O jornal "O Testemunho de Fé" da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro traz na edição desta semana um pequeno artigo sobre os valores socioambientais presentes na encíclica Laudato Si descritos pelo Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ.
Boa leitura...
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Numa leitura mais minuciosa da nova Encíclica do Papa Francisco, vamos encontrar muitos valores ético-religiosos, explicitados dentro de uma visão sistêmica da realidade social e ambiental, sobretudo de todos nós que habitamos planetariamente nesta casa comum. Dentre os inúmeros valores, destacamos apenas sete, pois acreditamos que os mesmos têm uma força mais significativa no atual contexto socioambiental em que vivemos, contribuindo para a nossa reflexão, e motivando-nos a mudar o nosso modo de ser e proceder diante dos desafios de nosso tempo.
O primeiro valor consiste na importância de uma visão mais integrada do mundo, chamada no documento de ecologia integral, superando as fragmentações dos saberes e das práticas. Esta visão supõe hoje, segundo o Papa, “que a análise dos problemas ambientais é inseparável das análises dos contextos humanos; quando falamos de meio ambiente, falamos da relação entre natureza e a sociedade que a habita”. Desta forma, existe uma integração entre Deus, o ser humano e a natureza.
O segundo valor está relacionado à sensibilidade que devemos ter com a vulnerabilidade e a fragilidade existente na sociedade e na natureza. Isto significa ser sensível aos pobres, ser sensível às centenas de seres vivos vulneráveis que vão se extinguindo do planeta Terra. Segundo o pontífice, “a deterioração do meio ambiente e da sociedade, afeta de modo especial os mais frágeis do planeta”.
O terceiro valor diz respeito à necessária busca de um estilo de vida menos consumista e planetariamente mais responsável. Neste sentido, o Papa critica a racionalidade econômica e o fascínio pelo consumo exagerado, que vem esgotando os recursos da terra, fazendo dela um grande lixo. O Papa Francisco afirma: “É insustentável o comportamento daqueles que consomem e destroem cada vez mais, enquanto outros ainda não podem viver de acordo com a sua dignidade humana”. “É possível viver com menos, necessitar de pouco, viver muito e ser mais feliz”.
O quarto valor consiste em equilibrar as diferentes racionalidades da vida humana. O fascínio e a dependência da produção técnica vêm impedindo o ser humano de viver outros valores, como a música, a poesia, a arte, o contato com a natureza, etc. Segundo ele, “a felicidade exige saber limitar algumas necessidades que nos entorpecem, permanecendo assim disponíveis para as outras múltiplas oportunidades que a vida nos oferece”.
O quinto valor se reporta às hermenêuticas, ou seja, às interpretações religiosas que, a princípio, deveriam ser menos antropocêntricas e mais teocêntricas. O Papa Francisco nos alerta: “A humanidade e toda a criação vêm sendo destruídas por termos pretendido ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas”. Segundo ele, “se é verdade que nós cristãos algumas vezes interpretamos de forma incorreta as Escrituras, hoje devemos rejeitar que, o fato de ser criado à imagem de Deus e o mandato de dominar a terra, se deduza um domínio absoluto sobre todas as criaturas”.
O sexto valor é a educação ambiental, sendo necessária uma conversão ecológica, ou seja, uma reorientação da vida que leva a mudança de hábitos e costumes que hoje são insustentáveis. Testemunhar com gestos e pequenas ações ajuda a resgatar a dignidade da criação. O Papa cita alguns exemplos dessas pequenas ações, como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, reciclar o lixo, tratar com cuidado os outros seres vivos etc.
O sétimo e último valor está relacionado com a união e o consenso na proteção da casa comum. Independente de crenças, credos, raças e etnias, os limites planetários exigem neste momento uma união de forças, buscando consenso sobre aquilo que nos une na missão de guardiões da criação. Para o Papa Fran- cisco, “é indispensável um diálogo aberto e respeitoso entre as ciências, as religiões e os diferentes movimentos sociais. A gravidade da crise ecológica obriga-nos a pensar no bem comum”.
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