27 de fevereiro de 2015

Ecologia: É necessário ir além das discussões politizadas

Entrevista com o Padre Robert Gahl - professor de ética na Universidade Pontifícia da Santa Cruz em Roma - sobre a futura encíclica papal, publicada no portal ZENIT em 24.02.2015.

Boa leitura!

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O Santo Padre Francisco anunciou repetidamente que este ano publicará sua segunda Encíclica e o tema abordado será a ecologia. Uma questão até agora não muito discutida na Igreja, mas é cada vez mais evidente que deve nos preocupar, como cidadãos, mas também como cristãos, porque o meio ambiente é um dom que Deus deu ao homem para que fosse cuidado.

Zenit: Por que agora a Igreja está mais preocupada com a ecologia?
 
É um ano particularmente importante por ocasião da Conferência das Nações Unidas Sobre as Mudanças Climáticas que acontecerá em Paris de 30 de novembro a 11 de dezembro de 2015. Muitos acham que a Encíclica ajudará a reflexão neste encontro. Mas esta é uma razão circunstancial, pontual. 
 
Será a primeira encíclica papal sobre o tema da ecologia e por que o Papa quer isso? Quer ensinar a todos - e não apenas os católicos - a cuidar mais do meio ambiente. Temos que lembrar que abordará questões mais recentes e aparentemente exóticas tais como lixo espacial, satélites em órbita... 
 
É importante entender porque o Papa quer abordar todas estas preocupações. Principalmente, porque Deus colocou toda a Criação nas mãos dos seres humanos e temos essa responsabilidade recebida por Deus. Nós exercemos o domínio de Deus sobre a Criação. Desta forma, especialmente os batizados podem viver esta tarefa de governar pelo "sacerdócio real".
 
Há uma outra razão. O Papa está muito preocupado com a periferia e a pobreza e percebe que estes sofrem especialmente por desastres ecológicos. No entanto, o progresso tecnológico está nas mãos das pessoas mais ricas.
 
Ao mesmo tempo, o Papa está preocupado porque viu na América Latina, a exploração da natureza por parte de grandes empresas multinacionais com objetivo de maximizar os lucros a qualquer custo.
 
É preciso prestar atenção porque muitos tentaram politizar esta questão e outros tentaram minimizar o teor da Encíclica. Por isso, é importante ir além das discussões politizadas. O Santo Padre, com sua autoridade moral, quer convidar a todos a serem criativos na forma de gerenciar isso e a avançarem em novos projetos.
 
Zenit: Recentemente, o Papa disse em uma homilia que se preocupar com o meio ambiente não é apenas uma questão de "verde". Por que é importante que os católicos também se preocupem com a ecologia?
 
Estou lembrando do discurso de Bento XVI no Bundestag, quando também falou do "verde". Ele disse que não havia mais "verde" como tal, porque todos os partidos estavam conscientes e comprometidos com o meio ambiente. E o Papa Francisco quer estar em continuidade com seu antecessor, também nisso.
 
Em alguns países, o “verde” foi associado ao anticlericalismo e é interessante o porquê disso. A Igreja é naturalmente favorável à ecologia, mas há correntes de neo-paganismo que estão ligadas ao movimento ecológico. Mas não quer dizer que os católicos não estão comprometidos com a defesa do meio ambiente
 
Temos mais motivos para defender o meio ambiente, não porque "adoramos" o ambiente como se a Mãe Terra fosse uma deusa, mas porque é um dom de Deus e devemos deixa-la para os outros e temos a responsabilidade diante de Deus de cuidar deste lugar que Ele criou.
 
Um problema do movimento ecologista é quando se coloca o ambiente acima do homem, o homem deve servir a natureza. Mas de acordo com o cristianismo, o homem se preocupa com o meio ambiente. Devemos ver o meio ambiente como um jardim para cuidar, cultivar, semear e fazer frutificar.
 
Zenit: Um tema complexo e muito discutido relacionado ao cuidado do meio ambiente é o aquecimento global. Por que falta formação a este respeito?
 
Em parte, porque é altamente politizado. Na maioria das vezes é usado como slogan político para punir as nações, para conter a inovação. Também porque há muito dinheiro que depende das decisões políticas que são tomadas. Outra razão é a política populacional que pretende limitar os nascimentos nos países em desenvolvimento, que continuam com projetos neo-malthusianos, condenados pelo Papa.
 
Não se trata de acreditar ou não nas mudanças climáticas e no aquecimento global, é um fato científico. O que nos diz o magistério é que devemos cuidar do meio ambiente e temos de ser cautelosos, também diante das ideologias políticas anti pessoas humanas que aproveitam desses perigos para promover programas contra a família e a vida humana.
 
Zenit: Este ano teremos a Encíclica do Papa Francisco sobre a ecologia, mas o que os outros documentos do Magistério falam sobre esta problemática?
 
Dos documentos sobre a Doutrina Social da Igreja me parece importante a Caritas in Veritate. Também a Centesimus Annus faz referência. Há também um documento do Pontifício Conselho para a Cultura e do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, que trata sobre interpretações espiritualistas neo-pagãs e da Nova Era e aborda especificamente a questão da água. Mas este será o primeiro documento pontifício dedicado inteiramente ao meio ambiente.
 
Zenit: Por que você acha que a ecologia não foi uma questão de grande preocupação para a Igreja?
 
Do ponto de vista filosófico e científico, apenas após a Segunda Guerra Mundial se começou a refletir sobre a relação entre o homem e o ambiente. 

Há um pensador muito importante chamado Hans Jonas, que escreveu um livro sobre o princípio da responsabilidade. Esta obra foi usada por muitos ambientalistas como linha guia metodológica, mas para a Igreja o foco é visto como um pouco exagerado, embora tenha ideias interessantes e profundas. 
 
O princípio da responsabilidade diz que não devemos fazer se não podemos provar que o que fazemos não terá um impacto muito negativo sobre o mundo. Este tipo de ‘prudência’ é muito conservadora e retarda a iniciativa, o empreendedorismo e a criatividade. Sem dúvidas, a Igreja tende a ver o homem de uma forma mais positiva, é verdade que existe o pecado, os riscos da tecnologia; mas a tecnologia também é uma fonte de iniciativas criativas e bem-estar para os homens. O progresso é positivo, mas deve ser bem utilizado. É importante pensar sobre questões como a reciclagem... 
 
A Igreja deve se preocupar com a formação da consciência moral das pessoas. Maltratar o meio ambiente é uma ofensa a Deus, porque Ele criou tudo isso, e também uma ofensa ao próximo.



 
Fonte: http://www.zenit.org/pt/articles/ecologia-e-necessario-ir-alem-das-discussoes-politizadas

17 de fevereiro de 2015

Sobre a nova encíclica papal a ser publicada em 2015

A nova encíclica papal abordará os cuidados com a criação e, possivelmente, estará disponível em meados de 2015, conforme podemos ler no trecho da entrevista publicada abaixo.
 
Não tenho cuidado muito do blog, mas as visitas continuam e agradeço a curiosidade dos que aqui "migram". Uma das maiores doenças espirituais me pegou "em cheio" - uma preguiça triste de quase quatro anos. Essa condição também reflete um pouco o posicionamento de muitos católicos que adoram postergar ações de conversão e resiliência às coisas do mundo, focando em Deus e no que nos solicita. Sem a Sua armadura (Ef 6, 11) ninguém resiste...

Minhas sinceras desculpas pelo hiato. E boas leituras!
 
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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO SRI LANKA E ÀS FILIPINAS

(12-19 DE JANEIRO DE 2015)
ENCONTRO DO SANTO PADRE COM OS JORNALISTAS
DURANTE O VOO PARA MANILA
Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2015

"[...] 
(Padre Lombardi)
 
"Obrigado. Então agora passemos às perguntas, para as quais se inscreveram os nossos colegas. O primeiro é Jerry O'Connell de America Magazine, que o Santo Padre conhece bem. A ele, a palavra".
 
(Jerry O'Connell)
 
"Antes de mais nada, concordo com o Padre Lombardi e dou-lhe os parabéns, Santo Padre, pelo sucesso da visita ao Sri Lanka. Apresento uma pergunta em nome do grupo inglês; pusemo-nos de acordo para lhe pôr uma questão-ponte, que ligue a visita ao Sri Lanka e a visita às Filipinas. No Sri Lanka, vimos a beleza da natureza, mas também a vulnerabilidade daquela ilha: desde as alterações climáticas até ao mar, etc. Estamos voando para as Filipinas e o Santo Padre visitará a área já atingida. Há mais de um ano que está a estudar a questão da ecologia e do cuidado da criação. Por isso, a minha pergunta prevê três aspectos. Primeiro: a alteração climática deve-se, principalmente, à obra do homem, à sua falta de cuidado pela natureza? Segundo: a sua Encíclica, quando sairá? Terceiro: o Santo Padre insiste muito, como vimos no Sri Lanka, sobre a cooperação entre religiões; porventura tem intenção de convidar as outras religiões a unirem-se para enfrentar este problema? Obrigado".

(Papa Francisco)
 
"Quanto à primeira pergunta, o senhor disse uma palavra – «principalmente» – que me poupa de fazer um esclarecimento. Totalmente, não sei; mas principalmente, em grande medida, é o homem que maltrata a natureza, continuamente. De certo modo assenhoreamo-nos da natureza, da irmã terra, da mãe terra. Lembro-me – já ouvistes isto – daquilo que um velho agricultor me disse uma vez: «Deus perdoa sempre, nós – os homens – algumas vezes, a natureza nunca». Se a maltratas, ela faz-to pagar. Creio que explorámos demasiadamente a natureza; as desflorestações, por exemplo. 
 
Recordo a Conferência da Aparecida: naquele tempo, eu não compreendia bem este problema e, quando ouvia os bispos brasileiros falar da desflorestação da Amazônia, não os conseguia entender bem. A Amazônia é um pulmão do mundo. Depois, há cinco anos, com uma comissão dos direitos humanos, fiz um recurso para o Supremo Tribunal da Argentina a fim de se suspender, no norte do país – na área norte de Salta, Tartagal –, pelo menos temporariamente, uma terrível desflorestação. 
 
Este é um aspecto; outro são as monoculturas. Por exemplo, os agricultores sabem que se pode cultivar o milho durante três anos, depois tem-se que parar e fazer outra cultura um ou dois anos para nitrogenizar a terra, senão a terra não faz crescer. Na Argentina, por exemplo, cultiva-se apenas soja e mais soja até a terra se esgotar. Nem todos fazem isto, mas é um exemplo entre muitos outros. 
 
Creio que o homem foi longe demais. Hoje, graças a Deus, levantam-se vozes, tantas, tantas que falam disto; neste momento, quero recordar o meu amado irmão Bartolomeu, que há anos prega sobre isto. Li muitas coisas dele para preparar esta Encíclica. Podia falar mais sobre isto, mas não quero alongar-me. 
 
Digo só isto! Guardini tem uma frase bastante esclarecedora. Diz ele: «a segunda forma de incultura, é a má. A primeira é a incultura em que recebemos a criação com a ordem de a tornar cultura; mas, quando o homem se assenhoreia em demasia e exorbita, esta cultura vira-se contra o homem». Pensemos em Hiroshima. Cria-se uma incultura, ou seja, a segunda.
 
Quanto à Encíclica: o primeiro projeto fê-lo o Cardeal Turkson com a sua equipe. Depois eu, com a ajuda de alguns, peguei e trabalhei nele. Em seguida, com alguns teólogos, fiz um terceiro projeto, enviando cópia à Congregação para a Doutrina da Fé, à Segunda Seção da Secretaria de Estado e ao Teólogo da Casa Pontifícia, pedindo que o estudassem bem para eu não dizer «tolices». Há três semanas, recebi as respostas, algumas muito longas, mas todas construtivas. E agora vou reservar uma semana inteira de março para a concluir. Creio que, no final de março, estará concluída, passando-se às traduções. 
 
Penso que, se o trabalho de tradução correr bem – Mons. Becciu está a ouvir-me; ele tem que contribuir para isso –, se tudo correr bem, em junho/julho poderá sair. Importante é que transcorra um pouco de tempo entre a saída da Encíclica e o encontro de Paris, para que lhe sirva de contribuição. O encontro do Peru não foi de grande valor. Fiquei desiludido com a falta de coragem: chegados a determinado ponto, pararam. Esperemos que em Paris os representantes sejam mais corajosos para avançar sobre este assunto.
 
Quanto à terceira pergunta, creio que o diálogo entre as religiões é importante a propósito disto. As outras religiões têm uma boa perspectiva. Inclusive sobre este ponto, há um acordo para se ter o mesmo ponto de vista. Ainda não aparece na Encíclica. Na realidade, falei com algumas pessoas doutras religiões sobre o tema e sei que o Cardeal Turkson também o fez, e o mesmo fizeram pelo menos dois teólogos: este é o caminho feito. A Encíclica não será uma declaração conjunta. Os encontros virão depois".
 
(Padre Lombardi)
 

29 de agosto de 2014

Nômades? Não, refugiados e precisando de nossa ajuda material e espiritual.

Tenho acompanhado apreensiva as notícias que nos chegam a todo momento pela internet sobre perseguições e massacres de cristãos. Me dói o silêncio tácito das redes de jornalismo e o que mais me assusta é o fato de que a imensa massa de pessoas não-cristãs que professam credos diferentes dos nossos, mas que se auto-intitulam como "pessoas de bem", não se sensibilizam. "De bem" para quem?

Também é verdade que a indignação deveria ser visceral, daquela de sentir nos ossos, por todos irmãos na fé. Me dói muito mais o silêncio covarde de muitos cristãos que não sofrem na pele qualquer perseguição e nem se comovem além das bonitas frases de efeito nas redes sociais.

Nossas "armas" serão o protesto pelas redes sociais (se já não nos restam as ruas), a doação de verbas como auxílio à rede de solidariedade montada e orações, muitas orações. E se você não orar pelo irmão que sofre longe, não reclame se acontecer o mesmo quando chegar sua vez. 

Quem desejar doar verbas - para auxiliar às seguintes instituições católicas presentes no Iraque - bastará procurar o banner específico no menu à direita:

  •  a Caritas Internationalis (informar a ajuda para a Caritas Iraq);
  •  a Fundação de Direito Pontifício "Ajuda à Igreja que Sofre - AIS";
  •  a Catholic Relief Services - CRS (membro da Caritas Internationalis);

Um afetuoso "Muito obrigada" a todos e que Deus os abençoe!

WE ARE CHRISTIANS!
(and I'm proud to be one of His lambs)

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O Papa telefona para um sacerdote iraquiano do campo de refugiados de Ankawa, Iraque.


"Uma carta de lágrimas" - este foi o título que o Pe. Behnam Benoka deu à carta que escreveu ao Papa Francisco. O sacerdote explicou a ZENIT que aproveitou a presença do amigo jornalista Alan Holdren, no voo pontifício de volta da Coreia do Sul, para enviar a carta ao papa através do Viber, um aplicativo de mensagens para telefones celulares inteligentes. O jornalista transcreveu a carta em papel e o entregou ao Santo Padre.

 
No texto, o sacerdote se dirige ao papa dizendo: 

 
"Ao Santo Padre, nosso pastor misericordioso,

Meu nome é Behnam Benoka, sacerdote de Bartella, uma pequena cidade cristã perto de Mossul. Sou vice-reitor do seminário católico de Ankawa. Mas hoje estou em uma barraca que montamos junto com uma equipe de médicos e voluntários para dar assistência médica aos nossos irmãos que estão desabrigados por causa da perseguição.
Santidade, a situação das suas ovelhas é miserável. Eles morrem e têm fome. Seus pequenos têm medo e não aguentam mais. Nós, sacerdotes, religiosos e religiosas, somos poucos e tememos não conseguir responder às exigências físicas e psíquicas dos filhos deles, que também são nossos.
Quero lhe agradecer muito, muitíssimo mesmo, por nos manter sempre no seu coração. Coloque-nos no altar em que celebra a missa para que Deus cancele os nossos pecados e tenha misericórdia de nós, e, talvez, afaste de nós este cálice.
Escrevo com as minhas lágrimas, porque estamos em um vale escuro no meio de uma grande alcateia de lobos ferozes. Santidade, tenho medo de perder os seus pequenos, em especial os recém-nascidos que, a cada dia, se cansam e se debilitam mais; temo que a morte leve embora alguns deles. 
Mande-nos a sua bênção para termos a força de seguir em frente e, quem sabe, resistir ainda mais. 
 
Com profundo amor, 
 
Behnam Benoka"

A resposta do Papa Francisco não demorou. De volta à Itália, na manhã do dia 19 de agosto, o papa telefonou para o Pe. Behnam expressando a sua profunda comoção com a carta recebida. Conforme as declarações do sacerdote, o papa lhe manifestou a sua profunda gratidão pelo trabalho dos voluntários nos campos de refugiados.
 
Na conversa telefônica, o Papa Francisco confirmou o seu pleno apoio e a sua proximidade dos cristãos perseguidos, prometendo que continuará fazendo todo o possível para dar alívio ao sofrimento deles. Ao se despedir, o Santo Padre deu a bênção apostólica e rogou que nosso Senhor dê a esses irmãos o dom da perseverança na fé.

18 de agosto de 2014

Papa Francisco - Excerto de homilia realizada em 26.07.2014 no Parque do Palácio Real de Caserta

"[...] Vós podereis perguntar-me: "Como se encontra o reino de Deus?". Cada um de nós tem um percurso particular, cada um de nós tem o próprio caminho na vida. Para alguns o encontro com Jesus é esperado, desejado, procurado por muito tempo, como demonstra a parábola do comerciante que viaja pelo mundo para encontrar algo de valor. 

Para outros acontece de repente, quase por acaso, como na parábola do agricultor. Isto recorda-nos que Deus se deixa encontrar seja como for, porque Ele é o primeiro que deseja encontrar-nos e procura encontrar-nos: veio para ser o «Deus conosco». E Jesus está entre nós, Ele está aqui hoje. Foi Ele quem o disse: "Quando estais reunidos em meu nome, Eu estou no meio de vós". 

O Senhor está aqui, está conosco, está no meio de nós! É Ele que nos procura, é Ele que se faz encontrar também por quem não o procura. Por vezes, Ele deixa-se encontrar nos lugares incomuns e em tempos inesperados. Quando encontramos Jesus ficamos fascinados, conquistados, e é uma alegria deixar o nosso habitual modo de viver, muitas vezes árido e apático, para abraçar o Evangelho, para nos deixarmos guiar pela lógica nova do amor e pelo serviço humilde e desinteressado. A Palavra de Jesus, o Evangelho. 

Faço-vos uma pergunta, mas não quero que respondais: "Quantos de vós leem um trecho do Evangelho todos os dias? Mas quantos, talvez, se apressam para terminar o trabalho para não perder a telenovela"... Ter o Evangelho nas mãos, ter o Evangelho na bolsa, ter o Evangelho no bolso e abri-lo para ler a Palavra de Jesus: assim vem o reino de Deus. O contato com a Palavra de Jesus aproxima-nos do reino de Deus. Pensai bem: um Evangelho pequeno sempre à mão, abre-se numa página qualquer e lê-se o que diz Jesus, e Jesus está ali.

"O que é necessário fazer para possuir o reino de Deus?"

Sobre este ponto Jesus é muito explícito: não é suficiente o entusiasmo, a alegria da descoberta. É preciso antepor a pérola preciosa do reino a qualquer outro bem terreno; é necessário colocar Deus em primeiro lugar na nossa vida, preferi-lo antes de tudo. Dar a primazia a Deus significa ter a coragem de dizer não ao mal, não à violência, não às vexações, para levar uma vida de serviço aos outros e a favor da legalidade e do bem comum. 

Quando uma pessoa descobre Deus, o verdadeiro tesouro, abandona um estilo de vida egoísta e procura compartilhar com o próximo a caridade que vem de Deus. Quem se torna amigo de Deus, ama os irmãos, compromete-se para salvaguardar a sua vida e a sua saúde, respeitando o meio ambiente e a natureza. 

Sei que vós sofreis por causa disto. Hoje, quando cheguei, um de vós aproximou-se e disse-me: "Padre, dê-nos a esperança". Mas eu não posso dar-vos a esperança, eu posso dizer-vos que onde está Jesus ali está a esperança; onde está Jesus os irmãos amam-se, as pessoas comprometem-se para preservar a sua vida e a sua saúde, respeitando também o meio ambiente e a natureza. 

Esta é a esperança que nunca desilude, aquela que dá Jesus! Isto é particularmente importante nesta vossa bela terra, que deve ser tutelada e preservada, que exige a coragem de dizer não a qualquer forma de corrupção e de ilegalidade — todos sabemos o nome destas formas de corrupção e de ilegalidade — exige que todos sejam servidores da verdade e adquiram em todas as situações o estilo de vida evangélico, que se manifesta no dom de si e na atenção ao pobre e ao excluído. 

Acolher o pobre e o excluído! A Bíblia está cheia destas exortações. O Senhor diz: "Vós fazeis isto e aquilo, não me importa, a mim interessa que o órfão esteja seguro, que a viúva seja curada, que o excluído seja acolhido, que a criação seja preservada". Este é o reino de Deus! [...]".


17 de junho de 2014

O jardim de Deus: Bento XVI e a ecologia do homem

Para quem acompanha(va) o blog não é novidade o envolvimento de Bento XVI com a ecologia e temas afins. Boa leitura!
 
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O Papa Bento XVI era bem conhecido por seu interesse em questões ecológicas e uma nova antologia de suas declarações sobre este tema fornece alguns insights interessantes. The Garden of God: Toward a Human Ecology (O Jardim de Deus: Rumo a uma ecologia humana) foi recentemente publicado pela editora acadêmica da Universidade Católica da América e é uma tradução de um livro publicado  originalmente em italiano em 2012 ('Per una ecologia dell'uomo' é o título da edição italiana). 
 
O livro, de cerca de 200 páginas, contém uma série de textos das homilias, das cartas e das várias declarações de Bento XVI. O título do livro, em alusão à ecologia do homem, é uma ótima indicação de como o interesse do Papa Emérito não se baseou unicamente em uma atitude bem-intencionada para o cuidado do ambiente: o interesse de Bento XVI também diz respeito a uma consideração teológica muito mais profunda sobre a criação e sobre o ser humano.
 
O arcebispo Jean-Louis Bruguès, na época secretário da Congregação para a Educação Católica, e agora bibliotecário e arquivista do Vaticano, explica na sua introdução, que, embora outros papas tenham falado sobre a ecologia, Bento XVI o tornou um tema mais frequente em seus discursos. O arcebispo identifica cinco princípios fundamentais que estão presentes em alguns dos escritos de Bento XVI sobre o meio ambiente:
 
  • "O homem vem antes de qualquer coisa e boas decisões ecológicas devem respeitar a dignidade e os direitos do ser humano. Esse argumento se opõe ao utilitarismo, pelo qual os fins justificam os meios";
  • "A ecologia é, antes de mais nada, uma questão ética e o homem não pode ser dominado pela tecnologia";
  • "A ecologia não deve basear-se numa relação de poder ou de dominação, mas em uma relação harmoniosa entre homens e o desenvolvimento. A natureza é um dom do Criador que é preciso cuidar e que devemos cultivar. A natureza também é algo que não é maior do que a humanidade";
  • "A raça humana é uma família e os nossos relacionamentos deveriam ser formados pela solidariedade";
  • "Tem de haver uma mudança de mentalidade para se afastar de uma atitude puramente consumista".

Os textos de Bento XVI cobrem uma vasta gama de questões, mas um tema que é frequentemente mencionado é que os homens não são apenas criaturas materiais, mas criaturas abertas ao infinito e a Deus. Isso também deixa uma marca no mundo criado. Na homilia de Pentecostes de 2006, Bento XVI explica que "o mundo não existe por si só; ele é trazido à existência pelo espírito criador de Deus, pela palavra criadora de Deus".
 
"A criação foi dada ao homem", afirmou Bento XVI em um discurso de 2007, "a fim de implementar o plano de Deus. Seria um erro colocar-nos no centro do universo em uma busca egoísta do nosso bem-estar". "Não é verdade que um uso irresponsável da criação começa precisamente quando Deus é marginalizado ou mesmo negado?", perguntou o Papa Bento XVI durante um discurso aberto ao público em 2009.
 
"Perder de vista Deus", continuou o Papa precedente, "significa que a matéria se reduz a uma possessão egoísta e que o propósito da nossa existência é reduzido a um esforço para obter o maior número de bens". Manter uma consciência do papel de Deus, e estar cientes dos nossos deveres, não só para aqueles que vivem hoje, mas também para as gerações futuras, nos guiará rumo a uma gestão responsável da criação, em vez de nos considerarmos os absolutos patrões dela.
 
Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010, Bento XVI falou ainda do ambiente e reiterou mais uma vez que devemos considerar a criação como dom de Deus para todos. O Papa também pediu uma "profunda renovação cultural", a fim de identificar aqueles valores que podem ajudar a construir um futuro melhor.
 
Tanto nesta mensagem como em outras declarações sobre as questões ecológicas, Bento XVI ligou explicitamente o respeito ao meio ambiente com o respeito pela inviolabilidade da vida humana "em todas as fases e em todas as condições". Bento XVI sublinhou também a importância da família quando aprendemos a amar o próximo e a respeitar a natureza.
 
Em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2007, Bento XVI analisou as ligações entre os diferentes aspectos da ecologia. Há uma ecologia natural, que significa respeito pela natureza, e também uma ecologia do homem, que leva a uma ecologia social.
 
Bento XVI adverte que a negligência do ambiente é repleta de consequências negativas para a coexistência do homem. Bento XVI também nos alerta para evitar uma visão redutora da natureza humana. "Que a luz e a força de Jesus nos ajudem a respeitar a ecologia do homem, conscientes de que a ecologia da natureza irá nos beneficiar muito, uma vez que o livro da natureza é uno e invisível"; com essas palavras, Bento XVI concluiu o seu apelo em 2010 aos membros do Corpo Diplomático.
 
A ciência é um lugar de diálogo, disse o Papa em um discurso posterior do mesmo ano, “um encontro entre o homem e a natureza e, potencialmente, também entre o homem e o seu Criador”. O cuidado do ambiente, portanto, não deve ser entendido apenas como uma série de reparações técnicas, mas também como um compromisso baseado na visão da espécie humana e do Criador.

 


5 de março de 2014

Despertando...

Enfim, após uma longa noite escura na fé, o retorno... Que a árvore seca torne a frutificar. 

Que Deus abençoe a todos!







20 de março de 2011

Fraternidade e a vida no planeta

Cardeal Eugenio de Araujo Sales

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro


A Campanha da Fraternidade, um dos grandes acontecimentos vivenciados pela Igreja, foi aberta oficialmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com a mensagem do Santo Padre Bento XVI na quarta-feira de cinzas. Recordando o tema deste ano, “Fraternidade e a Vida no Planeta”, e o lema, “A criação geme em dores de parto”, o Papa nos convida a refletirmos sobre a causa de tais gemidos, entre eles “o dano provocado na criação pelo egoísmo humano”. E continua, “é igualmente verdadeiro que a ‘criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus’ (Rm 8,19). Assim como o pecado destrói a criação, esta é também restaurada quando se fazem presentes ‘os filhos de Deus’, cuidando do mundo para que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,28)”.

Para o Santo Padre, o homem deve reconhecer a sua condição de criatura e procurar tornar-se mais sensível à presença de Deus. Isto ocorrerá “na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida” em todos os níveis. Diz o papa: “Sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, neste contexto, daqueles que perderam tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio-ambiente”.

A exortação do Papa Bento XVI é a grande motivação para a Campanha da Fraternidade, cujas origens remontam à cidade de Nísia Floresta – Arquidiocese de Natal -, no ano de 1962. Assumida oficialmente pela CNBB em 1964, sua 47ª edição tem como objetivo criar uma consciência coletiva em torno da mensagem cristã e o meio-ambiente. Possui um sentido prevalentemente religioso, e tal não poderia deixar de ser já que o dever primordial da Igreja é anunciar o Cristo. Mas nela há também um indispensável cunho social, uma vez que, sem a necessária encarnação na realidade, o ideal cristão permaneceria estéril.

O conteúdo bíblico da Campanha da Fraternidade deste ano não dá lugar a reducionismos, nem os de cunho espiritualizante e desencarnado, nem os de matiz ideológico e político. Cristo vem trazer a verdade integral que deve animar a pessoa humana, que é chamada a demonstrar responsavelmente a sua pertença a Deus, o amor ao próximo e à criação. E deve fazê-lo, consciente da realidade em que se encontra, abrindo-se à conversão e deixando que isso repercuta de maneira positiva.

Profundamente bíblica é a relação do homem com a natureza, a ser preservada e utilizada para o bem comum. O egoísmo leva a destruí-la em favor de poucos, opondo-se, pois, aos desígnios divinos. Em outros termos, rouba quem destrói, em proveito próprio, o que é de todos. Diz o Salmista: “Os céus pertencem a Deus, mas a terra Ele a deu aos filhos de Adão” (Sl 115,16). Todo o universo pertence a Deus e deve louvá-Lo. A nós foi confiada a missão de dominá-lo: “Enchei e dominai a terra” (Gn 1,28).

Cristo, em suas pregações, amiudadas vezes, emprega imagens do campo, das flores, árvores, o meio circundante. Sublinha os liames entre o ser humano e o resto da criação, a fim de nos revelar que o meio onde vivemos é um símbolo da realidade eterna. São Paulo, do mesmo modo, assemelha a libertação material à futura. Assim, a devastação ecológica contraria os ensinamentos da Sagrada Escritura. Em consequência, o cristão não pode permanecer indiferente ao que ocorre nesta área.

Frequentemente, os meios de comunicação social nos transmitem gritos de alarme como: rios poluídos, onde a vida se tornou impossível; ar viciado por detritos, efeito de uma industrialização sem as devidas cautelas; em resumo, a falta de um compromisso que nos conduza à preservação do que pertence à comunidade.

Faz parte da consciência cristã e coletiva a ação concreta, fruto da Fé. Por isso, seria enfraquecer a Campanha da Fraternidade reduzi-la a um momento forte de pregação. Este ano, além da coleta realizada no Domingo de Ramos em todas as Dioceses, à qual devemos contribuir como gesto concreto, faz-se mister uma urgente tomada de consciência de toda a sociedade em prol da vida do planeta. É o que expressa o Santo Padre em sua Mensagem: “o dever de cuidar do meio-ambiente é um imperativo que nasce da consciência de que Deus confia a Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai”.

O texto-base, divulgado pela CNBB, além de apontar diversas atitudes que podem ser tomadas com o objetivo de preservar a vida no planeta, “faz uma análise da realidade procurando estabelecer as causas do aquecimento global e das mudanças climáticas. Toca na relação que há entre o aquecimento e as mudanças climáticas; alerta para a ameaça à biodiversidade e para o risco da escassez de água no planeta”.

 



13 de março de 2011

Artigos interessantes sobre fé e ecologia publicados pela Agência Zenit

. Lazer, ecologia e trabalho segundo São Josemaría Escrivá:
https://pt.zenit.org/articles/lazer-ecologia-e-trabalho-segundo-sao-josemaria-escriva/

. Jornada Mundial da Juventude 100% não poluente:
http://www.zenit.org/article-27460?l=portuguese

. Ecologia é preocupação antiga da CNBB, afirma bispo:
http://www.zenit.org/article-27457?l=portuguese

. “Caritas in veritate”, manual de sobrevivência para século 21:
http://www.zenit.org/article-27397?l=portuguese

. Debate sobre meio ambiente é componente importante da cidadania:
http://www.zenit.org/article-27412?l=portuguese

. Orientações para o Sínodo sobre a nova evangelização - Santa Sé publica os “Lineamenta (ver Orientação nº. 21 - O objetivo de uma “ecologia da pessoa humana”):
http://www.zenit.org/article-27423?l=portuguese




Desenvolvimento sustentável: ser humano não é um obstáculo...

As pessoas humanas deveriam ser consideradas o objetivo do desenvolvimento, ao invés de um obstáculo para ele, segundo o delegado da Santa Sé nas Nações Unidas. Na segunda-feira passada, Charles Clark, professor de economia da Universidade St. John, dirigiu-se ao 2º. Comitê Preparatório da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em nome do Arcebispo Francis Chullikatt, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas. Os encontros estão sendo realizados como preparação para a Conferência de Desenvolvimento Sustentável Rio+20, que terá lugar de 4 a 6 de junho de 2012, no Rio de Janeiro, no 20º aniversário da Cúpula da Terra, de 1992.

Clark disse que, "para alcançar o objetivo ‘economia verde, desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza', minha delegação está confiante em que não esqueceremos que a finalidade do desenvolvimento é o desenvolvimento humano integral e que todas as nossas estratégias e práticas devem ser julgadas com base nessa norma: que o ser humano é e deve continuar sendo a nossa principal preocupação. Se os humanos, em sua plena humanidade, não são considerados como o objetivo final do desenvolvimento, conforme acordado no Rio há 20 anos, então tememos que os seres humanos sejam, para muitos, como o primeiro obstáculo para o desenvolvimento", advertiu.

O delegado acrescentou que "estamos certos de que estes seres humanos serão: os pobres, os marginalizados, aqueles que causam incômodo, aqueles que ainda não nasceram e aqueles que, devido à sua deficiência, idade ou doença, são incapazes de se defender". E observou que "muitas das estratégias de desenvolvimento e políticas que não conseguiram promover um desenvolvimento humano integral no passado, fracassaram porque os seres humanos foram reduzidos a uma sombra de sua humanidade".

"Por um lado, dizem-nos que o egoísmo e a cobiça são os únicos controladores da conduta humana, e que os ‘mercados livres' são o que é preciso para converter o vício privado em virtude pública. Por outro lado, dizem-nos que a natureza humana é o que a sociedade produz, dando-nos uma estratégia de desenvolvimento que focaliza as estruturas e instituições, esperando que as instituições de direito sejam suficientes para promover o desenvolvimento".

Toda a verdade

O gestor admitiu que "cada opinião tem uma parte da verdade: os seres humanos muitas vezes se deixam levar ​​pelos próprios interesses, e as instituições sociais formam, em grande medida, os comportamentos e ações humanos, mercados e políticas de governo, ambos com o potencial de promover o bem comum. Entretanto, a humanidade não pode ser reduzida aos egoísmos individuais ou construções sociais. Um entendimento completo do que significa o ser humano também deve incluir a solidariedade básica, que é parte necessária da nossa humanidade, coerente com a dignidade fundamental de cada pessoa e que pede justiça", afirmou.

"Uma economia não baseada em uma ética que tenha como centro as pessoas e a moralidade, certamente instrumentará as riquezas da terra para o benefício dos ricos e poderosos. Os indicadores sociais e ambientais, que podem ser ferramentas importantes para ajudar a promover um autêntico desenvolvimento humano, na hora de elaborar estatísticas e falsos objetivos, dão a aparência de progresso, mas não refletem a realidade do verdadeiro progresso. Ou pior, podem tornar-se pretextos para sacrificar os direitos humanos e agredir a dignidade humana, tudo a partir de uma visão distorcida do bem comum".

"O desenvolvimento real não pode ser produzido apenas por mudanças em estruturas de mercado ou de incentivos - disse o delegado. Igualmente importante é a mudança necessária nos nossos corações e mentes, bem como em nossos atos subsequentes".


Fonte: http://www.zenit.org/article-27464?l=portuguese

9 de março de 2011

Bento XVI: Respeitar a natureza implica reconhecer condição de criatura

Por Alexandre Ribeiro

O Papa enviou uma mensagem à Igreja no Brasil nesta Quarta-Feira de Cinzas, quando inicia no país a tradicional Campanha da Fraternidade, que todo ano visa a despertar a solidariedade dos católicos e da sociedade em relação a um problema concreto. Este ano discute-se durante a Quaresma o tema “Fraternidade e vida no Planeta”.

Na mensagem enviada ao presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Geraldo Lyrio Rocha, Bento XVI expressou sua “viva satisfação” em se unir “uma vez mais, a toda Igreja no Brasil que se propõe percorrer o itinerário penitencial da quaresma, pedindo a mudança de mentalidade e atitudes para a salvaguarda da criação”.

Citando o lema da Campanha – "A criação geme em dores de parto" – o Papa afirmou que se pode “incluir entre os motivos de tais gemidos o dano provocado na criação pelo egoísmo humano. Contudo" – prosseguiu o pontífice –, "é igualmente verdadeiro que a ‘criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus. Assim como o pecado destrói a criação, esta é também restaurada quando se fazem presentes ‘os filhos de Deus’, cuidando do mundo para que Deus seja tudo em todos”.

Bento XVI indicou que o primeiro passo para “uma reta relação com o mundo que nos circunda é justamente o reconhecimento, da parte do homem, da sua condição de criatura. O homem não é Deus, mas a Sua imagem; por isso, ele deve procurar tornar-se mais sensível à presença de Deus naquilo que está ao seu redor: em todas as criaturas e, especialmente, na pessoa humana há uma certa epifania de Deus. O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e àquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela criação”, afirma o Papa.

Segundo Bento XVI, a primeira ecologia a ser defendida é a "ecologia humana". Também explicou que nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio ambiente “sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher”. Como também, “sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, neste contexto, daqueles que perderam tudo, vítimas de desastres naturais”.

De acordo com o Papa, o dever de cuidar do meio-ambiente “é um imperativo que nasce da consciência de que Deus confia a Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai, e uma grande herança” confiada por Deus.


CF 2011: Creio em Deus, Pai Criador

Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo



A Campanha da Fraternidade de 2011 (CF-2011) propõe uma questão de evidente atualidade: fraternidade e a vida no nosso Planeta. Nem é preciso argumentar muito para justificar a escolha desse tema pela CNBB: já faz tempo que estudiosos estão alertando para o fenômeno do aquecimento global e suas consequências para o clima e para o equilíbrio ecológico.

As conferências mundiais sobre o clima, que congregam as maiores autoridades científicas da área, deixam sempre mais evidente que o sistema produtivo da economia moderna e contemporânea desencadeia intervenções inadequadas do homem na natureza e se constitui numa ameaça real para o equilíbrio ecológico e até mesmo para o futuro da vida na terra. Em contraste com tais constatações, nas mesmas movimentadas conferências sobre o clima, as principais autoridades políticas e econômicas do planeta não conseguem chegar a um acordo sobre as medidas a serem adotadas para sanar o problema e prevenir os riscos.

É difícil redimensionar o desenvolvimento econômico, quando a receita é renunciar a certo padrão de consumo dos recursos naturais, que equivale à depredação e depauperamento da natureza. Exigimos da natureza mais do que ela pode oferecer, sem comprometer a sua sustentabilidade.

A CF-2011 convida a encarar seriamente a responsabilidade humana em relação ao futuro da vida no planeta Terra, o “ninho da vida” no universo, a casa comum da grande e diversificada família humana. O Texto Base, que apresenta a proposta da CF, traz argumentos e reflexões sobre o fenômeno do aquecimento global e os motivos que deveriam levar todos a pensar sobre o que é possível fazer e o que não se deveria fazer, para evitar a deterioração do ambiente da vida na Terra.

Argumentos bíblicos e teológicos deveriam motivar os cristãos e todos os crentes em Deus a uma verdadeira conversão nos modos de viver e de se relacionar com a natureza, quando ficam comprometidas a qualidade da vida e a fraternidade na família humana. Todos são convidados a se envolverem na CF-2011.

Destaco dois motivos de fundo religioso, que deveriam ser levados em conta por todas as pessoas de fé no tocante à questão ecológica. Primeiramente, tratar bem a natureza e cuidar do pedaço do planeta que ocupamos está implicado na nossa fé no Deus Criador. Professamos a fé no Deus, Criador do Céu e da Terra, não importa como, ou quando isso aconteceu. A ciência pode continuar a pesquisar sobre a origem do universo e da vida na Terra e isso não contradiz a nossa fé no Deus Criador. O certo é que não fomos nós que demos origem a toda essa beleza e grandiosidade. Dizer que tudo isso surgiu por si mesmo é um grande absurdo.

Mas também aprendemos da nossa fé que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, confiando-lhe o cuidado do “jardim da vida”. Embora pequeninos entre as criaturas do grande universo, somos importantes e Deus nos trata com predileção especial. O poeta do Salmo tem consciência disso, quando exclama, admirando o céu numa noite estrelada: “Que é o homem, Senhor, para que dele te ocupes?! No entanto, Tu o fizeste pouco menor que um deus... Tu o colocaste à frente da obra de tuas mãos!” (cf Sl 8). Sim, Deus colocou o mundo à disposição do homem; não para que acabe com ele, e sim, para que dele viva e usufrua, mas também para que zele por ele, qual bom administrador.

Cuidar bem da natureza é sinal de fé e de gratidão para com o Deus Criador. Avançar sobre a natureza com a vontade de possuir e dominar é cair novamente na tentação de “ser deuses”, como Adão e Eva no paraíso (cf Gn 3). Quando o homem resolve assumir o lugar de Deus, desprezando seu desígnio, a desordem e o caos entram no mundo, com seus frutos de injustiça, violência e morte.

O outro motivo, relacionado com o primeiro, é de fundo ético e moral: cuidar bem da Terra, nossa casa comum, é questão de responsabilidade e solidariedade. Os bens da criação foram colocados por Deus à disposição de todas as suas criaturas; descuidar da natureza, ou estragá-la, é falta de respeito e de justiça para com o próximo e para com as futuras gerações.

Não somos os únicos a ocupar esta casa, nem seremos os últimos; e é moralmente correto pensar nos outros, quando nos relacionamos com a natureza. Não ficará bem deixar atrás de nós um paraíso depredado, o mundo cheio de lixo, as terras desertificadas, as águas contaminadas, o ar irrespirável, o equilíbrio ecológico comprometido... A CF-2011 é um convite a refletir, para formar uma consciência comum sobre nossa responsabilidade e para tomar decisões eficazes sobre os cuidados que a Terra merece. É nossa casa comum. E ainda será a casa dos que viverão depois de nós.




E dez anos depois, nada mudou... (16.12.2021).