14 de maio de 2010

O consumo, a partir de uma perspectiva educativa e teológica...

Por Mariaelena Finessi
[tradução do italiano por Patricia Navas,
tradução do espanhol por Renata Espíndola]


"Os especialistas a denominam 'sociedade do consumo', mostrando que é o consumo o que define de maneira substancial o funcionamento da estrutura social. Se trata de um fenômeno confrontado de diversas formas por muitos estudiosos e numa acepção mais crítica, se define também como consumismo, num declive que deixa entender um juízo negativo".

O presidente do Instituto Pastoral Redemptor Hominis, Dario Viganò, iniciou desta maneira a jornada de estudo Consumo, dunque sono”? Una perspettiva educativa, teologica e sociale" (“Consumo, logo existo? Uma perspectiva educativa, teológica e social"). O encontro ocorreu no último dia 05 na Universidade Pontifícia Lateranense, em Roma. Seu título procede de um livro de Bauman do ano de 2008, o qual suscita uma dúvida com o objetivo declarado de aprofundar no tema do consumo e, em último caso, de indagar sobre a realidade existencial do homem de hoje.

Uma realidade caracterizada pela tecnologia e pelos meios de comunicação que, nas palavras de Menduni, “são produtos culturais realizados de maneira industrial, reproduzidos e difundidos num grande número de peças iguais ou similares, que dão a conhecer a seus usuários, pagando ou não, determinados conteúdos que frequentemente são produzidos por sua vez de maneira industrial, coletiva”.

"Por outro lado, os mesmos meios de comunicação aparecem, como escrevia Roger Silverstone em 1999, como “verdadeiros e próprios substitutos sociais, enquanto estes são substituidos na comum aleatoriedade da interação cotidiana, gerando de maneira insidiosa e contínua simulacros da vida. Nesta classificação midiática da sociedade" - interviu Massimiliano Padula, professor de Comunicação Institucional na Lateranense - "já não estão claros os limites entre consumo e consumismo. Individualidade e sociabilidade perdem sua força distintiva para mesclarem-se num meio sociocultural homogêneo cada vez mais evidente no Ocidente e que tem sido capaz de impor-se e de impor seu próprio modelo em todo o mundo, reproduzindo-o em distintos aspectos da vida”. 

"É o mesmo Ocidente que tem transformado o mundo num "MacDonalds", usando uma expressão de Ritzer sugerida pela maneira como a comida rápida se enraizou em todas partes com um crescimento exponencial. 
E numa realidade assim, acabamos “como que vivendo uma espécie de falso dilema: de um lado" - explicou a pedagoga e professora da Lateranense, Chiara Palazzini - "se cultivam intensamente as afeições, porém ninguém quer ouvir falar de laços; por outro lado, cada dia se estabelecem laços que afastam as afeições. O homem tem sentido isso no reconhecimento de seus semelhantes, pelo menos o que põe sua confiança nos objetos de consumo e acaba inevitavelmente sendo esse mesmo objeto. Por isso é necessário intervir com uma pedagogia enérgica. No fundo, a espontaneidade por si só, não produz rosas, senão espinhos”.

Todavia não existe uma receita mágica para educar. “Frequentemente, nosso dever é o que nos custa mais para por em prática”, reconheceu o coordenador das iniciativas do Projeto Cultural da Conferência Episcopal Italiana, Sergio Belardinelli. “Sem dúvida, há algo que pode ser feito: gerar quanto seja possível a consciência de que o bem e o prazer, como sustenta Platão, não são o mesmo. E fazer entender que a realidade existe sim, porém não dependendo espontaneamente de nossos desejos".

Dizia Rousseau que, "se o menino quer a maçã, não se deve levá-la a ele, senão conduzi-lo até ela. Um ensinamento pedagógico precioso que habitua o esforço de atribuir um valor a cada coisa, indo além do preço de mercado. Consumir" - explicou Francis-Vincent Anthony, professor de Teologia na Universidade Pontifícia Salesiana - "é esgotar recursos materiais, deriva de uma visão da realidade, como dizer sobre um modo de entender a pessoa humana e a Deus. De modo particular, atrás do nosso hábito atual de 'usar e descartar', há uma vissão mecanicista e utilitarista da natureza, que se reduz a um indiscreto uso e consumo por parte de cada pessoa. Superar esta visão excessivamente antropocêntrica e restabelecer uma relação ideal entre o criação, a pessoa e Deus é o primeiro passo que há de ser dado para combater o problema do consumismo. Traduzindo, significa que para alcançar o último objetivo da própria vida é necessário imprimir uma orientação ética à aquisição tanto dos bens materiais, como dos prazeres da vida. O mal não está no consumo, está em compensação, no se esgotar os recursos sem a preocupação com a consciência moral e a convivência comum”.

À pergunta Consumo, logo existo?”, respondeu com segurança Anthony: “Sim, consumir é indispenssável para viver, porém uma vida digna da pessoa orientada para a alegria plena impõe a necessidade de se regular eticamente a satisfação das próprias necessidades, sacrificando também a própria vida pelo bem comum. O termo 'consumir' (do latim consumere) - composto por cum (com) e sumere (tomar, usar inteiramente) – indica, em sua acepção mais ampla, 'um tomar com' os demais. Neste sentido, consumir é sacrificar (sacrum facere), assim dizendo, uma ação sagrada. Pela perspectiva cristã" - concluiu Anthony – "a Eucaristia representa de uma maneira eloquente o consumo junto ao sacrifício que há de ser testemunhado na vida.

Fonte: http://www.zenit.org/article-35324?l=spanish

11 de maio de 2010

Papa pede que prossiga caminho rumo a desarmamento nuclear

O Papa Bento XVI lançou ao mundo no último dia 06, um apelo para que prossiga o caminho até um mundo sem armas nucleares. Ao término da audiência geral, na Praça de São Pedro, o Papa se dirigiu aos participantes da conferência quinquenal de revisão do Tratado sobre a Não-Proliferação de Armas Nucleares, que começou na segunda-feira em Nova York diante das Nações Unidas e que terá duração até dia 28 de maio, invocando iniciativas concretas de paz.

"O processo para um desarmamento nuclear certo e seguro está estreitamente conectado com o pleno e solícito cumprimento dos compromissos internacionais. A paz, de fato, repousa sobre a confiança e sobre o respeito das obrigações assumidas, e não só sobre o equilíbrio de forças. Com este espírito apoio as iniciativas de que prossigam num progressivo desarmamento e a criação de zonas livres de armas nucleares, na perspectiva de sua completa eliminação do planeta. Exorto, finalmente, a todos os participantes na reunião de Nova York a superar os condicionamentos da história e a tecer pacientemente a trama política e econômica da paz, para ajudar ao desenvolvimento humano integral e as autênticas aspirações dos povos", afirmou Bento XVI.

O tratado que foi assinado em 1º de julho de 1968 em Londres, Moscou e Washington, entrando em vigor dia 5 de março de 1970, surgiu com o objetivo de restringir a difusão indiscriminada das armas nucleares, limitando sua possessão aos Estados reconhecidos como "militarmente nucleares": Estados Unidos, União Soviética, Grã-Bretanha, França e China, que aderiram em 1992.

Substancialmente, o tratado proíbe os Estados que firmaram o acordo a não se disporem do armamento nuclear, receber ou fabricar estes armamentos ou procurar tecnologias e material utilizável para a construção de armamento nuclear, proibindo aos "Estados nucleares" ceder aos outros armas nucleares ou tecnologia para construí-las. O tratado prevê a transferência de material e tecnologia nuclear com usos pacíficos, sob o controle estrito da IAEA (Agência Internacional para a Energia Atômica).

Em 2000 foi dado um importante passo ao aprovar um documento, os "Treze Pontos", que previa entre outras coisas a proibição completa dos testes nucleares e o compromisso dos Estados de se desarmarem unilateralmente. Contudo, a revisão de 2005 teve resultados desastrosos, e os Estados nucleares não aceitaram este documento como base para as discussões. Atualmente o Tratado foi firmado por 188 países. Não entra nessa lista Índia, Paquistão e Israel.

Gareth Evans, copresidente da Comissão Internacional para a Não-Proliferação e  Desarmamento Nuclear, salienta em um artigo da edição de hoje do L'Osservatore Romano que "este ano a ratificação também terá uma crucial importância, por parte do Senado americano, do novo tratado entre Estados Unidos e Rússia para limitar o desenvolvimento de armas nucleares estratégicas. Não porque os benefícios desse acordo sejam muito relevantes, mas porque se trata do fundamento de toda redução dos armamentos por parte de ambas superpotências. De fato, estas possuem 95% do estoque mundial de 23.000 cabeças nucleares, que equivalem a 150.000 bombas de Hiroshima e que potencialmente podem destruir o mundo várias vezes".

"Além disso", continuou, "segundo o relatório publicado recentemente pela Comissão internacional sobre a não-Proliferação nuclear e sobre o desarmamento, Eliminating Nuclear Threats: A Practical Agenda for Global Policymaker, as ameaças levantadas pelas armas nucleares tanto por Governos como por terroristas, são muito reais, maiores agora que antes e quando um país possui armas nucleares, outros também as querem. Se estas armas continuarem existindo, antes ou depois serão usadas, por equívoco, por erro de cálculo ou intencionalmente, qualquer uso que se faça delas será catastrófico para a vida dessa planeta", concluiu.


Fonte: http://www.zenit.org/article-24805?l=portuguese