sustentáculo 
e lanço sobre Ti os meus cuidados e preocupações. 
Ergo-me para perdoar, aceitar e responder o mal com o bem. 
Em Nome de Jesus, ó Pai, quero ouvir Tuas santas palavras de vitória para minha vida. 
Quero voltar a crer que minhas orações são ouvidas no céu 
e retornam para mim em forma de graça e bênção. 
Obrigado(a), Senhor, pelo Teu Espírito Santo que mora em mim 
e que, nesse dia, vai agir poderosamente para a minha libertação. 
Por tudo que tens feito em meu favor, Pai Amado, muito obrigado(a). 
Amém.”






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25º. dia, 11 de Setembro - A nova vida do cristão,
por Papa Paulo VI


O nosso tempo obriga-nos a prolongar a reflexão sobre o mistério pascal, sob o aspecto da nossa participação em Cristo, aspecto múltiplo pelo fato de que a celebração sacramental litúrgica e moral da obra redentora realizada por Ele e por nós recordada e de certa forma (sacramental, penitencial, devocional) revivida, tende a deixar alguns traços profundos em nosso espírito e em nossos costumes

A vida cristã é caracterizada por um esforço contínuo e progressivo de renovação e aperfeiçoamento: o homem interior, que vive em nós, diz São Paulo, tende a se renovar "de die in diem", dia a dia (Col. 4, 16). Surge então uma pergunta que afeta nossa conduta: essa intenção de melhoria contínua está operando em nós? Ou volta imediatamente para uma forma de vida comum que nos acusa de mediocridade costumeira? 

E assim imediatamente prevalece em nós um estilo de vida, que não só renuncia a modelar-se no exemplo e ensinamento de Cristo, mas tenta fugir do compromisso que a celebração da Páscoa nos fez sentir momentaneamente tão lógico, tão urgente na cela secreta de nossa consciência, o compromisso de ser autenticamente cristão. 

Queremos ser, dizemos a nós próprios no coração, como os outros, como um dos tantos indivíduos, impressos em série pela sociedade permissiva; na verdade, às vezes um instinto tentador gostaria de nos libertar das formas muito regulares de nossa maneira de nos comportar e nos permitir experimentar alguns gestos ousados ​​e inescrupulosos de conduta livre.

Isso é moda e um enxame de estímulos provocativos nos assalta de todos os lados para despertar em nós as paixões adormecidas ou inquietas, que assim parecem reivindicar como um direito natural a experiência que o sentimento moral reto nos diz pecaminosa. Existe até uma tendência, a partir de cátedras autorizadas ou costumes inescrupulosos, gostaria de superar os escrúpulos de consciências sensíveis com o cuidado de Mitrídates, ou seja, com o vício da violação da lei moral.

E isso não é cristão, para não dizer que não é humano, não é lógico.

Em vez disso, devemos sempre lembrar duas ordens de verdade, que são parte dos princípios fundamentais de nossa maneira correta de pensar e, portanto, de agir. A primeira deriva do conhecimento que nos ensina nossa antropologia, ou seja, nossa ciência do homem, iluminada pela fé e em parte confirmada por nossa dolorosa experiência; isto é, sabemos que o homem é um ser, no qual entrou uma desordem, que podemos dizer perturbando seu desígnio constitucional (Cf. Rm 7,15), e que muitas vezes se argumenta que ele não existe, senão por causa de coerções anti-pedagógicas; uma opinião deletéria ainda em voga hoje.

A outra ordem da verdade nos oferece uma espécie de duplicação de nossa natureza humana, sobre a qual o pensamento inefável de Deus, comunicado a nós pela fé, se sobrepôs, por assim dizer, uma "supernaturalidade", um "novo homem", que devolve ao "velho" um rosto purificado, do qual foi cancelada a deformação do pecado, mesmo que não tenha sido removida a fraqueza que ainda o torna possível; mas, além disso, a nova imagem de um ser regenerado elevado a filho adotivo de Deus, associado a uma irmandade que se torna coexistência com Cristo e animado por um sopro vital divino, que chamamos de graça e que atribuímos ao Espírito Santo.

É por isso que o conceito de uma vida imaculada, que é pura, simples, bela, é restaurado, ou melhor, concedido àqueles que receberam o batismo, e que - como São Pedro afirma na sua primeira carta - foram libertados "com sangue precioso de Cristo", como do "cordeiro imaculado".

Este ideal de uma vida inocente, incontaminada e imaculada deve ser restaurado à nossa mentalidade cristã e nos dar o propósito e a graça de uma existência nova, verdadeiramente pascal.

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24º. dia, 10 de Setembro - Pequenas pérolas de Pe. Antonio Vieira,
por Emerson Tin


. Sobre a Morte:


"Morrer de muitos anos, e viver de muitos anos, não é a mesma coisa. Ordinariamente os homens morrem de muitos anos, e vivem poucos. Por quê? Porque nem todos os anos que se passam se vivem: uma coisa é contar os anos, outra vivê-los; uma coisa é viver, outra é durar. Também os cadáveres debaixo da terra, também os ossos nas sepulturas acompanham os cursos do tempo, e ninguém dirá que vivem. As nossas ações são os nossos dias; por elas se contam os anos. por eles se mede a vida: enquanto obramos racionalmente, vivemos; o demais tempo, duramos" - (Voz quarta obsequiosa, "Sermão das exéquias do conde de Unhão d. Fernão Telles de Menezes...")


. Sobre a Adulação:

"É tal o doce veneno da lisonja que, entrando pelos ouvidos, lhes cega também os olhos."
("Sermão da primeira sexta-feira da Quaresma" [1651])


. Sobre a Admiração:

"A admiração é filha da ignorância e mãe da ciência. Filha da ignorância, porque ninguém se admira senão das coisas que ignora, principalmente se são grandes; e mãe da ciência, porque, admirados os homens das mesmas coisas que ignoram, inquirem e investigam as causas delas até as alcançar, e isto é o que se chama de ciência.
("Sermão das ascenção de Cristo Senhor Nosso")


. Sobre a Ambição:

"Quem tem asas para voar, e se contenta com andar, e quando muito com correr, pode mais do que quer, e quer menos do que pode; e só quem quer e se contenta com menos do que pode passa a carreira desta vida sem cansar nem desfalecer."
("Sermão do terceiro domingo post Epiphaniam")


. Sobre a Amizade:

"Muitas vezes parecem finezas de amizade o que são ódios refinadíssimos."
("Sermão do sábado antes do Domingo de Ramos [1634])


. Sobre o Amor:

"Amar é entregar o coração, mentir é encobri-lo. Bem se segue logo que quem não fala verdade não ama, porque como há de entregar o coração quem o encobre?"
("Sermão de São João Evangelista" [1644])


"São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira; embota-lhe as setas, com que mais não fere; abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge.
("Sermão do mandato" [1643])


. Sobre a Eleição:

"Não há coisa mais difícil que eleger um homem a outro homem, porque, ou o conhece, ou não. Se não o conhece, elege às cegas; e se o conhece, também; porque, se o conhece, ou o ama ou o aborrece, e tão cego é o amor como o ódio. Mas é certo que, como a paixão, ou ainda sem ela, nenhum homem conhece ao outro."
("Sermão para o dia de São Bartolomeu", em Roma, na ocasião de promoção de cardeais)


. Sobre a Esperança:

"Melhor é esperar em Deus, que esperar nos príncipes. Por quê? Nem eu o digo nem vós os direis, porque é lei dos que esperam neles: esperar, desesperar e calar."
("Sermão, As cinco pedras da funda de Davi, Discurso V")


. Sobre a Guerra:

"O morrer na guerra pode ser e comumente é honra, mas o fugir sempre é afronta."
("Sermão de Santo Antônio")


. Sobre o Homem:

"Já não se contentam os homens com fazer desumanidades, mas chegam a fazer desumanos, que é muito pior. Fazer desumanidades é ser cruel, fazer desumanos é não ser homem, antes ser o contrário do homem. Se víssemos que o sol, devendo alumiar, escurecia, e o fogo, devendo aquentar, esfriava, e que um homem, em lugar de gerar homens, gerava tigres e serpentes, não seria uma horrenda monstruosidade? Pois isso é o que fazem os homens. Não só têm desumanado a sua, mas desumanam a humanidade daqueles que os tratam. Vede se é prudência fugir dos homens quem quiser conservar o ser de homem."
("Sermão do quarto domingo da Quaresma" [1652])


. Sobre a Perda:

"A maior estimação do bem perdido não provém da dor da perda, nem da mesma perda do bem; mas por ocasião da perda provém o maior e verdadeiro conhecimento do mesmo bem, o qual antes de perdido não se [re]conhecia."
("Sermão, As Cinco pedras da funda de Davi, Discurso II")


. Sobre os Poderosos:

"Os poderosos têm ódio a quem repreende suas injustiças, e abominam a quem lhes fala verdade."
("Sermão do quarto domigo da Quaresma")


. Sobre os Remédios:

"Dores certas não se podem curar com remédios duvidosos, ou duvidados."
("Carta à Rainha D. Luísa" [Pará, 28 de novembro de 1659])

Fonte: TIN, E. 318 Citações do Padre Antônio Vieira, escolhidas e anotadas. São Paulo, SP: Ed. Tordesilhas, 2011. ISBN 978-85-64406-13-1. 204 p

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23º. dia, 09 de Setembro - Um excerto de homilia a missionários,
por São Vicente de Paulo


"Não se deve julgar um camponês pobre ou uma senhora de condição humilde por sua aparência ou pela envergadura de sua inteligência. Muitas vezes não têm absolutamente nenhum "rosto", muito menos o aspecto de homens que pensam. São pessoas rudes e apegadas à terra. 

Se, porém, virarmos a face da moeda, constataremos então que, à luz da fé, o Filho de Deus, que quis ser pobre, vem ao nosso encontro nas pessoas desses pobres. Também Ele, em sua paixão, tinha um rosto desfigurado.

Para os gentios, não passava de um louco; para os judeus, era pedra de escândalo. Teve, no entanto, a capacidade de se tornar o evangelizador dos pobres. Fui enviado para pregar o Evangelho aos pobres!

Ó meu Deus, devemos encarar os pobres com simpatia e amorosamente, se os vermos na ótica de Deus e com o respeito que Jesus Cristo tinha por eles! Eles só se nos afiguram desprezíveis se os consideramos pelas suas aparências físicas e num espírito ditado pelas normas profanas."



Fonte: SIX, J. F. Vicente de Paulo. São Paulo, SP: Ed. Loyola, 1991. ISBN 85-15-00402-X. 120 p.

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22º. dia, 08 de Setembro - Como o remador dentro da barca.
por Sören Kierkegaard


Na vida é preciso ter a atitude certa, a verdadeira.
E é isso que faz o cristão em relação ao amanhã que, para ele, não existe.
 

Conduzindo sua barca, o remador vira as costas à meta para a qual se dirige. O mesmo com o amanhã.

Quando, graças ao socorro do eterno, o homem vive mergulhado no dia presente, volta as costas para o amanhã, e quanto mais o eterno o mergulha, mais também ele volta as costas, deliberadamente, ao amanhã, que ele não vê. Mas, se ele se virar, o eterno se turva a seus olhos e se confunde com o amanhã.

Porém, quando, para bem se dirigir para o seu fim (a eternidade), ele lhe volta as costas, não vê, absolutamente, o amanhã, enquanto, graças ao eterno, vê, com perfeita nitidez, o dia presente e seus trabalhos. E é assim que o homem deve orientar-se para bem trabalhar hoje.

Todo o momento de impaciência em que ele quer o fim, para ver se está chegando mais perto, é causa de atraso e de distração. Não. De uma vez por todas, seja firme e ponha-se ao trabalho com as costas voltadas para o futuroAssim faz o remador, dentro da barca. E também aquele que crê.

Talvez alguém possa pensar que está mais longe do eterno, para o qual vira completamente as costas, vivendo o presente, enquanto outro procura descobrir essa mesma eternidade.

Entretanto, o que crê é o que está próximo. E o "apocalíptico", o afastado. A fé volta as costas à eternidade justamente porque a retém dentro do presente. Justamente porque crê, o cristão se libertou do amanhã.

Ele é um "presente". No sentido etimológico da palavra, um "poderoso". O que se atormenta com o futuro é um ausente, um impotente.

Muitas vezes ouvimos alguém desejar ter sido contemporâneo deste ou daquele grande homem, deste ou daquele acontecimento, imaginando que isto poderia torná-lo um grande personagem. Talvez. Melhor seria desejar ser contemporâneo de si mesmo.

Porque a maior parte dos homens está a centenas, ou mesmo a milhares, de quilômetros adiante de si mesmos nos sentimentos, desejos, resoluções, nas aspirações e em suas visões apocalípticas. Ou, ao menos, estão algumas etapas à frente de si mesmos.

Mas aquele que crê - o presente - este é o contemporâneo de si mesmo, no sentido mais elevado da palavra. O que é mais próprio para cultivar e elevar um homem é ser, graças ao eterno, o contemporâneo de si mesmo, no dia de hoje. É assim que se ganha a eternidade.

E esta contemporaneidade do dia presente é justamente o nosso trabalho. Aquele que o realiza tem a fé.


Fonte: MURARO, R. M.; CINTRA, R. As Mais Belas Orações de Todos os Tempos. p. 124-125. 9 ed. São Paulo, SP: Editora Pensamento, 2006.199 p. 

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21º. dia, 07 de Setembro - Uma dose de Dom Hélder





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20º. dia, 06 de Setembro - A Construção do Amor,
por Leda Galli Fiorillo


Todo o ser humano sente uma necessidade urgente de amar e ser amado. E o amor existe, é real. Mas para poder torná-lo presente na nossa vida é preciso amadurecer, aperfeiçoar-se no uso da liberdade.


O BINÔMIO LIBERDADE-RESPONSABILIDADE

Falamos anteriormente da sexualidade na sua dimensão individual, isto é, como modalidade de expressão do eu nas suas duas versões, masculina e feminina, vendo na temperança a reguladora de todas as faculdades humanas e no pudor o guardião de todas as riquezas pessoais. Também dissemos que a verdadeira liberdade é a capacidade de escolher por si mesmo, voluntariamente, o bem, para tender à plena auto-realização no ordenamento harmonioso de todas as faculdades

Mas vimos que o ser humano não é uma mônada fechada em si mesma, e, por isso, passamos à sexualidade na sua dimensão relacional: não mais o eu sozinho, portanto, mas o eu que se abre e se relaciona com um você, numa recíproca e harmônica complementação do ser individual, chegando assim ao casal.

Mas, vamos além.

Uma vez que há um você, salta aos olhos mais facilmente a existência de uma responsabilidade, no sentido etimológico do termo: isto é, como capacidade de responder por si mesmo, pelas próprias escolhas e pelas próprias ações diante dos outros.

De fato, justamente o uso da liberdade, entendida capacidade de fazer escolhas autônomas, leva consigo o exercício da responsabilidade: posso responder em primeira pessoa só por aquelas escolhas que fiz por mim mesmo, voluntariamente, e, por isso, livres, ao passo que não posso responder pelas escolhas não livres, isto é, efetuadas sob algum tipo de constrição não dependente de mim.

Por tudo o que foi dito, é claro que o uso correto da liberdade – daquela que chamamos a verdadeira liberdade – só se realiza quando se escolhe fazer o bem, por maior que seja a fadiga que este pode comportar; pelo contrário, escolher voluntária e conscientemente o mal equivale a um uso ruim da liberdade e, por isso, a uma falsa liberdade, que não leva à realização pessoal, mas sim a uma auto-limitação, se não mesmo à autodestruição.

Desse modo, uma vez que o ser humano não é só identidade – um eu – mas também relação – um eu que se abre a um você – a auto-realização nunca é um fato exclusivamente individual e egocêntrico; ao contrário, a sua realização passa justamente pela do outro. Mas, para chegar a este objetivo deveremos finalmente começar a falar não de um casal qualquer, mas de um casal que se ama.


DIMENSÃO CÓSMICA DO AMOR


Existe o amor?

É talvez a pergunta mais radical e imperiosa que se possa fazer, porque, no fundo, todos os problemas da humanidade são problemas de amor.

De fato, não há ser humano que não sinta a urgência profunda de ser amado. Sonha-se com o amor, persegue-se o amor, agarra-se o amor, até mesmo se rouba o amor, ou então se doa o amor… Bem ou mal orientado, sacralizado ou profanado, é, de todos os modos, a mola propulsora do nosso agir, o fim ao qual, consciente ou inconscientemente, todos tendemos.

Temos uma sede infinita de amor; mas esta não é uma prerrogativa só humana. O amor é igualmente evidente nos animais, ao ponto de não ser necessário destacá-lo aqui; pode ser entrevisto mesmo nas plantas, se se observa com quanto cuidado as sementes são guardadas dentro dos frutos até chegarem à maturação, e de quantos modos diversos são, depois, dispersadas para longe, a fim de que as novas plantinhas possam encontrar ar, luz, espaço e nutrimento suficientes para poder viver

E há, por fim, quem tem crido ser possível avistá-lo até mesmo na matéria inanimada: de fato, se não é amor, o que é aquela força atrativa gravitacional que liga o planeta à sua estrela, que o faz orbitar em torno dela, fazendo dela o seu baricentro, o centro indiscutível de todo o seu ininterrupto movimento? Não é, talvez, o amor a força que atrai irresistivelmente em direção ao outro, que faz do outro o centro de toda uma vida? Sim, existe o amor.

Mas, então, o que é este amor pelo ser humano? É uma aventura a ser vivida? Um direito a ser reivindicado? Ou é uma capacidade a ser educada, um caminho a ser construído? E, assim, o que quer dizer amar?


O AMOR: UM CAMINHO A SER CONSTRUÍDO


Todo ser humano nasce de um ato de amor dos seus pais: “dois que se fazem um para se tornarem três”. Aqui a matemática não conta; aqui só há o mistério do acender-se de uma nova vida, que a pesquisa biológica jamais poderá desnudar inteiramente, em todas as suas dimensões.

Vejamos agora esse pequeno ser no progressivo desenvolvimento das suas capacidades.

De repente, a criancinha, juntamente com uma necessidade ilimitada e desejosa de ternura, manifesta a sua incipiente capacidade de amar. Mas é um amor principiante, totalmente infantil, “instrumental. Necessitada de tudo, dependente dos outros para tudo, vive um amor totalmente egocêntrico, que olha para os outros como se estes fossem um instrumento imprescindível para a sua própria sobrevivência. É o primeiro estágio da capacidade de amar, plenamente fisiológico na criança.

Infelizmente, algumas vezes toda a capacidade pessoal de amar se imobiliza nesse nível. Os estupros e a pornografia têm exatamente esta raiz: o uso do outro para a própria satisfação. Aqui não há um você: só há um objeto de consumo, sem rosto e sem nome…

Mas, sigamos o crescimento do garoto, que chega às fronteiras da adolescência; ou melhor: será mais conveniente seguirmos aqui o crescimento da garota, porque a evolução da psicologia feminina é – sob este ponto de vista – extremamente mais significativa que a da masculina. 

Ao garoto – sempre mais imediato, simples e direto – basta normalmente uma bola para resolver os seus problemas de comunicação e para descarregar a sua agressividade. A garota, por sua vez, vive os mesmos problemas de modo muitíssimo mais profundo e envolvente, evidenciando de maneira mais patente as várias etapas da capacidade de amar, que, nesse ínterim, deu um passo à frente

De fato, aqui surge a amiga do coração – o alter ego – e, com ela, desponta o ciúme: “se você é minha amiga, não pode ser amiga dela”… É o amor “de posse”, bem expresso na frase “você é minha”, normalíssima a essa idade.

Mas, mesmo nesse estágio pode-se bloquear a capacidade de amar. “Você é meu”: começa, portanto, a existir um você, mas ainda somente e sempre em função de si mesma; o baricentro é, ainda, o eu, e o outro é visto só como parte de si, com toda a carga de temor pelo medo de perdê-lo, de obsessão, de ciúme e, em última análise, de falta de autêntico respeito. Um amor assim está destinado a apagar-se por auto-asfixia.

Na adolescência, vêm outros estágios do amor, com conotações diversas, mas sempre, ainda, egocêntricas. Assim, o amor “de gratidão”, relativo à necessidade de sentir-se admirada. O outro existe, mas não importa quem verdadeiramente é; basta que confirme o eu no seu ser e no seu ser atraente. Se a capacidade de amar se bloqueasse neste estágio, passar-se-ia, com a máxima desenvoltura, de um admirador a outro, semeando cadáveres, já que o eu imperante exige sempre novas confirmações… 

Assim, o amor “de conquista”, sem dúvida mais protagonista ativo que o precedente e mais atento ao verdadeiro você do outro, mas, em todo caso, incapaz de aceitar os seus inevitáveis defeitos. Não sendo ainda capaz de trabalhar a si mesmo, ao aflorarem as primeiras dificuldades de integração, pretende que seja só o outro a ter que mudar. 

É talvez este o estágio em que a capacidade de amar é mais freqüentemente bloqueada e, por conseguinte, a causa principal do fracasso de tantos casais. Ilude-se com a idéia de que as coisas iriam melhor com uma mudança de companheiro… e também aqui semeiam-se cadáveres.

A adolescência já chega ao fim, com todas as suas dores, e o caminho desemboca na idade adulta, em que a capacidade de amar encontra a sua plena expressão no amor “de doação”. É o amor que sabe dizer “eu sou sua”. É a reviravolta total do eu, que se faz dom ao outro, porque já sabe viver em função do outro. É o amor maduro, sereno e forte que sabe trabalhar a si mesmo para integrar-se plenamente ao outro. É o amor fiel, que aceita o outro tal como é e o ajuda no seu caminho de realização.

Só sobre um amor assim é que se pode fundar algo de estável e duradouro, na consciência que esta doação se renova a cada dia, mas que a cada dia cresce um pouco.

Sim, existe o amor, portanto; mas existe na medida em que cada um se empenhe, passo a passo, por construí-lo generosamente na própria vida.

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19º. dia, 04 de Setembro - Orações para fins diversos,
por São Tomás de Aquino


"Que eu chegue a Ti, Senhor, por um caminho seguro e reto (...)
Que eu não deseje agradar nem receie desagradar senão a Ti.

Tudo o que passa torne-se desprezível a meus olhos 
por Tua causa, Senhor, 
e tudo o que Te diz respeito me seja caro, 
mas Tu, meu Deus, mais que o resto.
Qualquer alegria sem Ti me seja fastidiosa,
e nada eu deseje fora de Ti.
Qualquer trabalho, Senhor, feito por Ti me seja agradável 
e insuportável aquele de que estiveres ausente.
Concede-me a graça de erguer continuamente o coração a ti 
e que, quando eu caia, me arrependa.

Torna-me, Senhor meu Deus, obediente, pobre e casto; 
paciente; sem reclamação; 
humilde; sem fingimento; 
alegre; sem dissipação;
 triste, sem abatimento; 
reservado, sem rigidez; 
ativo, sem leviandade; 
animado pelo temor, sem desânimo; 
sincero, sem duplicidade;
fazendo o bem, sem presunção; 
corrigindo o próximo sem altivez;
edificando-o com palavras e exemplos, sem falsidade.

Dá-me, Senhor Deus, um coração vigilante
que nenhum pensamento curiose arraste para longe de Ti;
um coração pobre que nenhuma afeição indigna debilite;
um coração reto que nenhuma adversidade abale;
um coração livre que nenhuma paixão subjugue.

Concede-me, Senhor meu Deus, uma inteligência que Te conheça, 
uma vontade que Te busque, 
uma sabedoria que Te encontre,
uma vida que Te agrade,
uma perseverança que Te espere com confiança
e uma confiança que Te possua, enfim.

Amém."

Fonte: Desconhecida (folha avulsa).


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18º. dia, 03 de Setembro -  Imitação de Cristo,
por Thomas A. Kempis

Capítulo LIX: Que só em Deus devemos firmar toda esperança e confiança




"1. A alma: Senhor, que confiança posso eu ter nesta vida ou qual é minha maior consolação de tudo quanto existe debaixo do sol? Não o sois vós, Senhor, Deus meu, cuja misericórdia é infinita? Onde me achei bem sem vós, ou quando passei mal, estando vós presente? Antes quero ser pobre por vós, que rico sem vós. 

Prefiro peregrinar convosco na terra, que sem vós possuir o céu. Onde vós estais, aí está o céu; e lá existe a morte e o inferno, onde vós não estais. Vós sois o alvo de meus desejos, por isso por vós devo gemer, clamar e orar. Em ninguém, finalmente, posso plenamente confiar que me dê auxílio oportuno em minhas necessidades, senão em vós só, meu Deus. Vós sois minha esperança, vós minha confiança, vós meu consolador fidelíssimo em todas as coisas.

2. Todos buscam os seus interesses; vós, porém, só tendes em vista minha salvação e aproveitamento, e tudo converteis em bem para mim. Ainda quando me sujeitais a várias tentações e adversidades, tudo isso ordenais para meu proveito, pois de mil modos costumais provar os vossos amigos. E nessas provações não menos vos devo amar e louvar, como se me enchêsseis de celestiais consolações.

3. Em vós, portanto, Senhor meu Deus, é que ponho toda a minha esperança e refúgio; a vós entrego todas as minhas tribulações e angústias; porque tudo quanto vejo fora de vós acho fraco e inconstante. Nada me aproveitam os muitos amigos, nem me poderão ajudar os homens, nem os prudentes conselheiros me darão conselho útil, nem os livros dos sábios me poderão consolar, nem qualquer tesouro precioso me poderá salvar, nem algum retiro delicioso me proteger, se vós mesmo não me assistis, ajudais, confortais,
consolais, instruís e defendeis.

4. Pois tudo que parece próprio para alcançar a paz e a felicidade nada é sem vós, nem pode trazer-nos a verdadeira felicidade. Vós sois, pois, o remate de todos os bens, a plenitude da vida, o abismo da ciência; esperar em vós acima de tudo é a maior das consolações dos vossos servos

A vós, Senhor, levanto os meus olhos, em vós confio, Deus meu, Pai de misericórdia! Abençoai e santificai minha alma com a bênção celestial para que seja vossa santa morada, o trono de vossa eterna glória, e nada se encontre nesse tempo da vossa divindade que possa ofender os olhos de vossa majestade. Olhai para mim segundo a grandeza de vossa bondade e a multidão de vossas misericórdias e ouvi a oração do vosso pobre servo desterrado tão longe, na sombria região da morte. Protegei e conservai a alma do vosso mísero servo entre os muitos perigos desta vida corruptível, e com a assistência de vossa graça guiai-o pelo caminho da paz à pátria da perpétua claridade. 

Amém."

Reflexões

Meu Pai, diz nosso dulcíssimo Salvador, em vossas mãos entrego o meu espírito (Lc 24,46). É verdade, queria ele dizer, que tudo está consumado, e que eu cumpri tudo o que me havíeis ordenado. Mas, mesmo assim, se for vossa vontade que eu permaneça por mais tempo nesta cruz para sofrer, estou contente. 

Entrego meu espírito em vossas mãos, podeis fazer dele o que quiserdes. Não deveríamos fazer o mesmo... em qualquer ocasião, seja quando sofremos ou quando desfrutamos a vida? Meu Pai, deveríamos dizer, entrego meu espírito em vossas mãos: fazei de mim tudo que quiserdes, deixando-nos assim conduzir pela vontade divina, sem jamais preocupar-nos com a nossa vontade particular.

Nosso Senhor ama com um amor extremamente terno aqueles que são tão felizes que, por abandonar-se totalmente em seu seio paternal e deixar-se governar por sua divina providência como lhe aprouver, não precisam perder tempo em considerar se os efeitos desta providência lhes são úteis, proveitosos ou prejudiciais, pois estão tão certos de que nada poderia ser-lhes enviado desse coração paternal e tão amável, ou que ele não poderia permitir que nada lhes aconteça sem que possam tirar disso o bem e a utilidade, contanto que tenham colocado toda a sua confiança nele, e que lhe digam de boa vontade: Em tuas mãos entrego o meu espírito; e não somente meu espírito, mas ainda minha alma, meu corpo e tudo que tenho, a fim de que façais de tudo isto o que vos aprouver (Sermon pour le vendredi saint, IV, 476).

Fonte: https://www.livrariavozes.com.br/imitacao-de-cristo8532639135/p


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17º. dia, 02 de Setembro - Sobre a hipocrisia,
por Papa Francisco
(25.08.2021)

O que é a hipocrisia? Quando dizemos: "Estai atentos que aquele é um hipócrita", o que queremos dizer? O que é hipocrisia? Pode-se dizer que é o medo da verdade.  A hipocrisia tem medo da verdade. 


As pessoas preferem fingir do que ser elas mesmas. É como pintar a alma, como pintar as atitudes, o modo de proceder: não é a verdade. “Tenho medo de proceder como sou e disfarço-me com estas atitudes”. 


Fingir impede a coragem de dizer a verdade abertamente e assim, facilmente, se evita a obrigação de a dizer sempre, em todo o lado e apesar de tudo. Fingir leva-te a isto: às meias-verdades. E as meias-verdades são uma ficção: pois a verdade ou é verdade ou não é verdade. Mas as meias-verdades são este modo de agir não verdadeiro. Prefere-se, como disse, fingir em vez de ser como se é e a ficção impede aquela coragem, de dizer abertamente a verdade. 


E assim, não cumprimos a obrigação – e isto é um mandamento – de dizer sempre a verdade, em todos os lugares e apesar de tudo.  Num ambiente em que as relações interpessoais são vividas sob a bandeira do formalismo, o vírus da hipocrisia propaga-se facilmente. Aquele sorriso que não vem do coração, aquele procurar estar bem com todos, mas com ninguém…


Há vários exemplos na Bíblia onde a hipocrisia é combatida. Um bom testemunho para combater a hipocrisia é o do velho Eleazar, a quem foi pedido que fingisse que comia carne sacrificada a divindades pagãs para salvar a sua vida: fingir que a comia, mas não a comia.  Fingir que comia a carne suína, mas os amigos tinham-lhe preparado outra.  Mas o homem temente a Deus respondeu: «Não é próprio da minha idade, respondeu ele, usar de tal fingimento, não suceda que muitos jovens, julgando que Eleazar, aos noventa anos, se tenha passado à vida dos gentios, pelo meu gesto de hipócrita e por amor a um pouco de vida, se deixem arrastar por minha causa; isto seria a desonra e a vergonha da minha velhice» (2 Mc 6, 24-25). Honesto: não entra no caminho da hipocrisia. Que bela página sobre a qual refletir para se afastar da hipocrisia! 


Os Evangelhos também registam várias situações em que Jesus repreende fortemente aqueles que parecem justos no exterior, mas no interior estão cheios de falsidade e iniquidade (cf. Mt 23, 13-29). Se tiverdes um pouco de tempo hoje lede o capítulo 23 do Evangelho de São Mateus e vede quantas vezes Jesus diz: “hipócritas, hipócritas, hipócritas”, e revela o que é a hipocrisia.


O hipócrita é uma pessoa que finge, lisonjeia e engana porque vive com uma máscara no rosto, e não tem a coragem de enfrentar a verdade. Por isso, não é capaz de amar verdadeiramente – um hipócrita não sabe amar – limita-se a viver pelo egoísmo e não tem a força para mostrar o seu coração com transparência. 


Há muitas situações em que a hipocrisia pode ocorrer. Muitas vezes esconde-se no local de trabalho, onde se procura parecer amigos dos colegas enquanto a competição leva a golpeá-los pelas costas. Em política, não é raro encontrar hipócritas que vivem uma vida dupla entre a esfera pública e a privada


A hipocrisia na Igreja é particularmente detestável, e infelizmente existe a hipocrisia na Igreja, há muitos cristãos e ministros hipócritas. Nunca devemos esquecer as palavras do Senhor: «Seja este o vosso modo de falar: sim, sim, não, não; tudo o que for além disto procede do espírito do mal» (Mt 5, 37). 


Irmãos e irmãs, pensemos hoje no que Paulo condena e que Jesus condena: a hipocrisia. E não tenhamos medo de ser verdadeiros, de dizer a verdade, de ouvir a verdade, de nos conformarmos com a verdade. Assim poderemos amar. Um hipócrita não sabe amar. Agir de outra forma que não seja a verdade significa pôr em perigo a unidade na Igreja, aquela pela qual o próprio Senhor rezou.




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16º. Dia, 01 de Setembro - Quando as coisas fogem do controle,
por Pe. Antônio José

Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para a outra margem!”. Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava na barca. Havia ainda outras barcas com ele. Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”. Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!”. O vento cessou e houve uma grande calmaria. Então Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4, 35-41).

Você tem sentido ventos de tempestade em sua vida? Talvez o medo já tenha tomado conta do seu coração e você, como os discípulos, tem perguntado a Jesus: “O Senhor não se importa com tudo isso que eu estou vivendo?”


Certamente, Jesus se importa com você! Ele “entrou no seu barco”, veio tomar parte em sua vida e não deseja vê-lo naufragar. Seu naufrágio seria uma perda imensa para Jesus. Ele está perto de você, mesmo quando parece estar dormindo e deixando a tempestade mudar, momentaneamente, o rumo de sua embarcação. 


Confie no Senhor e no seu poder. A Palavra de Deus é como uma muralha contra a qual batem as ondas da vida, mas que jamais será derrubada por sua violência. Agarre-se às Suas promessas, busque e leia Sua Palavra.


Nela você encontrará o Senhor Jesus ordenando também às suas tormentas que se calem e se transformem em calmaria.


Nossa mania de controlar


Uma das piores sensações em meio a uma tempestade é perceber que a embarcação está se afastando da rota que traçamos para ela com tanta precisão e esperança. Perceber que as coisas não estão se desenrolando como havíamos imaginado e planejado pode ser motivo de grande ansiedade.


Temos uma verdadeira “mania” de controlar as situações, as pessoas e, até mesmo, o futuro. Quando temos a impressão de que as coisas estão fora de controle, acabamos nos deixando envolver pelo medo e pela insegurança. O evangelho da tempestade acalmada vem nos ensinar que, mesmo quando não estamos no controle das situações, Jesus continua presente, garantindo a chegada à outra margem do lago.


Um dia Jesus contou uma parábola a seus discípulos. Ele comparou o Reino de Deus, os planos de Deus para nossa vida, com um agricultor que espalha sementes pela terra: “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4, 26).


A imagem do agricultor maravilhado com o germinar da semente representa uma maneira de nos falar que os propósitos de Deus se concretizam em nossa vida de muitos modos que não dependem do nosso controle. O trabalhador espalha a semente mas não consegue dominar o seu percurso até florescer. Certamente, ele cuida das sementes que plantou, regando-as, mas, definitivamente, não é ele que estabelece os tempos e os modos como elas amadurecem.


Para nós, que gostamos de controlar e prever todas as coisas e o momento em que elas devem acontecer é muito difícil acreditar que o Senhor esteja no controle das situações, fazendo germinar a seu tempo as sementes que um dia plantamos


Acreditar no Pai providente e entregar o rumo de nossas vidas a Ele, é uma boa maneira de sair debaixo da pressão causada por nossa antiga mania de querer ser deuses e controlar tudo e todos ao nosso redor. Se você não se sente no controle da situação, confiança é a palavra-chave que o fará ter paz.


Vamos orar, entregando o percurso do dia de hoje nas mãos do Pai:


Pai querido, entrego-Te agora os rumos do meu dia.

Agradeço porque em Ti sou livre de toda preocupação exagerada

 e de toda ansiedade.

Obrigado também porque estás sempre comigo, 

mesmo quando as situações parecem fugir do meu controle.

Nenhuma situação, por mais difícil que seja, 

escapa de Tuas mãos poderosas.

Peço-Te, Senhor, que me cures da mania 

de querer estar sempre no comando.

Que eu saiba enxergar a Tua providência divina 

em cada momento do meu dia, 

de modo especial naqueles que não foram planejados ou desejados.

Que eu acredite em Teus planos de amor para minha vida 

e que és capaz de realizá-los de forma perfeita.

Entrego a Ti, meu Deus, 

os rumos e caminhos do meu dia de hoje.

Seja o centro de tudo e o Senhor de todas as coisas.

Amém”.




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15º. Dia, 31 de Agosto - Poesia Mística: A Colheita - nº. 32,
por Rabiindranath Tagore


"Eu não conhecia o meu Rei e, por isso, quando ele reclamou o tributo, ousadamente pensei que poderia me esconder e não pagar as minhas dívidas.

Eu fugia e fugia, por trás de meu trabalho diário e de meus sonhos noturnos. Suas cobranças, porém me perseguiam a cada momento que eu respirava.

Então fiquei sabendo que Ele me conhecia e que nenhum lugar me pertencia.

Agora meu desejo é colocar a seus pés tudo o que tenho. Assim vou ganhando o direito a meu lugar em Seu Reino".

Fonte: TAGORE, R. Poesia Mística (Lírica Breve). São Paulo, SP: Ed. Paulus,  2003. 480 p.




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14º. Dia, 30 de Agosto - O Fio Primário,
por Thiamér Toth




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13º. Dia, 29 de Agosto - Memória litúrgica de Santa Mônica,
por Passo a Rezar

"Hoje é dia vinte e sete de agosto, sexta-feira, memória litúrgica de Santa Mónica, mãe de Santo Agostinho de Hipona, falecida no ano 387.


Deixa que o Espírito Santo te trabalhe interiormente
e ponha a descoberto as razões fundas da tua oração:
o teu amor a Deus e aos irmãos...,
o teu desejo de teres Deus à mão, para aquilo que precisas...,
a tua necessidade de te sentires em segurança... 
Seja o que for que o Espírito te mostre
apresenta-o humildemente diante de Deus,
deixa que Ele purifique os teus desejos... e começa assim a tua oração.

Escuta esta passagem da primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses.


1 Tes 4, 1-8


"Eis o que vos pedimos e recomendamos no Senhor Jesus:
Recebestes de nós instruções 
sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus,
e assim estais procedendo.
Mas continuai a progredir ainda mais,
pois conheceis bem as normas que vos demos
da parte do Senhor Jesus.
A vontade de Deus é que vos santifiqueis,
que eviteis a imoralidade,
que saiba cada um de vós conservar o seu corpo
em santidade e honra,
sem se deixar dominar pelas paixões,
como os pagãos, que não conhecem a Deus.
Ninguém lese ou prejudique seu irmão nesta matéria,
pois de tudo isto se vinga o Senhor,
como já vos temos dito e assegurado.
Porque Deus não nos chamou a viver na impureza,
mas na santidade.
Portanto, quem rejeita estas instruções
não rejeita um homem mas o próprio Deus,
que vos dá o Espírito Santo." 

São Paulo diz-te: progride ainda mais, pois a vontade de Deus é que te santifiquesTu queres ser santo(a) ou achas que não é uma coisa para ti? Achas que tens progredido na tua relação com Deus? Como poderias progredir ainda mais?

Convido-te a pensares bem que Deus quer que sejas santo(a). E se Deus quer, é porque é possível. Ser santo(a) é estar alinhado com a vontade de Deus. E a vontade de Deus é que, para além de o amares acima de tudo e todos, ames o próximo como a ti mesmo(a).


Vais escutar São Paulo outra vez. Tenta imaginar o Apóstolo a escrever esta carta, sobretudo as linhas que falam da necessidade de progresso espiritual.


No final desta oração pede a Jesus que convença o teu coração que tu podes alcançar a santidade, porque isso é a vontade de Deus.


Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém."


Que Santa Mônica, nos ensine a ter paciência.


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12º. Dia, 27 de Agosto - Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro,
Tour Virtual 3D




Para uma visita e uma oração. 





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11º. Dia, 26 de Agosto - A verdadeira beleza,
por Pe. Augusto Dantas
(09.07.2021)



"A beleza verdadeira é a forma do Amor".


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10º. Dia, 25 de Agosto - Combater o Bom Combate,
por Vívian Maria Felice Moreno


Tecer a vida é permitir-se a sabedoria e nesta arte ir de encontro ao sentido da própria existência e difundi-lo no mundo. Neste preencher-se o vazio se dissipa, o conflito se transforma em entendimento, a ansiedade em calmaria, o desequilíbrio em contínuo equilíbrio porque o que se apresentava desordenado até o momento passa para sua ordenação. 

Como diz Phil Bosmans: “Pendure a sua vida em uma estrela e a noite escura não lhe poderá fazer mal”. Aqui está a compreensão da expressão combater o bom combate, com amor que abarca todas as demais virtudes que estão no âmago do ser humano. O homem que busca a sabedoria (a estrela) em seu trilhar adquire passos firmes e está consciente de que a noite escura sempre surgirá para seu próprio bem e não o oposto disso. 

Tecer é entrelaçar o que havia se rompido, resgatando o que parecia perdido e construindo redes harmoniosas tanto interna quanto externamente.

A noite escura é ensinamento, purificação e desenvolvimento humano quando se faz esta tomada de decisão para sempre seguir em frente sem abatimento, e sim com a “determinada determinação” (Santa Teresa d’Ávila); ou seja, é esta “opção fundamental” para conquistar uma vida abundantemente nova – como a lagarta que se transforma em borboleta no momento certo, pois se saísse antes de seu casulo ela eternamente ficaria na condição de lagarta. 

Como Santa Teresa alude em "Caminho de Perfeição", XXI, 2: “Agora, voltando aos que querem ir por ele sem parar até o fim, que é chegar a beber desta água de vida, como devem começar, digo que importa muito, e tudo, ter uma grande e muito determinada determinação de não parar até chegar a ela, venha o que vier, suceda o que suceder, trabalhe-se o que se trabalhar, murmure quem murmurar, quer lá se chegue, quer se morra no caminho, ou não se tenha ânimo para os trabalhos que nele há (...)”. É superar-se a cada dia, não se permitindo ir à falência, e sim a realizações que acontecem na centralidade de ser essência.

Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça (...)” (II Tm4, 7-8). O viver é de lutas diárias para o homem não se prender com as ilusões do mundo e se perder neste fragmentar-se que o torna indigno de sua gênese: de ser combatente, guerreiro.  O ser humano é a maior potência do mundo, por isso é capaz de sobrelevar-se, se reinventar, criar... se auto gestar.

Quando o indivíduo não procura a autoadministração, o abatimento chega, a queda acontece e o adoecimento se instala. É fundamental a solitude, isto é, os momentos de estar consigo para ir de encontro a sua nobreza – construída da simplicidade e autenticidade do amor para, no testemunho e serviço, despertar no outro este anseio de se conhecer; já que “o caminho do aprendizado para servir é também o da vivência para tornar concreta a misericórdia” (Irmã Bárbara PátaroBucker, MC). 

Misericórdia de se colocar no lugar do outro e entender a situação que está passando para ser solidário a sua noite escura e partilhar com ele a estrela que encontraste no caminho para que este ser humano possa acordar e perdurar seu viver.

Ser combatente é estar lúcido de si mesmo, da peregrinação por ser aprendiz, da noite escura que ensina, ilumina e direciona para que sempre esteja mais lúcido a deixar o joio para tornar-se trigo. Desta forma terás aprendido a adaptar-se as necessidades do momento tanto na abundância quanto nas privações, superando cada obstáculo sabiamente na fidelidade representada nesta determinada determinação que nunca faz o homem desistir, mas o torna maduro para converter-se e tornar-se benção.

Combater o bom combate é não abdicar da própria essência para ir de encontro às demais luzes ao seu redor e levar luz aonde enfraqueceu ou foi apagada. Combater o bom combate é ir de encontro a esta chama da vida que propaga a alegria e esperança em um mundo controverso, superficial e egoísta. Ser combatente é não se permitir morrer mesmo tendo vida, não deixar de crer na vitória e nem ser omisso no momento que é preciso ter atitude. Ser combatente é propagar o Céu na Terra, a fonte na aridez, a bonança no caos.

Em seu poema "A Noite Escura da Alma", São João da Cruz discorre sobre a vitória do amor quando o combatente encontra a estrela em seu castelo interior que o leva a durar sua vida, pois a sua finalidade é a eternidade:

 
"Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada,
Oh! ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.

Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada.
Oh! ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.

Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa,
Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.

Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.

Oh! noite que me guiaste,
Oh! noite mais amável que a alvorada;
Oh! noite que juntaste
Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!

Em meu peito florido
Que, inteiro, para Ele só guardava
Quedou-se adormecido,
E eu, terna, o regalava,
E dos cedros o leque o refrescava.

Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava,
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava. 

Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando o meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado."






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9º. Dia, 24 de Agosto - Áudio-livro "Comunicação Não Violenta",
por Marshall B. Rosenberg
(Leitura realizada por Vânia Marques do canal Desenrolendo!)




Não serei hipócrita, ainda mais que sou uma pessoa impaciente, mas creio que todos precisamos lê-lo. Sempre é citado na universidade e já que o tempo é curto para tantas tarefas, um audio-livro o otimiza. Foge um pouco do princípio diário proposto para a quaresma, afinal demanda um esforço maior. 

Aprendendo a deixar de usar o "mas..." (03:58:10 Capítulo 8) 😃


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8º. Dia, 23 de Agosto - Palavras de São João da Cruz e a análise,
por Frei Patrício Sciadini, OCD
(excerto)


XV
"[...] A noite sossegada,
Quase aos levantes do raiar da aurora;
O pássaro solitário,
A música calada,
A solidão sonora,
A ceia que recreia e enamora [...]"




"A noite sossegada"


Durante este sono espiritual que a alma dorme no peito do seu Amado, possui e goza todo o sossego, descanso e quietude de uma noite tranqüila. Recebe, ao mesmo tempo, em Deus, uma abissal e obscura compreensão divina. Por isso, diz que seu Amado é, para ela, a noite sossegada.


"Quase aos levantes do raiar da aurora"


Esta noite tranqüila, como canta aqui a alma, não é semelhante à noite escura. É, antes, como  noite já próxima aos levantes da aurora, ou por assim dizer, semelhante ao raiar da manhã. O sossego e quietude em Deus, de que goza a alma, não lhe é de todo obscuro, como uma noite cercada; pelo contrário, é um repouso e tranquilidade em luz divina, num novo conhecimento de Deus, em que o espírito se acha suavissimamente quieto, sendo elevado à luz divina

Muito adequadamente dá o nome de levantes da aurora, isto é, manhã, a essa mesma luz divina; porque assim como os levantes matutinos dissipam a escuridão da noite e manifestam a luz do dia, assim esse espírito sossegado e quieto em Deus é levantado da treva do conhecimento natural à luz matutina do conhecimento sobrenatural do próprio Deus.

Não se trata, contudo, de conhecimento claro em que nem é totalmente noite, nem é totalmente dia, mas conforme dizem, está entre duas luzes. Assim, esta solidão e sossego da alma em Deus nem percebe ainda com total claridade a luz divina, nem tampouco deixa de participar algum tanto dessa luz.


"O pássaro solitário"


Nesta quietação, o entendimento é levantado com estranha novidade acima de todo o conhecimento natural, à divina iluminação, como alguém que depois de um demorado sono, abrisse de repente, os olhos à luz não esperada.

Tal conhecimento foi significado por Davi nestes termos: "Vigiei e me fiz como pássaro solitário no telhado" (Sl 101, 8). Como se dissesse: abri os olhos do meu entendimento e me achei acima de todas as inteligências naturais, solitário sem elas no telhado, isto é, sobre todas as coisas terrenas. Diz ter feito semelhante ao pássaro solitário, porque nesta espécie de contemplação, o espírito adquire as propriedades desse pássaro, as quais são cinco.

. Primeira - ordinariamente se põe ele no lugar mais alto; assim também, o espírito, neste estado eleva-se à mais alta contemplação. 

. Segunda - sempre conserva o bico voltado para o lado onde sopra o vento; o espírito, de modo semelhante, volve o bico de seu afeto para onde lhe vem o espírito de amor, que é Deus. 

. Terceira - permanece sempre sozinho e não tolera outros pássaros junto a si; se acontece algum vir pousar onde ele se acha, logo levanta vôo. Assim o espírito, nesta contemplação, está sempre em solidão de todas as coisas, despojado de tudo, sem consentir que haja em si outra coisa a não ser essa mesma solidão em Deus.

. Quarta - canta muito suavemente; o mesmo faz o espírito, para com Deus, por esse tempo e os louvores que a Ele dá, são impregnados de suavíssimo amor, sobremaneira deliciosos para si mesmo e preciosíssimo para Deus. 

. Quinta - não tem cor determinada; assim também o espírito perfeito não só deixa de ter, neste excesso, cor alguma de afeto sensível ou de amor-próprio, mas até carece agora de qualquer consideração particular, seja das coisas do céu ou da terra, nem poderá delas dizer coisa alguma, por nenhum modo ou maneira, porquanto é um abismo essa notícia de Deus que lhe é dada.


"A música calada"


Naquele sossego e silêncio da referida noite, bem como naquela notícia de luz divina, claramente vê a alma uma admirável conveniência e disposição da sabedoria de Deus, na diversidade de todas as criaturas e obras. Com efeito, toda e cada uma delas têm certa correspondência a Deus, pois cada uma, a seu modo, dá sua voz testemunhando o que nela é Deus. De sorte que parece à alma uma harmonia de música elevadíssima, sobrepujando todos os concertos e melodias do mundo.

Chama essa música "calada", porque é conhecimento sossegado e tranqüilo, sem ruído de vozes; e assim goza a alma nele, a um tempo, a suavidade da música calada, pois nele se conhece e goza essa harmonia de música espiritual. Não somente lhe é isto o Amado, mas também é.


"A solidão sonora"


Significa mais ou menos a mesma coisa que a música calada; porque esta música, embora seja silenciosa para os sentidos e potências naturais, é solidão muito sonora para as potências espirituais. Estas, na verdade, estando já solitárias e vazias de todas as formas e apreensões naturais, podem perceber no espírito, mui sonoramente, o som espiritual da excelência de Deus em si e nas suas criaturas.

Realiza-se então o que dissemos ter visto São João, em espírito, no Apocalipse, a saber: vozes de muitos citaristas em seus instrumentos. Isto sucedeu no espírito e não em cítaras materiais, pois consistia em certo conhecimento de louvores que cada um dos bem-aventurados, em sua glória particular, eleva a Deus continuamente, qual música harmoniosa. 

Com efeito, na medida em que cada qual possui de modo diverso os dons divinos, assim cada um canta seu louvor diferentemente, e todos unidos cantam numa só harmonia de amor como num concerto.

De modo semelhante, a alma percebe, mediante aquela sabedoria tranqüila em todas as criaturas, não só superiores como inferiores que, em proporção dos dons recebidos por Deus, cada uma dá sua voz testemunhando ser Ele quem é. Conhece também como cada qual, à sua maneira, glorifica a Deus, tendo-O em si segundo a própria capacidade. E assim, todas estas vozes fazem uma melodia admirável cantando a grandeza, a sabedoria e ciência do Criador.

Tudo isto quis dizer o Espírito Santo no livro da Sabedoria, por estas palavras: "O Espírito do Senhor encheu a redondeza da terra e este mundo que contém tudo quanto Ele fez tem a ciência da voz" (Sb 1, 7). Esta é a solidão sonora que a alma conhece aqui e que consiste no testemunho de Deus dado por todas as coisas em si mesmas. E porquanto a alma não percebe esta música sonora sem a solidão e o alheamento de todas essas coisas exteriores, dá-lhe o nome de música calada e solidão sonora, que para ela é o próprio Amado.


"A ceia que recreia e que enamora"


A ceia, aos amados, causa recreação, fartura e amor. Com estes três efeitos são produzidos pelo Amado na alma e por esta comunicação tão suave, ela aqui O chama "ceia que recreia e que enamora". Notemos como a Sagrada Escritura dá o nome de ceia à visão divina

Com efeito, a ceia é o remate do trabalho do dia e o princípio do descanso noturno; assim também, esta notícia sossegada a que nos referimos, faz a alma experimentar cer fim de males e posse de bens, em que se enamora de Deus mais intensamente do que antes. Eis porque o Amado é para ela a ceia que a recreia dando fim aos males e a enamora dando-lhe a posse de todos os bens.

A fim de dar, porém, a entender melhor qual seja para alma esta ceia que, como dissemos é o próprio Amado, convém notar aqui o que o mesmo amado Esposo declara no Apocalipse: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo" (Ap 3, 20).

Nestas palavras mostra Ele como traz a ceia consigo e esta não é outra coisa senão o próprio sabor e deleite de que Ele mesmo goza. E unindo-se à alma lhe comunica fazendo com que ela participe de seu gozo e isto significa cearem juntos. Nestes termos é simbolizado o efeito da divina união da alma com Deus: os mesmos bens próprios a Deus se tornam comuns à alma Esposa, sendo-lhe comunicados por Ele, de modo liberal e generoso"


Fonte: SCIADINI, Frei Patrício OCD. Cânticos Espirituais São João da Cruz: Um convite para entrar na intimidade de Deus. Fortaleza: Edições Shalom, 2003.

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7º. Dia, 21 de Agosto - A Maturidade Afetiva,
por Rafael Llano Cifuentes


No nosso mundo altamente técnico e cheio de avanços científicos, pouco se tem progredido no conhecimento das profundezas do coração. “Vivemos hoje o drama de um desnível gritante entre o fabuloso progresso técnico e científico e a imaturidade quase infantil no que diz respeito aos sentimentos humanos”.

A afetividade não está por assim dizer encerrada no coração, nos sentimentos, mas permeia toda a personalidade. Estamos continuamente sentindo aquilo que pensamos e fazemos. Por isso, qualquer distúrbio da vida afetiva acaba por impedir ou pelo menos entravar o amadurecimento da personalidade como um todo.

Observamos isto claramente no fenômeno de fixação na adolescência ou na adolescência retardada. Como já anotamos, o adolescente caracteriza-se por uma afetividade egocêntrica e instável; essa característica, quando não superada na natural evolução da personalidade, pode sofrer uma fixação, permanecendo no adulto: este é um dos sintomas da imaturidade afetiva.

É significativo verificar como essa imaturidade parece ser uma característica da atual geração. No nosso mundo altamente técnico e cheio de avanços científicos, pouco se tem progredido no conhecimento das profundezas do coração, e daí resulta aquilo que Alexis Carrel, prêmio Nobel de Medicina, apontava no seu célebre trabalho "O homem, esse desconhecido": vivemos hoje o drama de um desnível gritante entre o fabuloso progresso técnico e científico e a imaturidade quase infantil no que diz respeito aos sentimentos humanos.

Mesmo em pessoas de alto nível intelectual, ocorre um autêntico "analfabetismo afetivo": são indivíduos truncados, incompletos, mal-formados, imaturos; estão preparados para trabalhar de forma eficiente, mas são absolutamente incapazes de amar

Esta desproporção tem conseqüências devastadoras: basta reparar na facilidade com que as pessoas se casam e se descasam, se juntam e se separam. Dão a impressão de reparar apenas na camada epidérmica do amor e de não aprofundar nos valores do coração humano e nas leis do verdadeiro amor.

Quais são, então, os valores do verdadeiro amor? Que significado tem essa palavra?

O amor, na realidade, tem um significado polivalente, tão difícil de definir que já houve quem dissesse que o amor é aquilo que se sente quando se ama, e, se perguntássemos o que se sente quando se ama, só seria possível responder simplesmente: Amor. Este círculo vicioso deve-se ao que o insigne médico e pensador Gregório Marañon descrevia com precisão: "O amor é algo muito complexo e variado; chama-se amor a muitas coisas que são muito diferentes, mesmo que a sua raiz seja a mesma".

 
A MATURIDADE NO AMOR

 
Hoje, considera-se a satisfação sexual autocentrada como a expressão mais importante do amor. Não o entendia assim o pensamento clássico, que considerava o amor da mãe pelos filhos como o paradigma de todos os tipos de amor: o amor que prefere o bem da pessoa amada ao próprio. Este conceito, perpassando os séculos, permitiu que até um pensador como Hegel, que tem pouco de cristão, afirmasse que a verdadeira essência do amor consiste em esquecer-se no outro.

Bem diferente é o conceito de amor que se cultua na nossa época. Parece que se retrocedeu a uma espécie de adolescência da humanidade, onde o que mais conta é o prazer. Este fenômeno tem inúmeras manifestações. Referir-nos-emos apenas a algumas delas:

. Edifica-se a vida sentimental sobre uma base pouco sólida: confunde-se amor com namoricos, atração sexual com enamoramento profundo. Todos conhecemos algum don Juan: um mestre na arte de conquistar e um fracassado à hora da abnegação que todo o amor exige. Incapazes de um amor maduro, essas pessoas nunca chegam a assimilar aquilo que afirmava Montesquieu: "É mais fácil conquistar do que manter a conquista";

. Diviniza-se o amor: "A pessoa imatura" – escreve Enrique Rojas – "idealiza a vida afetiva e exalta o amor conjugal como algo extraordinário e maravilhoso. Isto constitui um erro, porque não aprofunda na análise. O amor é uma tarefa esforçada de melhora pessoal durante a qual se burilam os defeitos próprios e os que afetam o outro cônjuge (…). A pessoa imatura converte o outro num absoluto. Isto costuma pagar-se caro. É natural que ao longo do namoro exista um deslumbramento que impede de reparar na realidade, fenômeno que Ortega y Gasset designou por doença da atenção, mas também é verdade que o difícil convívio diário coloca cada qual no seu lugar; a verdade aflora sem máscaras, e, à medida que se desenvolve a vida ordinária, vai aparecendo a imagem real";

. No imaturo, o amor fica cristalizado: Como diz Stendhal, "nessa fase de deslumbramento, e não aprofunda na versão real que o convívio conjugal vai desvendando". Quando o amor é profundo, as divergências que se descobrem acabam por superar-se; quando é superficial, por ser imaturo, provocam conflitos e freqüentemente rupturas;

. A pessoa afetivamente imatura desconhece que os sentimentos não são estáticos, mas dinâmicos: São suscetíveis de melhora e devem ser cultivados no viver quotidiano. São como plantas delicadas que precisam ser regadas diariamente. "O amor inteligente exige o cuidado dos detalhes pequenos e uma alta porcentagem de artesanato psicológico" (E.Rojas). A pessoa consciente, madura, sabe que o amor se constrói dia após dia, lutando por corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar sempre afeição e carinho;

. Os imaturos querem antes receber do que dar: Quem é imaturo quer que todos sejam como uma peça integrante da máquina da sua felicidade. Ama somente para que os outros o realizem. Amar para ele é uma forma de satisfazer uma necessidade afetiva, sexual, ou uma forma de auto-afirmação. O amor acaba por tornar-se uma espécie de grude que prende os outros ao próprio eu para completá-lo ou engrandecê-lo, mas esse amor, que não deixa de ser uma forma transferida de egoísmo, desemboca na frustração. Procura cada vez mais atrair os outros para si e os outros vão progressivamente afastando-se dele. Acaba abandonado por todos, porque ninguém quer submeter-se ao seu pegajoso egocentrismo; ninguém quer ser apenas um instrumento da felicidade alheia.

Há uns dez anos comprei uma caderneta lilás e hoje entendo o porquê.

Os sentimentos são caminho de ida e volta; deve haver reciprocidade. A pessoa imatura acaba sempre queixando-se da solidão que ela mesma provocou por falta de espírito de renúncia. A nossa sociedade esqueceu quase tudo sobre o que é o amor. Como diz Enrique Rojas: "Não há felicidade se não há amor e não há amor sem renúncia". Um segmento essencial da afetividade está tecido de sacrifício. Algo que não está na moda, que não é popular, mas que acaba por ser fundamental.

Há pouco, um amigo, professor de uma Faculdade de Jornalismo, referiu-me um episódio relacionado com um seu primo – extremamente egoísta – que se tinha casado e separado três vezes. No cartão de Natal, após desejar-lhe boas festas, esse professor perguntava-lhe em que situação afetiva se encontrava. Recebeu uma resposta chocante: "Assino eu e a minha gata. Como ela não sabe assinar, o faz estampando a sua pata no cartão: são as suas marcas digitais. Este animalzinho é o único que quer permanecer ao meu lado. É o único que me ama".

O imaturo pretende introduzir o outro no seu projeto pessoal de vida, em vez de tentar contribuir com o outro num projeto construído em comum. A felicidade do cônjuge, da família e dos filhos: esse é o projeto comum do verdadeiro amor. As pessoas imaturas não compreendem que a dedicação aos filhos constitui um fator importante para a estabilidade afetiva dos pais. 

Também não assimilaram a idéia de que, para se realizarem a si mesmos, têm de se empenhar na realização do cônjuge. Quem não é solidário termina solitário. Ou juntando-se a uma gatinha, seja de que espécie for.

 
EDUCAR A AFETIVIDADE

 
Mais do que nunca, é preciso prestar atenção hoje à educação da afetividade dos filhos e à reeducação da afetividade dos adultos. Uma educação e uma reeducação que devem ter como base esse conceito mais nobre do amor que acabamos de formular: aquele que vai superando o estágio do amor de apetência – que apetece e dá prazer – para passar ao amor de complacência – que compraz afetivamente – e abrir-se ao amor oblativo de benevolência – que sabe renunciar e entregar-se para conseguir o bem do outro.

O amor maduro exige domínio próprio: ir ascendendo do mundo elementar – imaturo – do mero prazer, até o mundo racional e espiritual em que o homem encontra a sua plena dignidade. Reclama que se canalizem as inclinações naturais sensitivas para pô-las ao serviço da totalidade da pessoa humana, com as suas exigências racionais e espirituais.

Requer que se conceda à vontade o seu papel reitor, livre e responsável. Pede que, por cima dos gostos e sentimentos pessoais, se valorizem os compromissos sérios reciprocamente assumidos… Aaron Beek, no seu livro "Só o amor não basta", insiste repetidamente em que é necessária a determinação da vontade para dar consistência aos movimentos intermitentes do coração: o mero sentimento não basta.

"O amor como dom de si comporta" – diz o Catecismo da Igreja Católica – "uma aprendizagem do domínio de si (…)". As alternativas são claras: ou o homem comanda e domina as suas paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz. Esse domínio de si mesmo é um trabalho a longo prazo. Nunca deve ser considerado definitivamente adquirido. Supõe um esforço a ser retomado em todas as idades da vida.
Isto significa cultivar o amor

O maior de todos os amores desmoronar-se-á se não for aperfeiçoado diariamente. Empenho este que, na vida diária, se traduz no esforço por esmerar-se na realização das pequenas coisas, à semelhança do trabalho do ourives, feito com filigranas delicadamente entrelaçadas cada dia, na tarefa de aprimorar o trato mútuo, evitando os pormenores que prejudicam a convivência.

A convivência é uma arte preciosa. Exige uma série de diligências: prestar atenção habitual às necessidades do outro; corrigir os defeitos; superar os pequenos conflitos para que não gerem os grandes; aprender a escutar mais do que a falar; vencer o cansaço provocado pela rotina; retribuir com gratidão os esforços feitos pelo outro… e, especialmente, renovar, no pequeno e no grande, o compromisso de uma mútua fidelidade que exige perseverança nas menores exigências do amor…, uma perseverança que não goza dos favores de uma sociedade hedonista e permissivista, inclinada sempre ao mais gostoso e prazeroso.

O coração não foi feito para amoricos, dizíamos, mas para amores fortes. O "sentimentalismo" é para o amor o que a caricatura é para o rosto. Alguns parecem ter o coração de chiclete: apegam-se a tudo. Uns olhos bonitos, uma voz meiga, um caminhar charmoso, podem fazer-lhes tremer os fundamentos da fidelidade. 

Outros parecem inveterados novelistas: sentem sempre a necessidade de estar envolvidos em algum romance, real ou imaginário, sendo eles os eternos protagonistas: dão a impressão de que a televisão mental lhes absorve todos os pensamentos.

Precisamos educar o nosso coração para a fidelidade. Amores maduros são sempre amores fiéis. Não podemos ter um coração de bailarina. A guarda dos sentidos – especialmente da vista – e da imaginação há de proteger-nos da inconstância sentimental, do comportamento volátil de um beija-flor… Tudo isto faz parte do que denominávamos a educação afetiva dos jovens e a reeducação afetiva dos adultos.

João Paulo II a chama "a educação para o amor como dom de si": diante de uma cultura que "banaliza" em grande parte a sexualidade humana, porque a interpreta e vive de maneira limitada e empobrecida, ligando-a exclusivamente ao corpo e ao prazer egoístico, a tarefa educativa deve dirigir-se com firmeza para uma cultura sexual verdadeira e plenamente pessoal. 

A sexualidade, de fato, é uma riqueza da pessoa toda – corpo, sentimento e alma -, e manifesta o seu significado íntimo ao levar a pessoa ao dom de si no amor.

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6º. Dia, 20 de Agosto - A mulher na vida social do mundo e na vida da Igreja,
por São Josemaría Escrivá
(Ponto 106)

Um grande problema feminino é o das mulheres solteiras. Referimo-nos àquelas que, embora com vocação matrimonial, não chegam a casar-se. Como não o conseguem, perguntam-se: para que estamos nós no mundo? Que lhes responderia?

Para que estamos no mundo? Para amar a Deus com todo o nosso coração e com toda a nossa alma, e para estender esse amor a todas as criaturas. Ou será que isto parece pouco? Deus não deixa nenhuma alma abandonada a um destino cego; para todas tem um desígnio, a todas chama com uma vocação pessoalíssima, intransferível.

O matrimônio é caminho divino, é vocação. mas não é o único caminho, nem a única vocação. Os planos de Deus para cada mulher não estão necessariamente ligados ao matrimônio. Têm vocação e não chegar a casar-se? Em algum caso, talvez seja assim; ou, quem sabe, talvez tenha sido o egoísmo ou o amor próprio que impediu que esse chamado de Deus se cumprisse. 

Mas, outras vezes a maioria mesmo, isso pode ser um sinal de que o Senhor não lhes deu vocação matrimonial. Sim, gostam de crianças, sentem que seriam boas mães, que entregariam seu coração fielmente ao marido e aos filhos. Mas isso é normal em todas as mulheres, também naquelas que, por vocação divina, não se casam — podendo fazê-lo — para se ocuparem no serviço de Deus e das almas.


Não se casaram? Pois bem: que continuem, como até agora, amando a vontade de Deus, vivendo na intimidade desse Coração amabilíssimo de Jesus, que não abandona ninguém, que é sempre fiel, que vai olhando por nós ao longo desta vida, para se dar a nós desde agora e para sempre.

Além disso, a mulher pode cumprir a sua missão — como mulher, com todas as suas características femininas , incluindo as características afetivas da maternidade — em círculos diferentes da própria família; em outras famílias, na escola, em obras assistenciais, em mil lugares. 

A sociedade é, às vezes, muito dura — com grande injustiça — para com aquelas a quem chamam de solteirona. Mas há mulheres solteiras que difundem à sua volta alegria, paz, eficácia, que sabem entregar-se nobremente ao serviço dos outros e ser mães, em profundidade espiritual, com mais realidade do que muitas que são mães apenas fisiologicamente.




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5º. Dia, 19 de Agosto - Imitação de Cristo,
por Thomas A. Kempis

Capítulo XXX: Como se há de pedir o auxílio divino e confiar para recuperar a graça




1. Jesus: "Filho, eu sou o Senhor, que te conforta no dia da tribulação" (Na 1,7). Vem a mim quando te achares aflito. O que mais te impede de receber a consolação é que tarde recorres à oração. Antes que ores com atenção, procuras consolar-te, recreando-te com vários divertimentos exteriores. Daqui vem que pouco proveito tiras de tudo, até que conheças que sou eu quem salva do perigo os que em mim esperam, e que fora de mim não há auxílio valioso, nem conselho útil, nem remédio durável. Uma vez, porém, que recobraste alento depois da tempestade, procura readquirir forças à luz das minhas misericórdiaspois estou perto, diz o Senhor, para tudo restaurar, não só com integridade, mas também com abundância e profusão.

2. "Porventura há para mim alguma coisa dificultosa" (Jr 32,37), ou sou semelhante àquelas que dizem e não fazem? Onde está a tua fé? Tem firmeza e segurança! Mostra-te corajoso e magnânimo, e a seu tempo te virá a consolação. Espera por mim, espera! eu virei e te curarei. É tentação o que te atormenta, é temor vão o que te assusta. Que ganhas com a solicitude de um futuro contingente, senão que tenhas tristeza sobre tristeza? "A cada dia basta seu fardo" (Mt 6,34). Coisa vã e inútil é entristecer-se ou regozijar-se com as coisas futuras, que talvez nunca venham a realizar-se.

3. É próprio do homem deixar-se iludir por tais imaginações, mas é sinal de pouco ânimo ceder tão facilmente às sugestões do inimigo. A ele pouco importa se é por meios verdadeiros ou falsos que te seduz e engana, se é com o amor dos bens presentes, ou com o temor dos males futuros que te deita a perder. “Não se perturbe, pois, teu coração, nem se amedronte” (Jo 14,27). Crê em mim, e tem confiança em minha misericórdia. Quando te julgas muito longe de mim, mais perto estou, às vezes, de ti. Quando pensas que está tudo quase perdido, muitas vezes está próxima a ocasião de granjeares maior merecimento. Nem tudo está perdido, por te acontecer alguma contrariedade. Não julgues pela impressão do momento, nem te aflijas com qualquer tribulação, venha donde vier, como se não houvesse esperança de remédio.

4. Não te julgues inteiramente desamparado, ainda quando, de tempos a tempos, te mando alguma tribulação ou te privo de alguma consolação desejada; porque é este o caminho por onde se vai ao Reino dos Céus. E isto, sem dúvida, convém mais a ti e a todos os meus servos, serdes exercitados nas adversidades, do que se tudo vos sucedesse à vossa vontade. Eu conheço os pensamentos escondidos, e sei que muito importa à tua salvação seres, às vezes, privado de toda consolação espiritual, para que não te exalte o bom progresso e te desvaneças do que não és. O que dei posso tirar, e dar de novo, quando me aprouver.

5. É sempre meu o que dou, e quando o tiro; não tomo coisa tua, pois “de mim procede qualquer dádiva boa de todo dom perfeito” (Tg 1,17). Se eu te enviar qualquer pena ou contrariedade, não te revoltes nem desfaleça teu coração; eu posso num momento aliviar-te e transformar tua mágoa em alegria. Todavia, procedendo eu assim para contigo, sou justo e digno de louvor.

6. Se refletires bem e julgares as coisas segundo a verdade, não deves afligirte tanto com a adversidade, nem desanimar, mas, ao contrário, alegrar-te e dar-me graças. Até deve ser tua única alegria que eu te aflija com dores, sem poupar-te. "Assim como meu Pai me amou, também eu vos amo a vós" (Jo 15,19), disse eu a meus diletos discípulos, e, entretanto, não os enviei às delícias temporais, mas às grandes pelejas; não às honras, mas aos desprezos; não aos passatempos, mas aos trabalhos; não a descansar, mas sim a produzir fruto copioso na paciência. Meu filho, lembra-te bem destas palavras.

Reflexões e Orações

Humilha-te profundamente diante de Deus no conhecimento de teu nada e miséria. Meu Deus, o que será de mim, quando estou em mim mesmo? Não outra coisa, Senhor, senão uma terra seca que, rachada em toda parte, testemunha a sede que tem da chuva do céu, e, no entanto, o vento a dissipa e reduz a poeira.

Invoca a Deus, e pede-lhe sua alegria: "Dai-me, Senhor, a alegria de vossa salvação" (Sl 51,14). "Meu Pai, se é possível, afastai de mim este cálice" (Lc 22,42). "Afasta-te de mim, ó vento norte infrutífero que ressecas a minha alma, e vem, ó aprazível vento das consolações, e vem soprar em meu jardim, e seus bons afetos espalharão o odor de suavidade" (Ct 4,16).

Entre todas as nossas securas e esterilidades, não devemos jamais perder a coragem; mas, esperando com paciência o retorno das consolações, seguir sempre o nosso rumo, sem abandonar nenhum exercício de devoção, mas, na medida do possível, multiplicar nossas boas obras; e não podendo apresentar ao nosso caro Esposo frutas em calda, vamos apresentar-lhe frutas secas; porque para ele é tudo a mesma coisa, contanto que o coração que os oferece esteja perfeitamente decidido de querer amá-lo.

"Acontece muitas vezes, minha Filoteia, que a alma, vendo-se na bela primavera das consolações espirituais, tanto se entretém em acumulá-las e sorvê-las, que, na abundância dessas doces delícias, ela pratica muito menos boas obras; e que, ao contrário, entre as asperezas e esterilidades espirituais, à medida que ela se vê privada dos sentimentos agradáveis da devoção, ela multiplica tanto mais as obras sólidas e superabunda na geração interior das verdadeiras virtudes da paciência, humildade, abjeção de si mesma, resignação e abnegação de seu amor-próprio" (Introduction à la vie dévote, parte IV, cap. XIV, I, 263 e 264).

Fonte: https://www.livrariavozes.com.br/imitacao-de-cristo8532639135/p


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4º. Dia, 18 de Agosto - Uma curiosa mesa-redonda, 
por Luiz Fernando Cintra
(Livro "Como Orar?" da Ed. Quadrante)


Imaginemos que estamos diante de uma televisão toda especial, um autêntico portento da tecnologia. A sua particularidade é ultrapassar as barreiras do tempo, unindo eventos de diversas épocas num mesmo momento. O programa que sintonizamos é uma mesa-redonda que tem por tema “A necessidade da oração”. Foram convidados especialistas de séculos muito diversos para falar sobre o assunto.

Depois das devidas apresentações, o moderador cede a palavra ao primeiro dos convidados. A câmera focaliza um rosto expressivo, de olhos vivos. Trata-se de Santa Teresa de Ávila, que desempenhou um papel fundamental na renovação espiritual da Igreja no século XVI. As suas obras são referência obrigatória quando o tema é oração. Com voz firme e decidida, toca diretamente o coração dos espectadores:

– “Só há um caminho para chegar a Deus: a oração; se vos indicarem outro, enganam-vos(1).

Dando pleno apoio às palavras de Teresa de Ávila, toma o microfone Santo Afonso de Ligório, bispo e Doutor da Igreja, que viveu no século XVIII. As suas obras sobre Nossa Senhora e sobre o relacionamento com Deus continuam a ter enorme difusão. Com os seus gestos serenos e cativantes, ganha imediatamente a simpatia e a admiração dos espectadores:

– “Todos os santos se santificaram por meio da oração; todos os condenados se perderam por não terem orado; se o tivessem feito com persistência, ter-se-iam salvo(2).

Os assistentes estremecem perante a seriedade da disjuntiva: salvação ou perdição eterna. A câmera focaliza então um rosto sorridente. Trata-se de São Josemaría Escrivá que, nos nossos dias, abriu aos leigos um caminho acessível e alegre de santificação no meio da sua vida diária:

– “A oração é o fundamento de toda a atividade sobrenatural. Com a oração, somos onipotentes, e, se prescindíssemos desse recurso, nada conseguiríamos(3).

Que enorme poder o da oração! O microfone volta para a Santa de Ávila:

– “Quem não faz oração não necessita de demônio que o tente; ao passo que quem a faz apenas quinze minutos por dia, necessariamente se salva(4).

Um tempo tão breve para uma felicidade eterna! Como para reforçar o assunto, toma a palavra um homem de ampla humanidade e voz pausada: é Tomás de Aquino, uma das maiores luminárias da filosofia e da teologia, ao mesmo tempo que alma profundamente contemplativa:

– “A oração é necessária, não para que Deus tome conhecimento das nossas necessidades, mas para que nós nos demos conta da necessidade que temos de recorrer a Deus(5).

O que impressiona é que essas almas santas falam não só de uma grande “conveniência” da oração, mas de uma necessidade absoluta, comparável à necessidade que temos do ar ou do alimento para a vida corporal.

Esse programa de televisão não existiu nem existirá: é mero produto da imaginação. Mas todas as frases que citamos são autênticas e sublinham unanimemente a necessidade da oração para a salvação e para a construção de uma vida cristã séria.

Talvez por causa dessa relação tão estreita, as pessoas que se afastaram de Deus durante uma temporada e desejam retornar a Ele ressaltem, como sua primeira e principal falha, precisamente essa: “Desleixei as minhas orações…, esqueci-me de Deus…” E sabem que o caminho de retorno passará, necessariamente, por esse meio imprescindível.


O DOM DA ORAÇÃO


Genialmente irrepetível é a concepção artística de Michelangelo sobre a criação do homem, na Capela Sistina. Um Deus de aspecto majestoso quase toca com o seu dedo divino o dedo da primeira mão humana. Naqueles milímetros que separam os dois seres fica representada a distância infinita que há entre a criatura e o Criador, mas ao mesmo tempo os dois olhares se encontram num primeiro laço de amizade.

O nosso Criador é inabarcável, inteiramente inatingível por meio dos sentidos. E poderia muito bem ter permanecido assim, reservando para a outra vida toda e qualquer possibilidade de um encontro pessoal com Ele. Mas quis tornar-se acessível, quis que, por assim dizer, os nossos olhares pudessem cruzar-se com o seu já nesta vida, para que o nosso coração pudesse aproximar-se do seu com inteira confiança.

A oração não é, pois, nada normal, na medida em que é muito pouco razoável que o Todo-Poderoso se disponha a ouvir-nos a cada um de nós, nas nossas necessidades e circunstâncias. É um dom divino que procede da sua bondade infinita. Como dizia o Cura d´Ars, “Deus é tão bom que nos permitiu falar com Ele (6). E, ao mesmo tempo, esse dom divino é a coisa mais normal possível, no sentido de que não exige marcar hora nem combinar um local. Basta pormo-nos na presença de Deus, que nos é mais íntimo do que nós a nós mesmos, e falar-lhe. “Para mim – dizia Santa Teresa de Lisieux –, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou da alegria(7).


MAS PARA QUE ORAR?


O antigo Catecismo das crianças, respondendo à pergunta sobre o motivo pelo qual o homem foi criado, afirmava categoricamente: “O homem foi criado para conhecer e amar a Deus nesta vida…” Todos percebemos que só pode ser esta a razão de ser, o principal objetivo da nossa vida. E a oração é o caminho para o atingirmos, um caminho insubstituível. Só através dela obtemos a proximidade pessoal com Deus, uma proximidade que não se adquire pelo simples estudo da doutrina cristã e da ciência moral, nem por uma vida moral imune a toda a crítica, nem pelo cumprimento de uns elaborados ritos externos.

Não há dúvida de que, sem um conhecimento adequado da doutrina católica, a nossa oração seria sempre “subnutrida”, mirrada; mas não é menos verdade que, sem oração, o mero conhecimento doutrinal tenderia a transformar-se numa espécie de “matemática do espírito”, árida, fria e estéril. A primeira finalidade da oração é, portanto, abrir-nos a esse dom e permitir-nos chegar a um conhecimento pessoal e cordial de Deus.

Mas, para chegarmos a essa intimidade com Deus, é preciso também que nos conheçamos a nós mesmos, que saibamos quem é esse “eu” que pretende conversar com o seu Criador. Ou seja, a segunda finalidade pela qual fazemos oração é que ela deve conduzir-nos ao conhecimento próprio.

Espelho, espelho meu, existe alguém no mundo mais bela do que eu?”, perguntava-se a rainha do conto de fadas. E o espelho respondia afirmativa ou negativamente. Oxalá o espelho da nossa consciência respondesse tão claramente às dúvidas que temos sobre nós mesmos.

Em muitas ocasiões, somos uma incógnita aos nossos próprios olhos, porque o nosso verdadeiro rosto está oculto sob o véu das nossas paixões, do receio de nos reconhecermos como somos, do orgulho que retoca as nossas obras com cores irreais, do egoísmo que defende a todo o custo o proveito próprio.

Ora, o espelho que responde às questões sobre nós mesmos só pode ser, por isso, um espelho “indireto”: o espelho da oração. Só espelhando-nos em Deus, vendo-o como nosso Criador e vendo-nos como criaturas suas, sabendo-nos filhos seus pelo Batismo, mas também pecadores que o ofenderam e continuam a ofendê-lo…, só assim iremos retirando esse véu que nos esconde de nós mesmos.

Por outro lado, há na nossa vida ainda um outro véu: a incerteza sobre o que fazer. Que caminho seguir na vida? Como sobreviver neste mundo, sendo honesto? Como encarar serenamente essa dificuldade familiar? O que Deus quer de mim com este desastre econômico? Por que esta doença agora?

Deus conhece as respostas a todas essas perguntas, e está sempre à nossa disposição para nos dar as explicações ou os confortos necessários.

No entanto, como dizia Santo Afonso de Ligório, “Deus não costuma falar à alma que não lhe fala(8): o Senhor deseja falar-nos do seu amor e dos seus planos a nosso respeito, mas, se nós não nos dispusermos a procurá-lo – a fazer oração –, permaneceremos na ansiedade da dúvida.

A oração é, portanto, também o grande meio para descobrirmos a resposta ao “Que devo fazer nesta vida?” A resposta, em si, é muito simples: a vontade de Deus. Mas não se trata apenas dessa vontade divina que poderíamos chamar “genérica”, aplicável a todos os homens, e que se expressa nos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja; trata-se, mais especificamente, da vontade concreta de Deus para mim, aqui e agora. Desde as grandes decisões que precisamos tomar na nossa vida até as decisões corriqueiras do nosso dia-a-dia, tudo deve seguir a orientação divina, num ato de confiante aceitação e obediência.

É por isso que, para nos aproximarmos de Deus, não nos basta apenas evitar o descumprimento dos preceitos divinos. Não nos basta ser “certinhos”, ser “bons” ou até isso a que chamam “um santo”, mas sempre pela via negativa: “Não mato, não roubo, não minto”… Isso seria reduzir a religião a um legalismo mais ou menos do mesmo tipo do daqueles que dizem: “A minha religião me proíbe de fumar”. Não: o cristão não é um colecionador maníaco de regras e proibições negativas: é um filho empenhado em aceitar e fazer por amor a vontade desse Deus que o amou primeiro (cf. 1 Jo 4, 10).

De certa forma, toda a nossa oração se resume à pergunta de Saulo, depois de cair do cavalo cegado pela luz divina: "Senhor, que queres que eu faça?" (At 9, 6). Aquele judeu legalista, ferreamente empenhado em perseguir os cristãos porque, no seu entender, tinham violado a Lei de Moisés, transformou-se, na sequência dessas palavras tão simples, no mais fogoso dos Apóstolos de Cristo.

Por fim, temos necessidade de orar porque, quando nos empenhamos seriamente em pôr em prática o que Deus quer de nós, descobrimo-nos faltos de forças, de capacidades e talentos. Faltos de tudo, necessitados de uns bens materiais, sem dúvida, mas sobretudo de bens espirituais – de fé, de fortaleza, de esperança – que só Ele pode conceder. Por isso, nada mais natural do que dirigirmo-nos ao Deus onipotente, numa atitude de súplica. Bem diz o novo Catecismo da Igreja Católica que “o homem é um mendigo de Deus” (n. 2559) . Se é lógico que um mendigo peça aos homens o que precisa, muito mais lógico é que, na oração, o homem peça a Deus tudo.

Orar é o caminho para atalhar todos os males que sofremos(9). São imensas as promessas que encerra esta afirmação do Bem-aventurado Josemaría Escrivá. Atalhar os males” da vida – a solidão, o tédio proveniente da ausência de sentido para a própria vida, um sofrimento humanamente irremediável, a carência de uns bens necessários, a desorientação à hora de agir – não é o que todas as pessoas buscam? Aí está a solução. Acessível a todos, não como a receita barata oferecida por um enganador, para curar todas as doenças; mas como a solução de tudo pela sua raiz, que é Deus.


E O QUE É FAZER ORAÇÃO?


Todos sabemos, ao menos genericamente, o que é a oração. Mesmo os que não oram, os que não creem, os que têm uma vida desregrada, sabem o que é orar, embora pessoalmente não o pratiquem… ou o façam com uma fé remota e confusa, como aquele homem que orava assim: “Ó Deus, se é que existis, salvai a minha alma, se é que tenho alma(10).

No entanto, é muito útil partir de uma noção clara do que realmente é a oração, e para isso recorremos de novo à ajuda de almas experimentadas.

Com palavras de São João Damasceno (11), oração é a “elevação da alma a Deus”. Supõe, portanto, um encontro a sós entre dois seres: Deus e a criatura. Vimos atrás que Deus nos criou para Ele, mas, à diferença dos seres inanimados ou das criaturas irracionais, não somos para Ele apenas por existirmos e estarmos passivamente à sua disposição – como uma tábua à disposição do marceneiro –, mas porque Ele nos dotou de inteligência e vontade, e quer que caminhemos ao seu encontro conscientemente, por um livre ato da nossa vontade esclarecida.

Vemos assim que essa elevação da alma em busca do contato com Deus é algo que corresponde à nossa condição tal como Ele a criou. Portanto, ainda que possa parecer o contrário, a iniciativa da oração não é nossa. “Deus é o primeiro a chamar o homem”, diz-nos o Catecismo da Igreja (n. 2567).

A iniciativa é d'Ele, sim, mas a resposta cabe-nos a nós. A oração “é o encontro da sede de Deus com a nossa” (Catecismo, n. 2560). Depois de criar uns seres que pudessem conversar com Ele, Deus está sedento de que o façamos. E, da nossa parte, temos tanto que conversar com Ele! Por um ou outro dos motivos que apontamos acima, Deus fez-nos de tal maneira que, se não o procuramos, simplesmente não encontramos a nossa identidade. Isto reconforta-nos muito, porque sabemos de antemão que a nossa oração não se perderá na imensa distância que separa a criatura do Criador e, mais ainda, não será nunca inoportuna nem se chocará com a indiferença do interlocutor divino.

Mas a compreensão do que realmente seja a oração dá-se sobretudo pela via da experiência pessoal. “Não sabes orar? – Põe-te na presença de Deus, e logo que começares a dizer: «Senhor, não sei fazer oração!…», podes ter certeza de que começaste a fazê-la(12).

Para esse aprendizado, deveríamos antes de mais nada dirigir-nos humildemente a Cristo com as mesmas palavras dos Apóstolos: "Senhor, ensina-nos a orar" (Lc 11, 1). E Ele não nos deixará sem resposta. Olharemos para o seu exemplo e aprenderemos de tantas ocasiões da sua vida em que os evangelistas deixaram explicitamente registrados momentos da sua oração ao Pai.

Pensemos, por exemplo, nos seus quarenta dias de oração penitente no deserto, antes de começar a vida pública, como para nos ensinar que é na oração que se obtêm as luzes e as forças para cumprir as tarefas e a missão que Deus nos confia. Ou na sua noite de vigília antes de escolher definitivamente os doze Apóstolos, mostrando-nos assim que as escolhas que temos de fazer na vida devem ser decididas em conjunto com o Pai. Ou na oração comovida junto do túmulo de seu amigo Lázaro, antes de ressuscitá-lo, mostrando-nos que as horas duras nunca nos devem fazer perder a esperança, antes nos devem levar a dar graças antecipadas: "Pai, dou-te graças por me teres ouvido. Eu sabia que sempre me ouves" (Jo 11, 41-42). Ou na exultação do seu coração quando os Apóstolos regressam da sua primeira missão carregados de frutos: "Eu te bendigo, Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11, 25), fazendo-nos ver que também a alegria deve ser motivo para elevarmos a alma aos céus. E tantos exemplos mais!

Cristo, perfeito Deus, não tinha de retirar-se para fazer oração, porque era um só com o Pai e contemplava sem interrupção o rosto divino. No entanto, porque era ao mesmo tempo perfeito homem, experimentou a necessidade de fazê-lo, e deixou-nos exemplo disso nas circunstâncias mais diversas, as mesmas que podem acontecer na nossa vida.


A ORAÇÃO VOCAL


Há muitas maneiras de elevar a alma a Deus, de dialogar com Ele, da mesma maneira que são muito diversas as formas de nos comunicarmos com os homens: pode ser a conversa tranqüila numa praça, a conversa pelo telefone ou, mais modernamente, a comunicação através do “ciberespaço”. 

Sendo a oração um diálogo, nada mais razoável que se revista de formas muito variadas, em função da situação pessoal, das necessidades, do tempo disponível ou do grau de intimidade com o interlocutor divino. “Há muitas maneiras de orar; infinitas, poderia dizer(13).

Mas as inúmeras formas de orar foram agrupadas pela tradição cristã em duas principais: a oração mental e a vocal. Não se trata de coisas absolutamente diferentes, mas de duas modalidades da mesma realidade. Consideremos primeiro a oração vocal, que foi a primeira forma de orar que aprendemos, talvez dos lábios da nossa mãe.

Três jovens foram fazer um passeio velejando. A princípio, o dia era ensolarado e convidativo, mas aos poucos o vento começou a soprar com força e não demorou a formar-se uma tempestade. Empurrados pela correnteza, acabaram por encontrar-se em alto mar. A situação foi-se tornando mais e mais difícil, e corriam o perigo de morrer afogados. Quando estavam quase sem esperanças, um dos três disse:

– "Vamos rezar".

E começou o Pai-nosso… Mas de repente calou-se e pôs-se a chorar:

– "Eu já não sei o Pai-nosso"!

Um outro, que mantinha a sua fé mais em dia, serenou-o e continuou a oração até o fim. A tempestade durou mais algum tempo, mas depois acalmou-se e os três conseguiram retornar sãos e salvos.

Este episódio verídico mostra-nos diversas coisas: a eficácia da oração, a conveniência de memorizarmos as orações tradicionais e a ligação bastante direta que há entre a fé e as orações vocais. Por isso, diz-nos o Catecismo da Igreja Católica que “a oração vocal é um dado indispensável da vida cristã” (n. 2701).

Por ela, oramos também com o nosso corpo. Assim o diz a Epístola aos Hebreus: "Ofereçamos sem cessar a Deus um sacrifício de louvor, isto é, o fruto de lábios que confessam o seu nome" (Hebr 13, 15). Pelo som da nossa própria voz, as palavras, quando serenamente pronunciadas, contribuem eficazmente para estimular a nossa devoção.

Por outro lado, a oração vocal é simples e ágil, e por isso aplica-se a uma infinidade de situações diversas. Não é difícil que conheçamos orações ou trechos de orações, muitas vezes breves jaculatórias, que exprimam a Deus os nossos sentimentos de ação de graças ou de arrependimento, os nossos pedidos de ajuda, a nossa fé, aceitação e confiança. 

Não sem uma certa ponta de humor, alguém comparava a oração vocal aos sanduíches, que prescindem de talheres e pratos e podem, por conseguinte, ser levados de um lado para outro e comidos em qualquer parte. Pode-se rezar o terço no ônibus ou no metrô, pode-se dizer uma "Ave-Maria" ao fechar uma porta, recitar o “Santo Anjo” ao atravessar a rua…

Deve-se, no entanto, evitar dois extremos nessas nossas orações. O primeiro deles é o perigo de menosprezá-las e considerá-las de “segunda categoria”, como se fosse “pouco autêntico” utilizar orações compostas por outras pessoas para expressar os nossos sentimentos pessoais. Ninguém julga “pouco autêntico” que um namorado leia um poema de Castro Alves à sua amada ou lhe cante uma conhecida canção de amor. Assim também com Deus.

No outro extremo, está o risco de bitolar-se, de perder a espontaneidade na expressão dos afetos e necessidades a Deus. Como contava alguém de um casal que voltava das compras; ao passarem diante da igreja paroquial, a mulher sugeriu:

– "Vamos entrar e rezar um pouco"?

Mas o marido respondeu-lhe:

– "Agora? Impossível! Não trouxemos o nosso livro de orações…"

Não se deve permitir que a oração vocal produza uma “dependência”, quando, na realidade, deve ser um auxílio para o diálogo com Deus.

Referindo-se à catequese das crianças, o Catecismo diz que “a memorização das orações fundamentais oferece um apoio indispensável à vida de oração, mas importa grandemente saborear o seu sentido” (n. 2688). Devemos estar sempre agradecidos aos nossos pais que, quando éramos pequenos, nos ajudaram a aprender de cor as orações básicas; mas o correr do tempo e o amadurecimento da nossa personalidade reclamam que saibamos repeti-las com consciência e tirar fruto pessoal daquilo que a princípio talvez apenas pronunciássemos como uma cantilena incompreensível.

Devagar. – Repara no que dizes, quem o diz e a quem. – Porque esse falar às pressas, sem lugar para a reflexão, é ruído, chacoalhar de latas. E te direi, com Santa Teresa, que a isso não chamo oração, por muito que mexas os lábios(14). Não basta apenas o ruído de um “chacoalhar de latas”: é preciso que se ponha a cabeça no significado das palavras e o coração no seu conteúdo. Diz Santa Teresa de Ávila que conheceu pessoas a quem Deus, durante a simples recitação de um Pai-nosso, elevava a um estado de oração verdadeiramente místico. E eram pessoas muito pouco instruídas.

Devemos estar preparados, no entanto, para as distrações nesta forma de oração, pois são consequência inevitável da nossa fragilidade. Conta-se que, em certa ocasião, um camponês se vangloriava diante de São Bernardo de nunca se distrair ao rezar. O santo, profundo conhecedor da natureza humana, disse-lhe:

– "Meu amigo, vamos fazer um trato. Se você conseguir rezar um só Pai-nosso sem se distrair, dou-lhe o cavalo em que estou montado".

Animado com o desafio, o camponês iniciou prontamente o seu Pai-nosso. Mal tinha começado, interrompeu a oração e disse:

– "Com os arreios e a sela também?"

Ficou sem cavalo, sem arreios e sem sela…

Isto não significa que não devamos esforçar-nos por melhorar o nível da atenção com que rezamos as nossas orações vocais. Se as recitamos maquinal ou apressadamente – como pode acontecer com as orações da manhã e da noite –, de pouco servem. “Se você não está atento, como quer que Deus esteja?”, dizia alguém, muito sensatamente.

De qualquer forma, ainda que as nossas orações vocais não nos saiam tão redondas como gostaríamos, nem por isso devemos omiti-las. Só Deus sabe quantas graças vem concedendo ao longo dos séculos, como fruto dos Pai-nossos, das Ave-Marias, dos Glórias e de tantas outras orações vocais que o povo cristão elevou até Ele.

Um bispo perguntou certa vez ao Papa Pio XII, por ocasião de uma audiência:

– "Santidade, o senhor dorme bem à noite?"

O Papa, um tanto surpreendido, respondeu:

– "Sim. Mas por que me pergunta isso?"

E o bispo completou:

– "Olhe, Santo Padre, quando eu era pequeno, tínhamos uma empregada que, ao pôr-nos na cama, nos fazia rezar para que o Papa tivesse um sono tranquilo. Desde aquela época, tenho-o feito sempre e, na verdade, estava curioso por saber se dava resultado…"

Os frutos da oração vocal ultrapassam em muito o nosso conhecimento, e certamente haveremos de assombrar-nos quando descobrirmos toda a sua eficácia ao chegarmos à outra vida.


A ORAÇÃO MENTAL


Toda a oração é, de certa forma, oração mental. A própria oração vocal só é oração porque é mental, pela concentração interior que exige. Mas, em sentido mais estrito, costuma-se chamar oração mental àquela que é feita exclusivamente com a mente, sem intervenção de palavras ou de orações compostas previamente por outros.

Segundo a definição clássica de Santa Teresa, “oração mental, a meu ver, não é outra coisa senão tratar intimamente com Aquele que nos ama, e estar muitas vezes conversando a sós com Ele(15). Não se pode expressar melhor o clima em que se deve desenrolar a oração mental.

Os autores antigos costumam distinguir vários níveis nessa oração sem palavras: desde a simples consideração intelectual de uma verdade de fé, a que normalmente se chama meditação, até a alta contemplação dos místicos, em que, como diz São João da Cruz, “a alma se compraz em permanecer a sós com Deus, fixando nEle a sua atenção, sem qualquer consideração particular(16). Mas, em qualquer dos seus níveis, a oração mental supõe a interrupção dos afazeres quotidianos para dedicar um certo tempo diário exclusivamente a esse encontro com Deus no silêncio e na intimidade do coração.

Em que se ocupa esse tempo? Numa conversa simples em que se procura a aproximação com Deus e, a partir daí, se busca o convívio e se estreita a amizade. Não há que imaginar nada de complicado. Como se chega à amizade nas relações humanas? Não é pela conversa informal em que, aos poucos, se vão descobrindo afinidades, e daí nasce a simpatia, e depois o bem-querer? Com Deus é o mesmo, porque o coração humano é um só e o mesmo, quer tratemos com os homens, quer tratemos com Deus. Não temos outro coração para Deus.

Para dizer tudo desde já, um bom modelo para a nossa oração mental é o diálogo que os Apóstolos mantinham com Jesus Cristo. Aquilo que eles lhe diziam de viva voz, sem nenhum constrangimento, sem atitudes rebuscadas, devemos nós dizer-lho com o coração. Os discípulos contavam ao Senhor os acontecimentos do seu dia-a-dia, pediam-lhe conselhos, desabafavam com Ele nas horas amargas, comunicavam-lhe as boas notícias e as alegrias. E o Senhor os ia instruindo, respondendo-lhes e revelando-lhes os seus mais profundos mistérios. Hoje, como ontem e sempre, o Senhor quer manter conosco esse convívio de amizade, quer ouvir-nos e quer falar-nos, tal como àqueles Doze.


O QUE NÃO É ORAÇÃO MENTAL


E já que descrevemos em linhas gerais o que é a oração mental, é muito conveniente esclarecermos o que não o é. O próprio Catecismo da Igreja Católica achou necessário alertar para o perigo das conceituações errôneas que se podem formar a este respeito (n. 2726).

Efetivamente, não é raro ouvirmos amigos nossos que dizem: “Comecei a fazer tai-chi-chuan no Parque da Água Branca, aos domingos de manhã, e mudei completamente; agora estou em harmonia comigo mesmo. Essas coisas orientais ligam-nos de verdade com a Energia Cósmica”. Ou outro, que acaba de fazer o curso do Silva Mind Control ou leu algum livro sobre “o fascinante poder da mente”: “Cara, é tão legal quando a gente entra em Alfa e sintoniza em Deus!”…

Muito em voga, ocasionalmente até em ambientes católicos, estão as “técnicas corporais” de oração, normalmente de inspiração oriental, como o Hare-Krishna. Entre elas, as mais difundidas são a ioga e a “meditação transcendental”, que propõem uma série de posturas (por exemplo, a conhecida “flor-de-lótus”, com as pernas cruzadas sob o tronco), exercícios respiratórios e a repetição de mantras (frases ou palavras de caráter sagrado ou quase-sagrado, “capazes de unificar energias habitualmente dispersas e opostas”).

A finalidade dessas técnicas é – segundo dizem – concentrar progressivamente o indivíduo em si mesmo até atingir o vazio interior. Por meio delas, a pessoa deve desprender-se progressivamente de todas as coisas exteriores, bem como de todos os seus vínculos com elas: os desejos, os medos, o amor e o ódio. Uma vez atingido esse estágio interior de completo esvaziamento, o “eu”, “centelha da divindade cósmica encarcerada na matéria”, estaria preparado para ingressar no nirvana, para desfazer-se como uma gota no oceano cósmico do Absoluto.

Este tipo de exercícios, embora os seus praticantes nem sempre tenham plena consciência disso, traz a marca do hinduísmo e do budismo. Já o cristão sabe que o mundo não é um cárcere do qual se deva fugir, mas uma obra de Deus que vale a pena amar e admirar; sabe que nenhum de nós é um “fragmento perdido de Deus” destinado a dissolver-se depois da morte, a perder a individualidade numa espécie de “sopa cósmica”; é uma criatura de Deus, essencialmente distinta do seu Criador, mas chamada a relacionar-se amorosamente com Ele por toda a eternidade, de tu a Tu, sem perder a sua personalidade própria. E, portanto, sabe que a oração mental não é nenhum processo de esvaziamento interior, mas sim um cumular-se de Deus, de Cristo.

O Papa João Paulo II, referindo-se a Santa Teresa, afirmava que ela “rejeitava os livros que propunham a contemplação como um vago engolfar-se na divindade ou como um «não pensar em nada», vendo nisso o perigo de a pessoa se debruçar sobre si mesma, de afastar-se de Cristo, do qual nos «vêm todos os bens». Daí o seu grito: «Afastar-se de Cristo…, não o posso sofrer». Esse grito é válido também nos nossos dias, contra algumas técnicas de oração que não se inspiram no Evangelho e que praticamente tendem a prescindir de Cristo, em favor de um vazio mental que não tem sentido dentro do cristianismo(17).

Outras correntes, mais inspiradas em certas psicologias de cunho ocidental ou sincrético, tendem a confundir a oração com uma simples operação psicológica. Usam as mesmas “técnicas” que descrevemos anteriormente, mas com a finalidade de produzir estados interiores especiais. A ideia, na sua vertente mais mística, é “sintonizar com o comprimento de onda de Deus”, o “Alfa perene”, a fim de “conectar-se com o seu manancial inesgotável de paz infinita, amor e sabedoria sem fim” – como se Deus fosse a antena de uma emissora de TV… Ou então, na sua vertente mais prática, “liberar as imensas energias mentais que você traz dentro de si, e que lhe possibilitariam fazer qualquer coisa, até teletransportar-se para outros planetas”… Sem comentários.

De certa forma, essas técnicas de oração são semelhantes, em ponto maior, às pequenas superstições que alguns cultivam, confundindo atitudes e palavras rituais – como pôr uma fita do Senhor do Bonfim no espelho do carro ou acender uma vela a Nossa Senhora Aparecida exclusivamente na hora das dificuldades econômicas ou de saúde – com a verdadeira oração. Por trás desses “mecanismos” todos, grandes e pequenos, está a intenção de manipular Deus, de obrigá-lo a fazer a nossa vontade, a pretensão de servir-se d'Ele ao invés de servi-lo. E, como diz a canção, “isso não é amor”. Pode ser vaidade, mercenarismo, cegueira orgulhosa ou simples burrice, conforme o caso; mas não é oração.

Não há problema em que um católico pratique, se lhe interessar, tai-chi-chuan, ou ioga, ou exercícios de respiração, na medida em que essas coisas podem realmente produzir um certo efeito de relaxamento muscular, de bem-estar interior ou de catarse que livra das tensões da vida. O que não pode é esquecer que seria uma solene estupidez ver nisso mais do que uma simples forma de ginástica ou de higiene mental.

A diferença que há entre essas atitudes voltadas para dentro, para uma mesquinha e egocêntrica busca de si mesmo, e a verdadeira oração, que nos abre para além de nós mesmos, para o verdadeiro Deus, aparece de maneira muito viva no relato de uma escritora russa contemporânea, Tatjana Goritschewa.

Convertida ao cristianismo aos vinte e seis anos de idade, essa autora fundou em Leningrado o primeiro movimento feminino cristão, ajudou a organizar palestras e aulas sobre o cristianismo em toda a antiga URSS e chegou a publicar dois jornais clandestinos; depois de ter sido presa e submetida a interrogatórios, foi exilada em 1980.

Descrevendo-nos a trajetória da sua conversão, conta-nos Tatjana que, revoltada com a ideologia marxista e ateia dominante, se refugiou com avidez na ioga quando se difundiram na União Soviética os misticismos orientais. Segundo lhe tinham dito os gurus, “por meio de uns exercícios e de um saber oculto acerca de «poderes astrais e mentais», poderia alcançar certeira e conscientemente a categoria de um super-homem”. Mas o resultado foi apenas uma sensação de profunda e universal angústia e depressão. Vejamos como ela mesma relata o momento crucial da sua vida:

Cansada e sem vontade, ia fazendo as minhas sessões com os mantras. É preciso que se saiba que, até aquele momento, eu nunca tinha pronunciado uma só oração; mais ainda, nem mesmo conhecia uma única oração. Descobri, porém, que um dos meus manuais de ioga sugeria que se usasse uma oração cristã, o Pai-Nosso, como mantra. […] Comecei, pois, a recitá-lo como se costuma fazer na ioga, sem imprimir ênfase às palavras, repetindo-as de maneira automática. Murmurei assim o Pai-nosso umas seis vezes, quando de repente me dei conta do que estava dizendo, e num instante me vi completamente transformada. Compreendi – não com a minha ridícula inteligência, mas com todo o meu ser – que Ele existia. Ele, o Deus vivo, o Deus pessoal, que me amava a mim e a todas as criaturas, que tinha criado o mundo, que se tinha feito homem, o Deus crucificado e ressuscitado(18).

Em outubro de 1989, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma Carta dirigida aos bispos e a todo o povo cristão acerca da meditação cristã. O parágrafo final desse documento compendia e sintetiza esplendidamente tudo o que acabamos de ver:

O amor de Deus, único objeto da contemplação cristã, é uma realidade de que ninguém se pode apoderar por meio de algum método ou técnica; pelo contrário, devemos ter sempre o olhar fixo em Jesus Cristo, através de quem o amor de Deus chegou até nós(19).


NOTAS

(1) Santa Teresa, cit. em J. Daujat, Viver o cristianismo, Aster, Lisboa, pág. 63;

(2) Santo Afonso Maria de Ligório, citado em B. Baur, A vida espiritual, 2ª ed., Quadrante, São Paulo;

(3) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, Quadrante, São Paulo, 1979, n. 238;

(4) cf. Josemaría Escrivá, Forja, Quadrante, São Paulo, 1987, n. 1003;

(5) São Tomás de Aquino, cit. em Santo Afonso M. de Ligório, A oração, I, 8;

(6) Santo Cura d´Ars, cit. em Liturgia das horas. Ofício de leituras, Paulus, pág. 1494;

(7) Santa Teresa de Lisieux, Ms. autobiogr., C25r;

(8) Santo Afonso Maria de Ligório, Como conversar contínua e familiarmente com Deus, em Obras ascéticas, BAC, vol. I, págs. 316-7;

(9) Forja, n. 76;

(10) cit. em Cardeal Newman, Apologia pro vita sua, Paulus, São Paulo, 1964, pág. 53;

(11) São João Damasceno, De fide orthodoxa, 3, 24; PG 94, 1089D;

(12) Josemaría Escrivá, Caminho, 8ª ed., Quadrante, São Paulo, 1995, n. 90;

(13) Amigos de Deus, n. 243;

(14) Caminho, n. 85;

(15) Santa Teresa, Vida, 8, 2;

(16) cit. em J. Daujat, Viver o cristianismo, pág. 86;

(17) João Paulo II, Homilia em Ávila, 1-XI-1982;

(18) Tatjana Goritschewa, Von Gott zu reden ist gefährlich, Herder, Freiburg, 1984, págs. 26-7;

(19) Congregação para a Doutrina da Fé, Carta sobre a meditação cristã, n. 31; para todo este tema, cf. D. Estêvão Bettencourt, O.S.B., Pergunte e responderemos, n. 335, abril de 1990, págs. 156-67




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3º. Dia, 17 de Agosto - O espelho dos nossos defeitos, 
por Pe. Francisco Faus
(13.08.2021)




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2º. Dia, 16 de Agosto - Remédio espiritual e corporal, 
por Dom Eugênio A. Salles  
(05.12.2008)


Toda criatura humana, pressionada pelo sofrimento, procura espontaneamente um alívio, um remédio na doença, a cura. Essa reação natural não exime do dever de avaliar, à luz da Fé, a natureza dos recursos empregados. Igualmente alguém diante do martírio não pode, para salvar a sua vida, abjurar sua crença. Isso porque os valores que servem de base ao nosso julgamento são transcendentais à existência atual, que é transitória. Para nós, o Bem Supremo é outro e a Ele se deve submeter tudo mais.


Buscamos – e temos o direito de fazê-lo – tudo que for válido, moralmente bom ou indiferente, para a preservação de nossa saúde. Entretanto, temos o dever de não privar um irmão do bem espiritual por conta de um risco secundário que possa suceder.


Em caso de enfermidades recorremos a todos os meios eficazes e não contrários a nossos princípios. Assim o fazemos normalmente, levados pelo instinto de conservação.


Dentro dessas considerações, não se compreende a relutância em apelar para a Unção dos Enfermos, deixando-a, talvez, para os últimos momentos. Diante dos que sofrem, brotam no coração do homem sentimentos de compaixão, impulsos para ajudá-lo. Da parte da Igreja, há recomendações especiais, feitas aos pastores.


O sofrimento é a identificação com a fecundidade que promana do Sacrifício da Cruz. Completa em nós o que falta à Paixão de Jesus, na expressão de S. Paulo, na Carta aos Colossenses (1, 24): “Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo, na minha carne, o que faltar das tribulações de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja”. Além dessa perspectiva, mantém-se a luta contra a dor e, ao mesmo tempo, compreende-se sua função de alerta para as causas, pois é efeito de algo que não caminha bem. 


Ela se enriquece sobrenaturalmente pela maior união a Cristo padecente. Quando indica a aproximação da morte, torna-se um vestíbulo de onde nos preparamos para sermos recebidos pelo Pai. Na visão cristã, a existência não nos é tirada, mas transformada na verdadeira vida.


O Senhor nos acompanha com a sua graça em todos os dias de nosso peregrinar. Os Sacramentos são sinal dessa benevolência para conosco. Ao nascer, o Batismo; ao crescer, a Confirmação, e quando doentes, precisamos da ajuda material e espiritual, o bálsamo da Santa Unção.


Quanto a este último, que era chamado de Extrema Unção, foi identificado, na mentalidade de muitos, como sinônimo da morte inevitável ou iminente. O Concílio Vaticano II, na Constituição “Sacrossantum Concilium” (nº 73) propõe nova perspectiva. Afirma que “também e melhor pode ser chamada Unção dos Enfermos”. E logo adiante: “o tempo oportuno para receber a Unção dos Enfermos é certamente o momento em que o fiel começa a correr perigo de morte por motivo de doença ou de idade avançada”. Infelizmente, esse instrumento da bondade divina ainda se relaciona com a proximidade do falecimento, na concepção de muitos cristãos. Esquecem-se que até a idade avançada já é credora da administração desse Sacramento.


Outro lado, talvez desconhecido para os menos versados nesse assunto, é o seu caráter nitidamente medicinal. Muitos o julgam como uma preparação ao chamado de Deus, uma ante-sala da Casa do Pai. Certamente o é. Há, todavia, outro objetivo. Diz o Concílio na Constituição “Lumen Gentium” (nº 11): “pela Sagrada Unção dos Enfermos e pelas orações dos presbíteros, a Igreja toda entrega os doentes aos cuidados do Senhor sofredor e glorificado para que os alivie e salve”.


A justa e intensa busca dos meios humanos para curar, faz esquecer essa oportunidade que o Senhor nos oferece. Nesse momento, poderá também surgir como um valioso remédio para o corpo, cujo benéfico efeito muitos já constataram. A bênção do óleo com essa finalidade suplica “para todos que com ele foram ungidos, proteção do corpo, da alma e do espírito, libertando-os de toda dor, toda fraqueza e enfermidades”.


A fórmula sacramental inclui: “Ele te salve e te alivie os teus sofrimentos” e, na prece que se segue, pede-se plena saúde, a fim de que restabelecido “possa retomar as suas atividades”. Eis o verdadeiro sentido e o extraordinário poder curador da Unção dos Enfermos.


Procura-se freneticamente a medicina e até outros recursos; luta-se com sacrifício para proporcionar alívio e recuperação da saúde, mas nem sempre se utiliza esse veículo da misericórdia divina. Caminha-se ao largo, quando ao alcance da mão está a força do Onipotente. Teme-se afligir os parentes ou angustiar o enfermo, e, assim, perde-se um remédio salutar, que deve ser ministrado em tempo oportuno. 


Peca-se por não se cumprir um dever. Outras vezes, espera-se pelos últimos momentos, quando a consciência do paciente já desapareceu. Com isso, registra-se uma dupla perda: o efeito sobre o corpo só poderá advir por milagre, foge da ordem habitual da Providência; a recepção frutuosa desse Sacramento, sua principal e primária finalidade, ficou, em parte, esvaziada.


A vida temporal passa, mas a verdadeira é eterna. Devemos empregar os meios a nosso dispor para uma adequada preparação à existência definitiva. Assim, cantaremos vitória sobre a morte que se transforma em sinônimo de um lugar na Casa do Pai.


Fonte: http://cardealeugeniosales.blogspot.com/2012/05/remedio-espiritual-e-corporal-05122008.html?view=magazine


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1º. Dia, 15 de Agosto - Fidelidade, 
por Javier Abad Gómez 
(excerto)



A fidelidade é um hábito bom, uma atividade voluntária e permanente, uma força que inclina a cumprir com sinceridade e valentia os compromissos adquiridos, as promessas feitas e a palavara dada.


Pode-se defini-la como o "devotamento voluntário prático e completo de uma pessoa a uma causa". Um homem é fiel quando considera que determinada causa é digna do seu empenho; quando se consagra de maneira voluntária e completa a esse empreendimento; quando a ele se dedica deforma contínua e prática, trabalhando firmementea seu serviço.


Em três palavras, fidelidade é não limitar-se a seguir os impulsos próprios, mas viver valores que ultrapassam a temporalidade da pessoa e mantê-los livre e generosamente. A pessoa fiel encontrou a melhor expressão do amor, e, por isso, é feliz com as exigências que a sua fidelidade lhe impõe. Não é uma questão de sentimentos passageiros, mas de uma decisão não sujeita aos vaivéns da sensibilidade.


Todo aquele que, seguindo os ditames da sua consciência - bem formada e reta -, é capaz de vencer os caprichos de um egocentrismo sentimental e pueril, e sabe conservar - mesmo com esforço - a adesão prometida ou o acordo combinado, merecerá sempre a nossa plena confiança.


Ainda me lembro da emoção que me produziu, aos meus assombrados quinze anos, a galharda atitude de meu pai ante as dolorosas conseqüências econômicas que se seguiram ao cumprimento da sua singela palavra. Tinha arrendado um terreno com o fim de plantar trigo. Pela promessa verbal feita ao dono do campo, devia devolvê-lo passados seis meses. Mas os grãos não chegaram a madurar naquele espaço de tempo. O dono, de maneira pouco razoável, exigiu a devolução da gleba.


- "Podemos entrar em juízo, pai" - atrevi-me a insinuar-lhe.


Não me cabia na cabeça que se pudesse perder o esforço cheio de esperança de tantos meses de trabalho.


- "Eu dei a minha palavra, filho" - foi a sua única resposta.


Chegado o dia, a terra com os seus frutos voltou às mãos do proprietário. E perdeu-se o dinheiro, pura e simplesmente. É o preço com que às vezes se compra a dignidade, se adquire credibilidade e se manifesta honradez, mais valiosas que o resto. "Se os desavergonhados soubessem o bom negócio que é ser honesto - dizia-me meu pai brincalhonamente -, seriam honestos por negócio". Os que o conheceram de perto costumavam estimular-nos, a todos os seus filhos, a imitá-lo: "A sua palavra merece todo o respeito e tem o mesmo valor de uma escritura registrada em cartório. É lei de ouro puro".


(...)


São muitos os exemplos que se podem oferecer como protótipos de fidelidade.


O capitão que luta com denodo para salvar o seu barco e a sua tripulação; o soldado que consagra todas as suas forças à pátria, arriscando a vida; o mártir que, por devoção a uma verdade de fé, não receia a morte que o ameaça..., são arquétipos de fidelidade.


Mas não são os único. Seria necessário mencionar também o homem que se expõe à maledicência para defender e permanecer ao lado do amigo ultrajado; ou o comerciante que deu a sua palavra num negócio e está disposto a renunciar às vantagens pessoais para cumprir o pactuado; ou o empregado que, tentado pela concorrência, se nega a revelar um segredo profissional e prefere privar-se do lucro que lhe oferecem para ser fiel à sua empresa.


Seria necessário falar dos varredores de rua, constantes em suas madrugadas frias para que a cidade amanheça limpa: do carteiro que nunca perde uma carta; do lojista que não adultera os pesos; do leiteiro que não mistura água no leite; do político que cumpre o que prometeu na sua campanha eleitoral.


A fidelidade pode ser vivida nos níveis mais altos e nos mais humildes de toda a comunidade: por um chefe de Estado ou pelo mais pobre dos camponeses; pelo homem disposto a todos os heroísmos para alcançar a santidade ou por aquele que procura com toda a alma um legítimo interesse humano; por aquele que está imerso no corre-corre de uma intensa vida social ou pelo pesquisador solitário e pelo eremita isolado. 


Podemos encontrá-la em pessoas colocadas nas alturas da responsabilidade religiosa ou civil e no longínquo faroleiro de uma pequena ilha; na intimidade do lar, nas relações marido-mulher ou no âmbito do Parlamento ou de uma assembléia internacional; no presidente de um banco ou no seu office boy; naquele cujas decisões fazem o mundo tremer ou naquele que se propõe trazer os sapatos bem engraxados todos os dias. Todos temos o dever e a oportunidade de ser fiéis a alguém ou a alguma coisa. E, evidentemente, temos deveres de lealdade para como Deus e para conosco próprios.


Uma vida fiel é uma vida completa, seja qual for a ocupação em que o homem se desgaste até o fim e a transcedência da missão que tenha. A fidelidade leva-nos a compreender a importância das pequenas peças de uma engrenagem enorme, de uma peça minúscula num complicado jogo de relojoaria. Que bem o expunha o autor de Caminho (São Josemaría Escrivá) quando escrevia:


"Não sejas... bobo. É verdade que fazes o papel - quando muito - de um pequeno parafuso nessa grande empresa de Cristo. Mas sabes o que significa o parafuso não apertar o suficiente ou saltar fora do seu lugar? Cederão as peças de maior tamanho, ou cairão sem dentes as rodas. Ter-se-á dificultado o trabalho - Talvez se inutilize toda a maquinaria. Que grande coisa é ser um pequeno parafuso!" (GÓMEZ, 1989, 10-11; 12-14).




GÓMEZ, J. A. Fidelidade. São Paulo, SP: Ed. Quadrante, 1989. ISBN: 9788574653075. 126 p. 

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