por Adélaïde Patrignani
(Vatican News, 22.06.2022)
O apelo do Papa Francisco à ecologia integral não os deixou indiferentes. No Cantão de Valais, no sul da Suíça, onde se cresce entre picos e vinhedos, alguns jovens católicos fizeram a mensagem do Papa Francisco ressoar através do instrumento da arte.
Benjamin Bender e Guillaume Délèze têm 23 anos. O primeiro é um ator profissional, engajado com crianças e jovens, o segundo estuda filosofia e musicologia na Universidade de Freiburg e compõe no piano há dez anos. Cada um deles colocou seus talentos em prática para dar uma forma particular à Laudato Si', encíclica sobre a salvaguarda da Casa Comum publicada em 2015.
Gênesis de um espetáculo
Os projetos dos jovens começam a tomar forma mesmo antes da pandemia do coronavírus. Em Valais, muitos jovens católicos frequentam a rede DJP "(Déjeune qui prie) ou (Toma café quem reza)", que desde 1997 oferece um encontro nas manhãs de sábado para rezar juntos as Laudes e depois tomar café da manhã juntos. Os DJP se realizam na Diocese de Sion, mas também incluem outros eventos como o Open Sky Festival, que se realiza a cada dois anos na cidade de Fully e acolhe cerca de 1.500 jovens católicos reunidos em alguns dias de oração, concertos e testemunhos.
Por ocasião da última edição de 2019, um espetáculo amador repercorreu a vida do Beato Pier Giorgio Frassati. O sucesso alcançado por essa representação levou ao planejamento de um novo espetáculo para a edição sucessiva do festival, em 2021, ou seja, no Ano Laudato Si’ proclamado pelo Papa Francisco: e com isso também foi encontrado o tema do espetáculo.
"Enfrentamos um desafio incrível", admite Benjamin, que se engajou ativamente no projeto junto com outros jovens voluntários. "Tivemos que produzir arte a partir de um texto teórico, a partir de uma encíclica": não tivemos escolha a não ser enfrentar o desafio concretamente. Os autores muito jovens foram em busca daqueles que colocam a Laudato si' em prática todos os dias: um monge da abadia cistercense de Hauterive, um fazedor de cestas", personagens do espetáculo em todos os aspectos.
Depois, a pandemia interrompeu um pouco o projeto. A edição de 2021 do Festival Open Sky foi adiada, mas "isso nos deu um pouco mais de tempo para aprofundarmos melhor o que queríamos transmitir como mensagem", diz Benjamin. O trabalho de escrever a peça comprometeu o grupo por um ano e meio.
Ao longo dos meses, a trupe aumentou e agora inclui uma dezena de atores, figurantes, um coral de jovens da aldeia de Bramois e voluntários: no total, mais de trinta jovens entre 16 e 22 anos.
Evangelizar através da música
Em vez disso, o grupo formado por Guillaume é menor – oito jovens de Valais – mas o dinamismo e a ambição não faltam. Os membros – cada um deles toca instrumentos tradicionais e instrumentos mais modernos – se conheceram no grupo paroquial que anima a missa uma vez por mês.
Então eles decidiram fundar a Écho – para evangelizar à maneira deles. "Em nossas canções queremos falar sobre nossa fé da mesma forma que poderíamos falar sobre isso com pessoas de fora da fé", resume Guillaume. Em sua primeira música eles quiseram falar sobre ecologia. O jovem estudou profundamente o documento do Papa e escreveu a letra da música, partindo do que "mais o impressionou".
Também neste caso, a pandemia modificou as etapas inicialmente planejadas; mas Covid ou não, o principal obstáculo continua sendo "a agenda de cada indivíduo", observa Guillaume. Apesar de tudo, os jovens tiveram muitos incentivos sobre seu projeto e isso é um grande estímulo para perseverar, especialmente porque várias músicas já estão sendo preparadas.
O caminho da santidade
Não há presunção por trás dos esforços artísticos dos jovens de Valais, mas sim o desejo de alcançar o coração das pessoas neste exato momento em que os desafios ambientais e sociais estão batendo à porta do tranquilo cantão suíço. Enquanto os valores tradicionais são maltratados, a Igreja quer indicar referências e abrir horizontes ousados a partir do Evangelho.
"A Laudato si' não é apenas uma bela escrita do Papa: é um apelo dirigido a todos nós", explica Benjamin. "Essa encíclica é um patrimônio. Não basta lê-la, temos que colocá-la em prática". "A montanha dá de viver a muitas pessoas em Valais, mas estamos destruindo-a", ressalta Benjamin. "Da mesma forma, devemos reavaliar as riquezas que os idosos nos transmitem, para alcançar uma sobriedade serena": assim diz, o jovem ator, referindo-se a uma região em que os laços intergeracionais, embora permaneçam fortes, têm a tendência a se afrouxar.
Benjamin insiste no envolvimento de todos para uma ecologia integral. "Os jovens são muito comprometidos, mas é necessário nos comprometer todos juntos", ressalta ele, também observando que "na Igreja e entre os adultos as coisas se arrastam um pouco...". Aprofundar esse compromisso é sinal de um verdadeiro caminho de fé: "Aproxima-se ao conceito da santidade da porta ao lado, ou seja, cuidar dos nossos vizinhos, das nossas relações, do que nos circunda", acrescenta o jovem. "A santidade da porta ao lado", a que o Papa fala na Exortação apostólica Gaudete et exsultate: este testemunho está particularmente próximo ao coração de Florian, outro jovem ator do grupo.
Os músicos de Écho – dos quais vários, como Guillaume, também participaram do espetáculo musical de Benjamin e se deram "três objetivos: fazer uma bela música, levar uma mensagem de fé e poder ajudar com dinheiro quem mais precisa".
Os trabalhos produzidos são, no momento, divulgados através do YouTube, mas os jovens gostariam de vender suas músicas para arrecadar fundos para as associações. Para isso criaram a etiqueta "Dreamsailer Music", que inclui o grupo Écho e outros projetos musicais geridos por Guillaume, com esse propósito de caridade.
Perspectivas são delineadas
Finalmente, após meses de comprometimento paciente e criativo, os sonhos começam a se tornar realidade. Em outubro do ano passado, foi lançado o primeiro título de Écho, "Harmonie", com um clipe filmado na paisagem rochosa e verdejante do Vale do Rhone, que sozinho fala da beleza da Criação.
Quatro garotas, as cantoras, um violino, um trombone, um piano e uma bateria: o grupo é heteróclito, mas o título anuncia o resultado: realmente uma harmonia da qual o grupo de músicos é testemunho com frescor e dinamismo.
Em 12 e 13 de abril, "La Coloc M.C." ("O colega de quarto da Casa Comum") foi apresentado por Benjamin e sua equipe num lugar tão atípico quanto simbólico, se falarmos de ecologia integral: um armazém de frutas perto de Riddes, bem no meio dos pomares. As decorações do armazém são sóbrias e são feitas com materiais reciclados ou recuperados. "Nós nos ancoramos numa realidade sustentável, e isso também nos permite favorecer a realidade local", explica Benjamin.
Mais de 250 espectadores para cada apresentação: um público "realmente entusiasmado", visivelmente impressionado por esses jovens engajados na Igreja e reativos diante dos problemas atuais.
"Nós não apenas fizemos teatro ou realizamos um espetáculo: esta é realmente uma aventura humana", continua o jovem ator de Valais, também observando que muitos de seus companheiros amadureceram no decorrer deste projeto. "Todos estão prontos para partir novamente para a aventura", mas no momento ainda não há um projeto definido.
Outros ainda aceitarão o chamado da Laudato Si' para colocá-la em prática: na verdade, após a segunda apresentação, foi instituído um prêmio Laudato Si', destinado a apoiar financeiramente os projetos de ecologia integral na região. Christian Thurre, diácono permanente e delegado de ecologia da Diocese de Sion, concedeu o primeiro prêmio a um grupo que pretende transformar um terreno de 900m² numa área de permacultura com um projeto social que gira em torno de uma guarita.
O segundo prêmio – o prêmio de incentivo – foi concedido ao Grupo Écho. A Igreja em Valais está determinada a confiar na criatividade dos jovens para que sua mensagem se encarne numa sociedade que precisa de testemunhas apaixonadas e coerentes.
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