26 de outubro de 2010

A Igreja e seu compromisso com a sustentabilidade

Por Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ

Vivemos um momento histórico onde as questões ambientais aparecem, no cenário global e local, evidenciadas num clima de perplexidades e incertezas, e paradoxalmente, abrindo-se em busca de novos desafios que possam minimizar os impactos causados pelo modelo civilizatório.

Perplexidades e incertezas aparecem nas inseguranças em relação ao futuro do planeta Terra, castigado pelos desacertos entre a sustentabilidade ambiental e os modelos de desenvolvimento socioeconômico, que nos últimos séculos vêm construindo uma trajetória histórica antropologicamente ambiciosa e fascinante, ignorando, porém, os limites das condições climáticas, geológicas e biológicas.

As mudanças climáticas e os possíveis impactos sobre os ecossistemas e as sociedades humanas já não constituem um futurismo exagerado dos alarmistas e ambientalistas, mas, na verdade, aparecem como uma realidade concreta, fundamentada em dados científicos dos diversos campos dos saberes. As incertezas, dado o tamanho da problemática, rondam as mentes dos que estudam os efeitos catastróficos dos estragos que historicamente provocamos na natureza, desrespeitando as cadeias de interrelações ambientais, os seus limites e a sua destinação teológico-criacional.

No entanto, através da experiência dos limites planetários, a humanidade rapidamente se abre para os novos desafios, buscando soluções mitigadoras que possam contribuir para amenizar os efeitos dos estragos já provocados, evitando conseqüências maiores num futuro não muito distante. Estas soluções aparecem nas idéias, nos resgates dos valores e nas ações concretas, através de modelos e práticas sustentáveis em nível de governos, instituições e organizações da sociedade civil.

Neste contexto é que a Igreja Católica aparece como uma instituição milenar que tem nos últimos anos voltado a sua preocupação em relação ao meio ambiente e a sustentabilidade socioambiental. No plano das idéias e dos valores, a insistência tem sido bastante contundente, tanto em forma de crítica aos modelos sociais e ecologicamente insustentáveis, como também na afirmação de valores teológicos relacionados com a Criação e os desígnios do Criador. Em vários documentos escritos à sociedade mundial, aparece esta preocupação da Igreja em relação ao meio ambiente, a saber: Octogesima Adveniens (1971), Redemptor hominis (1979), Sollicitudo Rei Socialis (1987), Centesimus Annus (1991), entre outros.

Como o testemunho pode ser dado tanto através das idéias como também pelas práticas concretas, a Igreja Católica decidiu mostrar ações voltadas para a sustentabilidade, realizadas na cidade do Vaticano, o menor Estado do mundo. Na reportagem de René Capriles, editor da Revista ECO-21 (n.145, pp.14-18, 2008), o jornalista relata essas ações concretas da Igreja que, aproveitando a energia que vem do céu, o Vaticano instalou mais de dois mil painéis solares em seus diferentes edifícios. Com isso realizam-se dois objetivos fundamentais: o primeiro consiste em utilizar a energia solar para cobrir mais da metade da energia necessária para iluminação, ar condicionado e água quente nos diferentes edifícios da cidade do Vaticano.

O segundo, colocar em prática os apelos que o Papa Bento XVI tem feito sobre a urgência necessária em buscar as fontes alternativas de energia que são seguras e sustentáveis, minimizando os impactos do fenômeno Efeito Estufa. A propósito da temática, Capriles (2008) recorda, em sua reportagem, outras duas iniciativas do Vaticano, a saber: reduzir a circulação de carros, impondo um controle de acesso e estacionamento na área territorial do Vaticano e transformar em jardim algumas áreas de estacionamento.

Os fatos acima mencionados revelam a preocupação da Igreja Católica em dar um testemunho dos caminhos de sustentabilidades que devemos trilhar para preservar a obra do Criador e ajudar a Criação a suportar as dores e os gemidos das rupturas e dos desacertos da relação do homem com a natureza. Como muito bem lembrou o Papa Bento XVI: "A destruição do meio ambiente e o seu uso impróprio ou egoísta e a apropriação violenta dos recursos da terra geram conflitos porque são frutos de um conceito inumano de desenvolvimento".

Esse gesto concreto é um testemunho da Igreja Católica, mostrando a importância da busca permanente dos caminhos de sustentabilidades, unindo os produtos técnicos da racionalidade instrumental e científica, como é o caso das fontes alternativas de energias, com os valores éticos da racionalidade axiológica, onde as reflexões teológicas se encontram profundamente associadas com as questões sociais e ambientais.

A pequenez desse exemplo serve de paradigma para todos nós que temos a missão em buscar novas soluções de minimizar os impactos que provocamos e, a partir da ética, repensar as nossas posturas e opções individuais e coletivas. Acreditar nas soluções pequenas é apostar na pequenez da semente do grão de mostarda, como nos lembrou Jesus Cristo.

A pequena e frágil semente conserva uma potencialidade capaz de gerar no futuro uma árvore de sustentabilidade forte e vigorosa, abrigando em seus ramos os valores humanísticos que estão presentes no coração das pessoas que desejam preservar a diversidade de formas de vidas existentes na natureza.


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